O discurso da mãe

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Educar Inuzuka Kiba se mostrou uma das missões mais complicadas que Tsume enfrentou. Sua filha mais velha, Hana, cresceu doce e calma, uma Beta tranquila e amorosa que não deu nenhum trabalho de comportamento, nunca teve fase rebelde durante a adolescência, tornando-se uma jovem adulta responsável e confiável. O total oposto de Kiba.

Prova maior do fato era a reunião que faziam naquele instante, os quatro na sala da casa Inuzuka: Tsume, Hana, Kiba e Aburame Shino, chegados logo após a dispensa do hospital. Shizune-sensei trocou de turno, deixando orientações claras sobre como a equipe deveria proceder, uma bateria de exames completa tanto para Shino quanto para Kiba, verificando a condição de saúde de ambos em caráter de urgência e a alta médica tão logo o Ômega almoçasse. Como o único agravo de Kiba era o ferimento no pescoço e já se sabia a solução para o problema, não havia justificativa continuar com a internação.

Na saída se encontraram com Naruto e Kankuro, que ainda esperavam. Houve uma breve troca de palavras, seguida de uma despedida, Naruto queria muito conversar com calma com o melhor amigo, mas as circunstâncias não ajudaram, os peraltas se conformaram em tentar conversar via celular mais tarde. Shino agradeceu Kankuro pelo apoio, ambos sabendo que o agradecimento também pontuava a desistência do outro Alpha em prestar queixa.

Kankuro não morava em Konoha, seria uma perturbação dar continuidade a um processo, era parente da autoridade mais alta em seu país, envolver polícia naquela situação atrairia uma atenção que preferia evitar. Além disso, estava claro que Shino sofria influência do vínculo, de um jeito positivo. Não via vantagens em denunciar o garoto apenas para castigá–lo ainda mais. A dolorosa lição foi muito bem aprendida.

Por fim, foram para a casa de Kiba, discutir o que aconteceria dali para frente e eram todas as reflexões que permeavam a mente de Tsume, sentada na humildade da sala de estar, ladeada por Hana e de frente para Shino e Kiba acomodados no outro sofá, tendo acabado de ouvir falar que seu filhote pretendia ir para o apartamento do Alpha que conhecia a menos de um dia para consumar... Consumar... Consumar...

— Kiba... — Ela tentou soar neutra, ainda que uma veiazinha de irritação saltasse em sua testa. — Tem ideia de como isso é temeroso?

Quando, em seus piores pesadelos de mãe, imaginaria que um dia estaria a discutir a primeira experiência sexual do caçula (ela acreditava que fosse a primeira) com um Alpha que o marcou sem prévio conhecimento ou autorização? Se a próxima estripulia de Kiba fosse pior, o coração de Tsume não aguentaria o baque.

— Parece, mas não é, mamãe — Kiba coçou a nuca, sem jeito. — O vínculo...

— Dane-se o vínculo, moleque! Eu não tenho vínculo nenhum com esse homem, pra mim não é fácil autorizar meu filho a ir para o apartamento dele terminar essa maldita história! Kiba, minha vontade é te grudar pela goela e sacudir até o juízo entrar nessa cabeça oca, mas se eu te bater agora não sei se consigo parar antes de fazer um estrago maior do que a mordida na sua garganta!

— ... Pescoço. — O Ômega corrigiu com timidez.

Antes que o gesto atrevido fizesse Tsume explodir de vez, Hana colocou a mão sobre o braço da mãe, tentando acalmá–la. Kiba carecia de filtros na boca e perdia ótimas oportunidades de ficar calado, todavia amava seu irmãozinho e não queria vê-lo sendo castigado.

— Vou fazer um pouco de chá. — A jovem Beta ofereceu com um sorriso simpático.

Tsume assentiu, compreendendo o gesto solidário, foi uma quebra na tensão que impregnava a sala. Ah, seria pedir demais que Kiba tivesse aquela sensibilidade? Ele era um Ômega, pelos céus! O pensamento a fez olhar para o próprio filho, aquela praguinha nunca teria o nível de Hana de percepção, ou a delicadeza da jovem Beta.

Raison d'être (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora