Tempo de se aproximar

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Shizune não demorou muito para regressar ao quarto, a médica estava preocupada com a situação do Ômega, apesar dele ter cometido uma imprudência, era desesperador assistir o sofrimento juvenil sem poder fazer nada.

— Entrei em contato com alguns especialistas em medicina Ômega e tive respaldo para um paliativo. — Foi explicando para Tsume. Podia ver que Kiba estava acordado, ainda segurando a mão da mãe, enquanto o outro braço escondia os olhos em busca de alguma privacidade, ele chorava de dor.

— Obrigada. — Tsume agradeceu com sinceridade.

— Não sei se a solução irá agradá-los. — Shizune parou perto da dupla, enfiando as mãos no bolso do avental. — Não posso ministrar outra dose de analgésicos sob risco de efeitos colaterais, não conseguimos mais atenuar a dor, e eu não darei alta enquanto não tirá-lo desse quadro de neuralgia. A temperatura corporal continua instável, mas é resultado da dor.

— Qual seria esse "paliativo"? — A pergunta veio resignada, o coração de mãe se preparava para outro golpe.

— Os especialistas recomendam a presença do Alpha, isso pode atenuar o quadro negativo... — Shizune usou um tom neutro para transmitir a informação.

Tsume trincou os dentes, era de longe a pior sugestão que poderiam querer. Olhou brevemente para o filho, cada vez que Kiba expirava, um gemido escapava com o ar. Volta e meia a mão gelada dava-lhe um apertão quase desesperado, a aflição que o acometia era impiedosa, então lembrou-se do homem que esperava no hall de entrada, junto com Naruto, Hana e outro Alpha. Poderia pedir isso a ele? Mas que solução teria? Manter Kiba naquela corda-bamba até quando?

— Aburame Shino não vai conseguir sair daqui. — Shizune lembrou — O vínculo não vai permitir, é um encontro delicado, que pode ser benéfico para os dois. Vou falar com ele e mediar essa situação, caso me permita.

A decisão veio rápida, Tsume não tinha mais estrutura para observar inerte seu menino sofrer.

— Por favor. — Concordou. — Traga-o aqui.

Shizune ficou aliviada, era a frase que queria ouvir.

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Aburame Shino nunca se notou com uma sensação de culpa tão pesada até então. Racionalmente ele sabia que não tinha responsabilidade no que aconteceu, mas era um homem que sempre teve orgulho de manter a parte animal com um controle infalível. E... De repente... Atacava um jovem Ômega.

Mal se lembrava da cena na casa de banhos, em um momento estava relaxando na sauna, esperando o remédio inibidor começar a fazer efeito. Sabia que seu Heat estava próximo e preferia sempre se prevenir a remediar algum mal. A cada seis meses ia para o banho Alpha, onde a presença de outros da casta evitava o instinto de aflorar.

E no momento seguinte, o aroma. Um cheiro espetacular e irresistível de morangos, sua fruta preferida, o perfume insinuou-se pelo ar como um convite irrecusável que acelerou o processo de Heat e fez a parte animal tomar todo o controle de seu corpo.

Lutou. Lutou o quanto deu. E perdeu uma das lutas mais importantes de sua vida. Quando deu por si, Shino estava cravando os dentes no pescoço de um garoto. Havia dois Alphas tentando separá-lo do Ômega, assim como um Beta, o quadro foi feio, a cena... Medonha. Algo de pesadelo que o assombraria por muito tempo.

Ainda levava consigo a sensação de ter o corpo quente do garoto entre seus braços, o gosto do sangue alheio em seus lábios... O quase êxtase por provar do enlace sobrenatural, o vazio quando foram afastados. E as consequências de tudo isso.

Shino não tinha muitas opções além de ficar naquela sala de espera, não apenas a consciência ordenava que estivesse ali, como o vínculo incompleto que firmou com o desconhecido. Simplesmente não conseguia sequer pensar em ir embora, pois o lado Alpha reagia dissonante, causando um dilema interno.

Raison d'être (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora