Dia 9
Guida Parker
Distrito 9
Tudo ao redor de Guida estava mais claro. As folhas das árvores e dos arbustos brilhavam como se estivessem úmidas por orvalho e a luz do céu a deixava tonta. Ela não bebia e comia há muito e isso não era o mais perturbador, o pior mesmo era o suor gelado que escorria por sua testa e os tremores que percorriam todo o seu corpo.
Estava doente. Pensamentos perturbadores invadiam a sua mente a todo o momento e, por algum motivo, ela tornou-se incapaz de suprimi-los, o que a fazia querer gritar desesperadamente.
Guida parou sua caminhada cambaleante e encostou-se no tronco de uma árvore de caule extremamente áspero. O que estava fazendo ali? Perguntou-se. Ela era apenas uma menina comum que não sabia como lutar, que não sabia como usar uma arma e como se defender. Vivia uma vida ordinária como tantos outros e agora estava ali. Estava ali para matar pessoas! Matar pessoas mais fortes e mais inteligentes do que ela, pessoas bem mais preparadas e corajosas, pessoas mais queridas. "Você me matou, Guida." Ela ouviu a voz gelada de Mina sussurrar.
Guida choramingou contorcendo-se olhando para o céu. Malditos! Malditos! Malditos! Ela suprimiu em sua mente e foi aí que uma dor fina invadiu as suas têmporas. Ela virou-se, e, encostando a cabeça contra o caule da árvore, soltou um grito cheio de raiva e dor.
Por quê? Por quê? Por quê? Guida perguntava-se enquanto esfregava as suas mãos pelo caule áspero, mas aquilo não doía, fazia sangrar, mas não doía.
Ao ouvir um choro distante, ela parou. Não sabia se era mais uma invenção de sua atormentada cabeça, mas pareceu muito real e próximo. Ela empurrou-se para longe do tronco e olhou ao redor. Bem... Não parecia haver alguém, mas ela seguiu andando devagar a procura da origem do som.
Guida deu alguns passos e o canhão explodiu. Aquilo não lhe causava mais a aflição que lhe causou no início da competição e ela não estava com medo de que a morte tivesse acontecido ali por perto e de que o tributo sobrevivente aparecesse subitamente por entre a vegetação. Se isso acontecesse, ela o imploraria que a matasse rápido e acabasse com aquele pesadelo sem fim.
Guida continuou andando, mas aí parou. Definitivamente havia alguém por perto e algo chamou a sua atenção para os arbustos à sua esquerda. Ela caminhou até lá e, afastando os galhos e folhas, encontrou a garota ferida que tentava se apoiar num tronco caído.
Como não era de novidade, Guida sabia o seu nome. A garota chamava-se Torry e era do distrito 12. Apesar de ser um pouco mais alta que Guida, Torry tinha a sua idade, quatorze anos. Era uma garota bonita, cabelos ruivos e grandes olhos verdes cinzentos, também era bem simpática, tinha até trocado um sorriso com Guida no treino de sobrevivência.
Guida deu mais alguns passos e a garota gemeu arrastando-se pelo chão na tentativa de se afastar. Ela estava ferida, diversos arranhões e cortes profundos preenchiam os seus braços, mas o pior aparentava está em sua perna direita, a qual parecia ser incapaz de mover.
Guida a encarou por um longo momento, enquanto Torry chorava e balançava a cabeça em negativa. Ela estava sofrendo, estava sentindo dor e não podia andar, aquilo era terrível, mas Guida sabia o que fazer.
Devagar, ela puxou o punhal de seu cinto, o punhal que até aquele momento só havia servido para cortar as raízes que lhe serviram de alimento.
Armada, Guida dirigiu-se até a garota lentamente, enquanto tudo girava e brilhava ao seu redor. Ela ajoelhou-se próximo a Torry, que tentou se defender dando-lhe fracos tapas, a conteve e sem muita cerimônia cortou-lhe a garganta. O sangue jorrou sem limites e a garota sufocou morrendo rapidamente. Guida ainda a segurava quando o som do canhão soou pela arena. Com sua mão ensanguentada, ela afagou o rosto de Torry admirando-a.
– Linda menina. – deixou escapar para o cadáver.
Antes de partir, Guida curvou-se até a garota morta e deu-lhe um beijo na testa.
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Civilians - Uma fanfic Jogos Vorazes
FanfictionSeja bem-vindo à 46ª edição dos Jogos Vorazes. Você já conhece a regra: no fim, apenas um sobrevive. Quem será o vitorioso da vez?