Civilians - Uma fanfic Jogos Vorazes

Rio abaixo

Dia 8

Guida Parker

Distrito 9

              Sem vontade, Guida levou a raiz até a boca. Os biscoitos que tinha conseguido na cornucópia haviam acabado há três dias e, desde então, aquela raiz estava sendo o seu alimento. No começo, ela não achou tão ruim, mas depois de um tempo, o gosto tornou-se insuportável.

              Guida engoliu o pedaço, mas, antes mesmo que chegasse direito ao seu estômago, ela vomitou. Não só aquilo, mas também todo o resto que já havia comido. Ela limpou a boca e encarou o chão, percebendo-se tremula. Estava fraca, com fome e com muita dor de cabeça e a única coisa que queria era que tudo aquilo acabasse.

              Estava com saudades de sua família, de seus pais, de seus irmãos e de seu cachorro Max, com quem mantinha uma amizade movida a carinhos na barriga e brincadeiras bobas com uma tira velha de tecido. Guida havia chorado bastante durante os últimos dias e isso não cessava. A cada dia que sobrevivia, chorava mais e mais, não sabia o porquê, talvez fosse o medo de dar falsas esperanças ao pessoal de casa.

              Ela levantou-se devagar, sem nem mesmo olhar direito ao redor, estava cansada daquilo tudo e isso fez nascer um fio de revolta em seu peito. O medo de morrer havia praticamente desaparecido e ela apenas esperava sair daquela arena o mais rápido possível, viva ou dentro de um caixão.

              Com passos lentos e pouco cuidadosos, ela seguiu em direção as margens do rio. Depois de assistir a morte de Allan e se deparar com Briana e os outros profissionais, Guida decidiu abandonar a cachoeira e seguir morro acima em direção ao rio que lhe dava origem. E há três dias estava por ali, perambulando em círculos, sem forças e assustada.

              Sentindo-se um pouco tonta, Guida parou e apoiou-se em uma árvore de tronco fino, e nesse momento o canhão disparou. Desde Thomas, do 4, do qual Guida sentia-se parte responsável pela morte, apenas outros dois haviam morrido, a menina do 10 e o menino do 11. Quem haveria sido daquela vez? Tinha perdido a noção de quem ainda restava no jogo, mas estava torcendo que aquele canhão representasse mais um profissional. Nesse momento, ela ouviu alguém se aproximar correndo por entre a vegetação e abaixou-se rapidamente. Era Meena, a garota do distrito 8, que emergiu das árvores ofegante.

              Guida a observou correr até a margem do rio, onde parou com as mãos nos joelhos. Ela lembrava-se da história dela e do seu primo Romulo, o tributo masculino. Ao contrário dele, Meena não era um dos grandes, na verdade era praticamente da altura de Guida e era apenas um ano mais velha do que ela.

              O que será que havia acontecido? Ela havia matado alguém? Estava fugindo de um tributo? Ou seria de uma arma gamemaker?

              Guida a analisou bem. Ela não parecia fraca e não estava coberta de sujeira, também não carregava nenhuma arma, apenas uma mochila bem presa as suas costas. A garota estava saudável e Guida a odiava por isso. Com certeza estava sendo protegida pelo o tal Romulo. Até a trança enraizada em seu curto cabelo negro parecia perfeitamente intacta.

              Ela merece morrer. Guida pensou. E eu posso matá-la. Porque não?

              A garota ergueu-se e a passos rápidos, porém cuidadosos, caminhou até Meena que, segurando as duas alças da mochila, analisava o rio procurando por um caminho. Ela não notou a presença de Guida até ser empurrada bruscamente para dentro do rio. Meena desesperou-se ao perceber-se dominada pela correnteza que a arrastava em direção à cachoeira. Imóvel, Guida observou a sua vítima ser levada pelas águas, até ela soltar um terrível grito de dor e uma enorme mancha de sangue crescer ao seu redor.

              Guida franziu as sobrancelhas tentando entender o que havia acontecido à outra garota, enquanto essa debatia-se e gritava dentro da água, que agora havia se tornado vermelha.

              – Meena! – uma voz grave gritou. – Meena!

              Guida assustou-se e tentou correr em direção à mata, mas tropeçou nas raízes de uma árvore e caiu. Aquele era Romulo, um Romulo em desespero pela prima que morria diante dele.

              – Romo! Não!

              Foi a última coisa que Meena disse antes de ser engolida pela cachoeira.