Inferno azul

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Pov. Brasil

O barulho se repetiu novamente. Eu abri a janela da cozinha para ver quem estava fazendo aquilo, mas não tinha ninguém. De repente senti um cheiro de queimado. Olhei pela porta da área de trás e quando vi aquilo meus olhos ficaram arregalados.

Peguei o extintor de incêndio que guardo debaixo da pia em caso de emergências. Tirei o lacre e fui correndo lá pra fora. Rapidamente consegui apagar as chamas e pude ver a área do gramado que foi queimada. Algo estava escrito alí. Raiva e magoa tomaram conta do meu coração. Meu nome estava escrito na grama queimada.

Voltei pra dentro da casa pisoteando o chão. Larguei o extintor de incêndio no chão e rapidamente abri um dos armários da cozinha. Tirei uma garrafa de vodka que o Rússia me deu de presente no meu aniversário. Coloquei a mão lá no fundo do armário de bebidas e peguei uma caixinha e um isqueiro,fazia um bom tempo que não fumava, mas o fiz uma vez na semana passada. Na verdade eu não sinto mais vontade de colocar um cigarro na boca como tinha antes. Mas quando fico extremamente estressada ou triste eu alivio com o cigarro.

Peguei tudo e fui pro lado de fora novamente. Sentei em uma das mesinhas perto da churrasqueira e encostei as costas na cadeira. Tirei um cigarro da caixinha e o coloquei na boca. Levei o isqueiro até a ponta e acendi o cigarro dando uma profunda tragada. Soltei a fumaça e o coloquei na boca mais uma vez. Peguei a vodka e abri a garrafa. Tirei o cigarro da boca e dei um gole no líquido transparente, que desceu arranhando a minha garganta. 

Fiquei olhando a piscina que refletia as luzes que vinham de dentro da casa. E por consequência passei os olhos no jardim destruído e na grama queimada. Levei o cigarro até a boca novamente, inalando a fumaça e a levando para os pulmões. Meus sentimentos estão um tanto confusos. Nunca pensei que fosse possível começar a odiar alguém que amava em tão pouco tempo. Todas as lembranças que tinha com o argentino agora trazem um amargor ao meu coração. Crescemos juntos, e sempre estávamos próximos de alguma forma. Quando mais jovens começamos várias guerras um contra o outro, mas fizemos as pazes. Logo depois veio nossa rivalidade no futebol, isso era algo tão especial para nós. Ele era meu melhor amigo e companheiro. Ele foi o cara que me ofereceu o ombro amigo e ao mesmo tempo zuou com a minha cara depois do 7x1. Sentia que nossa amizade duraria pra sempre, que talvez estivesse escrita nas estrelas. Argentina era meu confidente, ele me contava seus segredos e eu o contava os meus. Até completavamos as frases um do outro sem querer. Pensei que o conhecesse, mas bastou cometermos um erro para que ele mostrasse suas verdadeiras cores. Senti meus olhos arderem ao lembrar daquilo.

Colômbia havia dado uma festa na sua casa. Toda a América Latina foi, inclusive alguns europeus como o Bélgica e o Holanda, além de alguns asiáticos também. Nesse dia eu tinha bebido demais, assim como o Argentina. Estávamos completamente alterados pelo álcool. Eu o beijei e foi aí que tudo começou. No dia seguinte acordei com nós dois nus em cima de uma cama. Aquilo foi um erro. Assim que acordou, o argentino me disse que tinha ficado feliz pelo ocorrido, e que me via mais do que como amiga. Eu admiti que não sentia o mesmo. Mas falei que poderíamos esquecer tudo aquilo e continuar nossa amizade. De primeira ele tinha apenas concordado comigo, porém sentia que ele havia ficado magoado. Mas pensei que logo passaria e tudo voltaria ao normal... Ainda pensando naquilo dei mais uma tragada no cigarro.

Depois daquele dia foi só ladeira abaixo... Argentina começou a tentar me proibir de sair com nossos outros amigos, o que fez com que eu me afastasse. Logo as mensagens e ligações começaram. Depois aquelas cartas cheias de palavras melosas, mas que devido ao contexto se tornavam extremamente sinistras. Li apenas três delas e depois comecei a queimar todas que recebia. Ele sempre tentava falar comigo ou se aproximar no trabalho.A situação começou a piorar quando o vi me encarando da sua janela com um binóculo. E por fim ele tentou entrar na minha casa na semana passada. Passei dois dias sem pregar os olhos...

Dei um grande gole na vodka, estava tão concentrada em meus pensamentos que nem havia percebido que estava chorando. Mas não me importei com isso. Engoli o líquido e voltei a fumar. É realmente incrível como um anjo pode se tornar um demônio em tão pouco tempo. Eu agora sinto o ódio e o rancor tomar conta de mim sempre que o vejo ou escuto seu nome. Se me ama, por quê insiste em me fazer sofrer? Eu o odeio! Ele é um diabo azulado que tornou meus dias em um inferno azul...

Deixei a fumaça do cigarro sair da minha boca. As lágrimas escorriam  pelas minhas bochechas. Quando foi que eu fiquei tão fraca? Nunca deixei ninguém me abalar, mas me sinto fragilizada. Não gosto dessa sensação de impotência, mas continuo na mesma.

Ouvi as patinhas de Frankfurt batendo contra o chão. Virei a cabeça e vi o cachorro sentado ao meu lado enquanto me observava.

Bra: volta lá pra dentro, vai! - fiz um gesto com as mãos para que ele fosse embora, porém não se moveu um centímetro. Suspirei, apaguei e larguei a bituca do cigarro no cinzeiro de vidro que havia deixado lá semana passada. Me virei novamente e os olhos do animal ainda estavam fixos em mim. - eu não posso fumar perto de você... seu dono me mataria se descobrisse que fiz isso. -  realmente acho que o alemão ficaria uma fera se descobrisse que não cuidei bem de seu bichinho, e eu não quero ter nenhum tipo de problema com ele. Passei os últimos anos evitando aproximações para não criar mais problemas e atritos entre nós. Além disso não preciso de outro demônio para infernizar minha vida. O cachorro continuou sentado no mesmo lugar e eu não me importei.

Agarrei a garrafa de vodka e levei até a boca. Minha garganta arde, mas eu não ligo. Continuei a observar a imagem do céu noturno que se misturava com as luzes da casa enquanto ambos eram refletidos na água. Adoraria dar um mergulho agora.

Tirei o salto dos pés e me levantei da cadeira. Peguei a garrafa, andei até a borda da piscina e encarei meu reflexo na água. Pude ver meu rosto manchado pelas lágrimas. A água calma era tentadora. Me sentei e então coloquei os pés dentro dela. Senti o choque da água gelada com os meus pés quentes. Olhei para a meia calça que cobria minha pele verde esmeralda. Posso lavar ela depois.

Dei mais um pequeno gole na bebida e então deixei a garrafa ao meu lado. Continuei a olhar meus pés submersos. Comecei a balança-los, pra frente e pra trás. Logo as imagens refletidas na água ficaram turvas. Olhei bem os movimentos que faziam as luzes amarelas dançarem, e então direcionei o olhar para o reflexo da noite. Percebi que era possível enxergar várias estrelas.

Levantei a cabeça para os céus e encarei os pontos brilhantes em meio a escuridão, é difícil ver isso hoje em dia. A lua estava lá no alto jogando sua luz prateada na terra. Eu fiquei hipnotizada pela beleza daquela vista. Tudo que mais queria agora era uma estrela cadente para me salvar... desejaria que tudo isso passasse logo ou que alguém me tirasse desse inferno. Costumava a ficar observando o céu com meu pai e meus irmãos quando era criança. Me lembro do papai nos contando como era possível navegar se orientando nas estrelas. Nem vi que um sorriso havia se formado no meu rosto. É sempre bom lembrar das coisas boas quando se está passando por um momento difícil. Senti alguém se sentar ao meu lado. Era Frankfurt.

Bra: nem pense em pular, por quê eu não vou te dar banho. - ri soprado e fiz um leve carinho em sua cabeça, enquanto o animal me olhava nos olhos. - mas eu ainda estou brava com você! - Voltei a minha atenção para o céu e continuei a observar as estrelas.

Por mim eu ficaria olhando para elas até o fim dos meus dias...

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Agora é a vez do ArgENtiNo PEscOTApa 🤡🤡👌

Espero que tenham gostado!

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É isso! Beijinhos✨✨✨

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