"Jack"
Estou dentro do carro, com minha familia, todos parecem felizes, sorrindo como se estivessem em algum comercial de pasta de dente, só porque vamos nos mudar. Eu também sorrio, não por ter vontade, afinal nunca tive, mas porque essa é minha vida, tendo que disfarçar sorrisos e fingir que está tudo bem, quando, na a verdade, está tudo uma merda.
- Chegamos!- Minha tia fala, parando o carro e acordando o vagabundo do marido dela, Arnold, o cara tem tanta preguiça, que nem consegue abrir os olhos. E ele também não curte banho. Aqui dentro parece que morreu um animal.
- Graças a Deus! Não aguentava mais.- Ele diz, ainda de olhos fechados, deixando seu bafo preencher todo o carro.
- O que não aguentava? Ficar perto da sua esposa? Da sua familia?- Minha tia retruca, ela já aumentou o tom da voz. Mal chegamos na casa nova e já vai ter uma treta? Caraca!
- Aqui não. Por favor.- Ele implora para ela.
Decido ignorá-los e olho através do vidro claro do carro e me deparo com a seguinte paiságem.
Estamos em frente a uma grande casa, cor lanja, com detalhes rosa, uma varanda enórme, com uma pequena escada azul, que dá em direção a porta de madeira.
Legal. Uma porra de uma casa da Barbie!
- Gostou, Jack?- minha tia pergunta. Sei o que ela está tentando fazer, desviar a atenção, para não sair no tapa com o Arnold, como já aconteceram tantas outras vezes.
Eu apenas faço que sim com a cabeça.
-Vamos entrar, então.- Ela fala, abrindo a porta do motorista. Quando eu estava préstes a sair ela me interrompe, dizendo.
- Mas primeiro, ajude sua avó, querido.
Ah! Que raiva dessa velha. Se eu pudesse mataria esse fardo aqui e agora, mas não posso.Saio, ando em direção ao outro lado carro e a ajudo à descer. A desgraçada desce lentamente, sei que é para me irritar.
Finalmente, ela sai do carro. - Depois de três anos- Minha tia, o Arnold, e o Liam, já entraram, e eu aqui, no sol, queimando com essa velha infeliz.
Quando estamos atravessando a rua, ouço um barulho de... roda(?) que se aproxima rapido.
Quando levanto meu olhar, a procura da origem do som, do nada, uma garota em cima de um skate acerta em cheio minha vó e eu, nos levando ao chão.
- Filha da puta!- xingo-a ainda caído, sentindo o peso da garota por cima do meu corpo.
- Mil perdões! Meu Deus, o que eu fiz? Calma por favor. Eu te ajudo.- Ela fala em desespero, levantado-se de cima de mim.
Levanto-me, e olho no rosto dela. Até que... tem um rostinho bem bonito, pele branca, olhos azuis, boca avermelhada, nariz fino, e um corpo... Caramba! Que gostosa.
- Perdão é meu caralho!- grito, recobrando a conciência.- Você acabou de me atropelar, e minha vó também.- Me ajoelho para ver se enfim a velha morreu e... Merda nenhuma! A infeliz está viva! O diabo nunca morre.
A garota está chorando, desesperada, achando que matou a velha. Odeio garotas choronas.
- Ei, agora não adianta chorar, vem me ajuda a levar ela para dentro.- A garota assente. Ela põe um braço da "vovó" em torno de seu ombro, eu faço o mesmo. A velha resmunga algo sem importância.
Caminhamos com certa dificuldade até a entrada da casa e depositamos a velha no sofá. Ela está desacordada ou em choque, mas quem liga? A garota está ofegante e seus cabelos estão por todo o seu rosto. Isso me lembrou o filme da garotinha gótica que sai da tv.
Ela arruma os grandes cabelos castanhos, sem tirar os olhos de mim, sei que sou lindo, mas ela está dando em cima, descaradamente.
-Olha... desculpa mesmo, eu perdi o controle do skate e acabei atingindo vocês.- Fala sem ar. Eu poderia me divertir muito com ela. Gostei dela. Eu quero...fiquei com vontade de jogar.
- Você quase a matou. E vem me pedir desculpas? Isso é pouco, eu quero mais.- Encaro seu rosto assustado.
- E o que você quer que eu faça? Lamba seu pés?- Olha. A gatinha tem unhas. Mas eu sou um leão.
- Não. Quero sua linguinha afiada em outra coisa.- Ela não notou a malicia de primeira, mas depois arregalou os olhos.
- Olha aqui, eu já te ajudei a trazê-la para dentro, e me desculpei. E prometo que isso não vai se repetir. Mas você não tem o direito de me tratar como se eu fosse uma puta!- Ela suspirou, sem ar. Que garota atrevida, fedelha. Não deve ter nem dezessete anos ainda, e se acha no poder de me responder dessa maneira! Logo eu! Um cara quatro anos mais velho? Gostei.
- Escuta...garota...- Começo, mas ela me corta.
- É, Sam!- Oh. Atrevida! Estendo a mão para ela. E acredita que ela não a pega? Que...atrevida!
- Eu sou Jackson- Ela me olha com desdém e eu recolho a mão.- Mas, pode me chamar de Jack.
-Quem?- Ela pergunta, me deixando confuso.
- Quem, o que?.
-Perguntou?- Ela soltou uma alta gargalhada. Agora eu entendi "Quem perguntou?"
Cachorra!
Na hora em que eu ia começar o ataque, me aproximando dela, Liam nos interrompe.
- Jack. A mamãe quer que você escolha seu quarto. - Ele olha para Sam. - Quem é essa Jack?- Eu não respondo. Já falei que odeio curiosos? Mas a garota o responde.
- Eu sou Samantha... Inimiga nova dele. E você?- Ela se abaixa para falar fala com ele. Eca! Tanta melação, chega a dar vontade de vômitar.
- Eu sou Liam, primo do Jack.- Reviro os olhos. Ela aperta a mão dele. Ele fala algo em sua orelha, ela ri e então ele sai correndo, saltitando.
Sam, se levanta, ainda sorrindo, então me dá as costas e vai em direção a porta.
- Ei! - grito- Não vai nem dar tchal?- Ela não responde. Abre a porta e sai da casa. Corro até a janela e observo-a apanhar seu skate do asfalto e ir embora.
É, talvez morar nessa porra de cidadezinha, tenha lá suas vantágens. Caipiras gostosas.
Saio da janela e vou em direção as escadas, e subo ao encontro do meu futuro quarto.
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JACK
RomanceO quanto uma infância traumática pode influenciar no desenvolvimento psicológico? Lembre-se: A maldade não nasce com ninguém, é criada.