Dois (e dois) Amigos

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Kiba acordou no domingo com uma sensação boa. Depois da madrugada de sábado e do dia péssimo que passou no hospital, conseguir dormir tranquilo fez maravilhas no corpo cansado. Ele espreguiçou-se e sentiu o agradável cheiro de café da manhã, um incentivo extra para que se sentasse na cama, alcançasse o celular e levasse um pequeno susto ao ver que era quase onze horas da manhã!

Dormiu tão profundamente que perdeu a hora. Reuniu coragem para uma nova espreguiçada e saltou do colchão, juntou uma troca de roupa e foi para o banheiro se ajeitar, momento que aproveitou para trocar o curativo. A Marca não doía mais, embora estivesse longe de se curar, enquanto não terminassem o rito de compromisso a ferida não cicatrizaria, continuaria sangrando ocasionalmente.

Depois disso encontrou Shino na cozinha.

— Bom dia — Cumprimentou sentando-se a mesa. — Precisa de ajuda?

— Bom dia. Não, já estou terminando. — Shino respondeu enquanto fatiava alguns pedaços de salmão, cortando-o em filés.

A precisão no manejo da lamina impressionou Kiba, a delicadeza e cuidado de movimentos ao dividir o peixe mostrava quão exímio cozinheiro o Alpha era. Perdeu alguns segundos admirando o trabalho alheio, antes de levantar-se e ir pegar os utensílios para arrumar a mesa, fuçando nos armários e gavetas. Terminou quase ao mesmo tempo em que Shino, que se pôs a organizar a comida para se servirem: arroz branco cozido, pepino em fatias, salada de alface roxa rasgada, filé de salmão e molho shoyo. Kiba salivou só de olhar.

— Obrigado pela comida! — Agradeceu antes de se servir.

— Obrigado pela comida.

— Cara, você cozinha que é um caralho!

— Isso é bom...? — Shino notou que seu companheiro não tinha preocupação nenhuma de engolir antes de falar.

— Com certeza que é! Eu não sei cozinhar direito e olha que eu já tentei. Então minha mãe me faz lavar os pratos. — Suspirou depois de devorar um bocado de arroz. — Ne, porque você usa sempre esses óculos de sol? Tem algum problema de visão?

Shino ergueu as sobrancelhas, até que a pergunta demorou para ser feita.

— Não. Eu tenho Transtorno Obsessivo Compulsivo. Para mim é muito difícil tirar os óculos sem ter pensamentos repetitivos sobre a morte do meu pai.

— Caralho! Deve ser meio foda de pesado, né? Por isso a sua casa é tão limpa? Nem a minha casa brilha tanto e olha que minha mãe tem uma preocupação enorme com isso.

— Não exatamente. — Shino respondeu. — Tenho uma diarista que limpa três vezes na semana, mas eu trabalho o dia todo, praticamente só venho pra casa para dormir, a limpeza é uma consequência.

Kiba pegou um pedaço de salmão e mergulhou algumas vezes no molho shoyo.

— Vou tentar não bagunçar muito, é mais forte do que eu, sabe? A desorganização. Quase perdi as duas orelhas de tanto que minha mãe já puxou, mas meu quarto é uma zona de guerra.

— Não me importo. — Shino serviu-se de mais arroz, para a própria surpresa, não era de repetir refeições, todavia o Ômega comia com tamanho prazer que era um tanto contagiante.

Foi sincero ao dizer que desorganização não o incomodava. Nunca foi fanático por limpeza, e, obviamente, a diarista ajudaria a manter o apartamento habitável. Só precisava de um cômodo impecável: seu escritório, pois sabia onde estava cada documento, cada artigo e cada livro, nesse caso organização ajudava a manter o foco e tornava o trabalho mais eficaz.

— Tem planos pra hoje? — Kiba perguntou terminando de comer. Havia um grãozinho de arroz preso na bochecha, uma prova irrefutável que era estabanado até para comer.

Raison d'être (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora