Quase... pais?

820 126 293
                                    

— Um filhote... não. Não... Caralho... Não. Já pensou? Será...? Não, claro que não. Sem chances, não é? — Kiba ia resmungando de si para si, sentando no banco do carona enquanto Shino dirigia de volta para o apartamento.

A reunião com Anko-sensei terminou logo depois da inusitada revelação sobre as desconfianças da mulher. Ela viu nitidamente como o casal ficou impactado, tornou-se óbvio que a possibilidade de ter filhos nem passou pela mente daqueles dois. Então pediu desculpas por ter se precipitado nas conclusões e ofereceu um cartão, com o contato de uma renomada médica que poderia ajudá-los.

Anko explicou que os exames pré-nupciais eram uma garantia a mais contra possíveis doenças. Eliminando esse risco, precisavam levar em consideração os fatores em evidência: eram um casal saudável, jovem e propício para conceber filhotes, a não ser que usassem algum tipo de contraceptivo. Logo, o mais sensato, era encaminhar o caso a algum profissional da Obstetrícia.

E ali estavam os dois, voltando para casa, com Shino dirigindo muito compenetrado e Kiba virando o cartão de contato de um lado para o outro. "Tsunade" era o nome da médica, e uma das mais conhecidas, pois exerceu o cargo de Hokage, líder máximo de Konoha, durante alguns anos. Todos na vila a conheciam, sabiam que ela abandonou o posto burocrático para voltar a exercer a medicina.

— Ei, Shino! — Kiba exclamou. — Uma farmácia! Pare ali.

— Está se sentindo mal? — O Alpha perguntou distraído.

— Não. Mas eles vendem aqueles testes de gravidez, não? A gente podia comprar e tentar em casa... — Insinuou como quem não quer nada.

Shino acenou de leve com a cabeça. Era uma boa ideia.

E foi assim que se viram comprando uma caixinha simples e barata, que continha algo que poderia mudar a vida deles para sempre...

---

Aburame Shino não conseguia se lembrar da última vez em que se sentiu tão ansioso. Nem mesmo ao receber uma cadeira na faculdade e enfrentar o primeiro dia na docência do Ensino Superior. Ali, sentado na cozinha do apartamento em que cresceu e viveu todos os trinta e oito anos de sua existência, sentia o coração aos saltos.

Desde que Kiba entrou em seu caminho não podia reclamar de tédio ou previsibilidade excessiva. Era surpresa atrás de surpresa. Embora, naquele caso, ele precisasse assumir setenta por cento (ou mais) da responsabilidade; pois, como a enfermeira bem evidenciou: eram um casal cumprindo todas as prerrogativas de um casal qualquer. E, mesmo assim, a possibilidade de ter um filho sequer passou por sua mente.

Aproveitou que Kiba estava enfiado no banheiro com o bendito teste e ligou para o consultório de Tsunade. Foi atendido pela secretária, que informou que todos os horários para as próximas semanas estavam preenchidos, mas que poderia recomendar outro nome, caso fosse urgente. Shino explicou que não era exatamente urgente, dando poucos detalhes e foi o suficiente para despertar o interesse da funcionária. Ela sabia do fascínio de Tsunade por gestação de Ômegas macho, principalmente quando fora dos padrões, por isso disse que encaixaria o nome do casal em um horário no dia seguinte, entre as 18h e as 19h. Conseguir isso já tirou um pouco da tensão que Shino sentia.

Em seguida pesquisou brevemente no smartphone, buscando na internet os sintomas de uma gestão. Descobriu vários, nenhum deles apresentado por Kiba, a não ser aqueles dois desmaios, ocorrência normal em virtude da mudança hormonal e aumento inesperado no fluxo de sangue, arranjos iniciais que o corpo fazia para se adaptar a nova condição: uma nova vida sendo gerada.

Shino ficou impactado.

Por fim permaneceu em reflexão, recebendo uma miríade de sensações através do vínculo, de nervosismo a ansiedade, de preocupação a irritação, resquícios de medo e certa euforia, por fim, conformismo e apreensão.

Raison d'être (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora