Precisamos falar sobre sexo

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A notícia trouxe um estado de ânimo intratável a Kiba. Ele tornou-se um poço de expectativas e isso refletiu em suas ações pelo resto do dia. Almoçou e repetiu duas vezes, porque quando ficava nervoso o apetite que já era naturalmente voraz, dobrava. Ao voltar para o apartamento, tentou se distrair com a televisão, mas não conseguiu.

Tanta ansiedade tornava o lado Alpha de Shino inquieto. Ele logo se viu desistindo de revisar alguns trabalhos de seus alunos, pois apesar de estar sozinho no escritório, o incômodo que Kiba sentia o alcançava através do vínculo. Ainda que não fossem companheiros por vontade própria, tal fato era ignorado pela premissa shifter. O Alpha reconhecia o Ômega como companheiro e desejava acalentá-lo. Saiu do escritório pouco tempo após sentar-se à escrivaninha e foi para a sala ver o que podia fazer.

— Tudo bem aí? — Perguntou ao acomodar-se na poltrona, ao lado de Kiba, que desviou os olhos da televisão e sorriu.

— Sim, só to meio ansioso com esses resultados.

— Não precisa se preocupar, não acredito que tenhamos alguma doença contagiosa.

Kiba deu uma risadinha:

— Disso eu tenho certeza! Mas... — Calou-se sem saber como continuar. O Alpha analisou o companheiro por alguns segundos.

— Compreendo.

O silêncio pairou no ar e foi um tanto sufocante. Shino podia perceber claramente como o garoto estava desconfortável, mas ele não era um excelente professor à toa. Sabia muito bem que pressionar não levava a lugar algum. Deduzia fácil a preocupação que ia pela mente alheia.

Além disso, nos pouquíssimos dias de convivência já conseguia criar um rascunho daquela personalidade tão peculiar. Não demoraria muito para Kiba compartilhar o que o preocupava. E não demorou. Nem mesmo um minuto.

— Compreendeu? Então isso agiliza as coisas. A gente pega o resultado e resolve tudo de uma vez. Eu sei que você quer seguir com a vida logo, então amanhã... A gente... Vamos esperar ao menos pela noite, pode ser? E eu prefiro a luz apagada...

— Calma! — Shino resolveu cortar o discurso confuso. Pressionar era contraproducente, embora não esclarecer tudo fosse mil vezes pior. E cruel. — Você está falando sobre o sexo?

Kiba levantou-se da poltrona e começou a andar de um lado para o outro.

— Sim, porra. Eu sei que fazer sexo é fácil e natural. Tem vários colegas meus que já fizeram. — Ele explodiu o que de fato incomodava. — E adultos devem fazer isso com mais facilidade ainda. Mas... Sei lá. Eu pensava assim até a médica dizer que os resultados estão prontos. Caralho.

O Alpha respirou fundo. Imaginou que mais cedo ou mais tarde teria que lidar com esses fantasmas. Não pediu para estar em tal situação, e por mais que as consequências fossem culpa de seu lado animal, não iria simplesmente fugir, ludibriar ou forçar algo.

— Sexo não se torna mais fácil só porque as pessoas ficam adultas. — Tal frase fez Kiba parar no lugar e lançar um olhar desconfiado para o outro.

— Não? E o lance da maturidade? Não ajuda?

— Ajuda, claro. Maturidade ajuda as pessoas a analisar e a refletir melhor nas situações, inclusive no sexo. Mas ter intimidade com outra pessoa é complexo. Não deve ser resumido a apenas um ou dois fatores. E a nossa relação é complicada: tudo é novo, nada foi pedido. Nem construído com o passar do tempo.

O pequeno discurso que tinha a intenção de acalmar o garoto, só o tornou mais desconfiado.

— Então vai ser difícil pra você? — A pergunta colocou Shino na defensiva. De algum modo soou como uma acusação! Ele pensou na resposta em silêncio e decidiu que a verdade era a melhor opção.

Raison d'être (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora