Um lugar chamado "nosso lar"

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A adaptação do casal foi tão natural e fluída que Shino e Kiba pareciam ter construído a relação no decorrer de anos.

Kiba apropriou-se da nova morada de um jeito irrestrito. Shino chegou a temer que a mudança em caráter definitivo pudesse afetar o garoto de alguma forma, mas isso não aconteceu. Ele sabia que em parte era graças ao vínculo, que propagava aquela sensação de pertencimento, de estar no lugar certo... E em partes era pela personalidade exótica e cheia de si, de quem acredita estar escolhendo o certo e age como tal.

Esse jeito facilitou a transição não apenas na rotina, mas na convivência diária. Logo Kiba se comportava como o segundo dono daquele apartamento; decidindo inclusive, que o lar precisava de algumas cores, por isso saíram para umas comprinhas no primeiro final de semana. Ao voltar para casa traziam algumas almofadas e cortinas estampadas para trocar nos cômodos.

Shino nunca se preocupou com esses detalhes, admitindo que o resultado final foi bem agradável. As almofadas quebravam a sobriedade da sala, sem tirar a elegância do designer clean e dos móveis de qualidade. E as cortinas deram um toque de animação onde antes era tudo cinza. Porta-retratos distribuídos pela casa trouxeram um calor inimaginável.

Kiba aprendeu rápido os detalhes dos rituais de Shino. O Alpha seguia uma rotina bem arraigada de pequenos hábitos, impostos pelo Transtorno Obsessivo Compulsivo, e descobriu que era simples respeitá-los. Assim como descobriu que a personalidade do companheiro era naturalmente calma e racional.

Shino sempre pensava muito antes de alguma coisa, não agia por impulso, nem por capricho. Também tinha um jeito direto de responder e agir, que acabava pegando certeiro em Kiba e o deixando sem ter como continuar com dramas exorbitantes.

Porque Kiba era dramático. E como era. Shino logo percebeu que o Ômega deslizava fácil para exageros. Assim como tendia para queixas mal-humoradas quando algo não saia de acordo com os planos ou não atendia as expectativas do garoto. Era tão intenso nas reações que intrigava Shino.

Como alguém podia ser um vulcão de emoções?!

Enquanto a parte humana se adaptava a convivência, a parte shifter ajudava de um jeito sem medida, consequência do efeito do reconhecimento que se fortalecia justamente nessas diferenças. Onde o Alpha era calmaria, o Ômega era tempestade; união que trazia o tempo perfeito: nada de estagnação, assim como nada de precipitação.

À rotina diária somaram-se consultas psicológicas. À princípio em atendimentos individuais, dada a natureza da necessidade não ser um problema conjugal. Naquele primeiro instante foram orientados a fazer terapia com profissionais diferentes. Mais para frente se fosse o caso, recorreriam às sessões de casais.

Para Kiba, que começou o processo cheio de desconfianças e barreiras, acabou se tornando um espaço de autoconhecimento e maturidade. Ele se ouviu falando dos próprios erros, do arrependimento quase cáustico, da Marca inesperada, de como nunca sentiu medo do companheiro, mesmo tendo o conhecido em um momento de agressão.

Falou sobre as consequências, sobre testemunhar o preconceito contra alguém inocente apenas por ter nascido com determinadas características, sobre a raiva que transbordava quando o Alpha aceitava acusações veladas sem se defender ou sem atribuir a culpa ao verdadeiro causador da situação.

O Ômega tirava essas confissões do peito e as jogava no ar, deitado no tentador divã do consultório (algo que sempre viu em filmes e achou muito chique, obrigado), aliviado porque quem o ouvia era um Beta profissional e acolhedor, que ajudava na ressignificação do passado que ainda se fazia presente na vida de Kiba, de um jeito tão competente que ele se sentia livre para falar e falar, aproveitando muito bem aqueles cinquenta minutos de cada sessão semanal. Estaria Shino fazendo tão excelente uso também...?

Raison d'être (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora