A Suspeita

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O mal estar teve efeito breve. Naruto acomodou Kiba sobre o sofá e estava tentando decidir se ligava primeiro para Tsume ou para Shino quando o Ômega remexeu-se, dando sinal de que voltava a si.

— Oe, Kiba! O que aconteceu, cara? — Perguntou abaixando-se próximo a ele.

— Não sei. — Ele respondeu colocando um dos braços sobre os olhos. — Tudo escureceu, acho que foi queda de pressão.

Naruto espiou a face pálida por alguns segundos.

— Ainda tá se sentindo mal? Quer que eu ligue pra alguém?

— Não precisa, tô bem.

— Tem algo a ver com a marca? Não entendo essas coisas de Alpha e Ômega... — Naruto estava preocupado de verdade. Considerava Kiba como um irmão e um grande amigo. Ele era Beta e parte responsável em colocá-los em inúmeras confusões. Ainda não conseguia esquecer que o plano de invadir o banheiro público tinha saído da sua mente. Tudo terminou muito bem, felizmente. Mas se sentia culpado pela parte feia que presenciou até chegarem àquele ponto.

Kiba escutou a pergunta e moveu o braço até tocar na cicatriz que marcava seu pescoço: a circunferência perfeita da mordida de um Alpha, totalmente curada, apenas um sinal que indicava o compromisso entre dois integrantes das castas complementares, resquício de uma herança animalesca que determinava posse, algo que não se orgulhavam em tempos modernos embora não pudessem abdicar de cumprir tal imposição da Mãe Natureza.

Foi impossível para o Ômega não sorrir. Desde que a situação entre Shino e ele começou a se tornar mais clara, a Marca se estabilizou. As aflições e inquietações amainaram até desaparecer, sua parte animal entrou em consonância com a racional e isso refletiu na bendita mordida. A Marca já não incomodava, pelo contrário, era um trunfo a mais em situações específicas...

Como não se lembrar das noites de sexo, quando o menor toque naquela área despertava reações intensas em seu corpo? Shino sabia bem disso e se aproveitava sem piedade... Fosse com lambidas ousadas ou mordiscos sensuais, cada mínima caricia transformava o sangue de Kiba em fogo líquido que...

— Oe, tá passando mal de novo? Seu rosto ficou vermelho! — A voz preocupada de Naruto trouxe Kiba de volta a realidade.

— N-não! — Ele respondeu depressa demais. — Não sinto nada de ruim!

O Beta estreitou os olhos com desconfiança, mas antes que dissesse qualquer coisa ouviram o celular de Kiba tocar. A música de um popular videogame soou pela sala e Naruto esticou-se para alcançar o telefone sobre a mesinha de centro. Girou os olhos com enfado ao reconhecer o nome do contato. "Mozão".

— Alô! — Kiba atendeu ignorando o sorriso de deboche de Naruto. — Não, tá tudo bem aqui, marido! Eu só... Naruto!

Rosnou a última parte para o amigo que se jogou no chão e rolou de rir ao ouvir o "marido". Assim como da primeira vez que presenciou o apelido carinhoso, não sabia lidar! Nunca ia imaginar que seu irmão do coração era dado a essas melosidades, ainda que de um jeito não tão romântico.

— Desculpa, continua falando com o Marido. — O Beta pediu nem um pouco arrependido.

Kiba virou-lhe as costas e passou a falar no telefone voltado para o encosto, tentando ignorar (com dificuldade) a risada irritante do outro jovem. Explicou que tinha se sentido um pouco mal, mas já estava melhor e que Shino nem devia ter se dado ao trabalho de ligar. Que voltaria a jogar videogame, comer petiscos e tomar uma cerveji... digo, voltaria à diversão das manhãs de sábado.

Ao desligar, ajeitou a posição e jogou o celular certeiro contra a cabeça do Beta. O aparelho ia quicar e cair no carpete, não tinha o menor perigo de estragar. E serviu para cortar a crise de riso alheia.

Raison d'être (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora