Um presente

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Dia 10

Romulo Walker

Distrito 8

              Romulo encostou-se na árvore e encarou o céu escuro esperando pelo hino. Depois de ter cortado a garganta da menina do Distrito 9, houve de imediato dois tiros de canhão, um após o outro. De primeiro, ele congelou e depois se desesperou em curiosidade. Estava perto, mais muito perto de ganhar, e, naquele momento, tudo o que queria era saber quais seriam os seus últimos adversários.

              Pensou imediatamente em Dean e Azelia. Apostava neles como sendo os outros dois sobreviventes e se estivesse certo, teria uma missão difícil pela frente. Os dois eram fortes e estavam armados, sem falar no sentimento de vingança que estaria envolvido.

              Ele respirou fundo e puxou para fora de sua camisa, a pedra cinza que servia de pingente para o seu cordão. Dentro da arena, aquela era a sua lembrança de casa. Durante a despedida à sua família, Sarah, a mais nova de suas irmãs, veio e lhe entregou o colar, o colar que pertencia a ela e que ela mesma havia feito com alguns longos fios de cordão e uma velha pedra cinza, que guardava como amuleto de sorte.

              Romulo sorriu triste com a lembrança da irmã. Ele também amava seus outros dois irmãos, mas Sarah... Sarah sempre foi a sua preferida, sempre foi a sua parceira de traquinagem. Sarah que era apenas um ano mais velha do que ele, Sarah que tinha ideia e um jeitinho pra tudo, a única que mantinha o cabelo curtinho e que nunca conseguiu se livrar das sardas. Ah, como Romulo queria abraçá-la novamente! Abraçar aquela que não derramou lágrimas na sua partida, a única que sorriu e o mandou detonar.

              Ao perceber o forte nó que se formou em sua garganta, Romulo guardou o pingente dentro da camisa novamente. Não queria chorar, não queria deixar a sua família mais aflita, não queria demonstrar o que poderia ser interpretado como fraqueza pela Capital. E foi nesse momento que o hino começou.

              Romulo prendeu a respiração e com olhos semicerrados encarou o símbolo da Capital. Estava para saber o que o resto do país já sabia. Para a sua total surpresa, a primeira foto a ascender no céu, foi a de Dean, Dean e sua cabeleira acobreada. Essa revelação causou um suspense ainda maior em Romulo, fazendo-o desencostar da árvore na espera pela próxima projeção. E ele guardou o sorriso quando Azelia, com sua cara naturalmente cínica, apareceu gigante no céu. Então enfim eles tornaram-se vítimas? Romulo pensou antes da imagem de sua última morte, a garota do 9, iluminar a noite na arena.

              Sendo assim, restava o Distrito 6: Lena e Samuel, "os garotos sem coração". Segundo Madison, era assim que os de Panem os estavam chamando na Capital, pois os mesmos pareciam não estar dando a mínima para nada. Não choravam, não se emocionavam quando falavam da família e mal sorriam, eram apenas gelo, mas isso pareceu agradar o público que, em controversa aos anos anteriores, adoraram a aura fechada e misteriosa de toda a equipe do 6.

              Romulo imaginou como havia sido entre eles e os dois profissionais. Quem havia matado quem? Imaginou primeiro garota contra garota. Pelo que ele lembrava, Azelia guardava um rancor especial pela tal de Lena, o porquê nunca ficou claro, talvez apenas parte de uma disputa de egos. Quanto a Dean, Romulo o imaginou sendo decapitado, assim como a sua parceira de distrito.

              Nesse momento, Romulo ouviu um som e ao procurar de onde vinha, avistou um paraquedas. Definitivamente era para ele, seu primeiro paraquedas durante a competição. Ele levantou-se e abriu o pesado e longo pote.

              Primeiro ele sorriu discreto e depois enrijeceu. Os patrocinadores pareciam realmente acreditar em seu potencial ao ponto de lhe enviarem aquele machado de duas lâminas, duas lâminas mortais, que usadas propriamente lhe valeriam a vida. Romulo abaixou a cabeça, respirou fundo e por fim agradeceu em baixo tom. 

Civilians - Uma fanfic Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora