Qual o seu saldo?

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Dia 8

Lena Wilson

Distrito 6

              Lena estava tensa. Nunca havia se sentido tão exposta, nem mesmo durante a Cornucópia. Depois de quinze minutos de discussão, ela concordou em acender uma fogueira, uma pequena. Ao contrário da noite anterior, a lua agora estava escondida e um ar gelado pairava sobre eles. Samuel conseguiu convencê-la de que não havia o que temer, eles eram uma dupla, uma boa dupla fortemente armada.

              Ela parou de olhar ao redor para espiá-lo. Ao contrário dela, ele parecia bem à vontade enquanto apontava um galho com uma de suas facas.

              – Então... Quantos você matou? – ela o perguntou erguendo as sobrancelhas.

              Ele franziu um pouco o cenho, a olhou breve e retornou a sua atenção ao galho, ficando em silêncio por um momento.

              – Três. – disse por fim.

               Ela continuou o observando.

              – Quais?

              – A garota do 2, o cara do 1 e o seu colega do 11. – ele disse sem vontade

              Dois profissionais. Ele havia matado dois profissionais e isso fez Lena calar para refletir sobre a luta que teria com ele mais cedo ou mais tarde.

              – Mas e quanto a você Senhorita Wilson? – ele perguntou sem tirar os olhos do galho. – Qual o seu saldo?

              Ela deu de ombros e olhou em direção às árvores à sua direita.

              – Um.

              Ele parou e a observou.

              – Um?!

              – Porque o espanto?

              – Nada, é que... Olha pra você, com todos esses ferimentos e essa sujeira. Afinal, o que diabos te aconteceu durante todo esse tempo?

              – Os gamemakers aconteceram. – ela respondeu o encarando sob a luz da fogueira.

               Ele continuou a observando por um breve momento até dar de ombros e retornar a atenção ao galho.

              – Então você matou UM tributo. – ele refletiu.

              – É. Depois da cornucópia ninguém apareceu, até aquele maluco do 11. – ela se endireitou apoiando os braços no joelho. – O cara tava surtado.

              – Hum! – parecendo lembrar-se de algo, Samuel parou, tirou um punhado de pequenas frutas amarelas do bolso de sua calça e jogou em direção a ela. – Primeira regra sobre essas coisinhas: não coma.

              – O que é isso?

              – Algum tipo de fruto alucinógeno. – ele falou analisando o galho. – O cara que te atacou comeu isso minutos antes. Seja lá o que for, te deixa bem doidão.

              Ela analisou o fruto por um momento, lembrando-se da vermelhidão nos olhos do garoto.

              – Você tava seguindo ele?

              – Eu estava seguindo rastros que deram nele, daí ele me levou até você. – Samuel parou e riu sem muito humor – Eu até que deveria agradecer ao finado garoto. Se não fosse por ele, eu não teria te encontrado.

              Ela torceu o nariz com o comentário dele, que não parecia nem um pouco culpado pelo que havia feito.

              – Não sabia que eu era tão importante assim. – ela ironizou – Digo, você matou dois profissionais, acho que daria conta do resto.

             Ele respirou fundo e jogou o galho de lado.

              – Acho que não. Você viu o tamanho do cara do 8? O tal do Romulo? Você viu o tamanho dele? Sem falar do resto dos profissionais. O 2 e o 4 estão juntos, eu os vi na cornucópia.

              Ela revirou os olhos e nesse momento o hino tocou. Pela manhã eles tinham ouvido dois tiros de canhão e agora era a hora de saber quem havia saído do jogo.

              A primeira foto a surgir foi a de Martha, do distrito 1. Ela parecia deslumbrante com os seus cachos loiros e olhos brilhantes que escondiam uma excitação. Em seguida, foi a vez de Meena, do 8, iluminar o céu. Ela tinha quinze anos, porém parecia mais jovem com o seu olhar azul infantil.

              Para Lena, era estranho pensar que aquelas garotas, tão bonitas e cheias de vida, estavam mortas. Ela suspirou, balançou a cabeça e levantou se apoiando em sua alabarda.

              – O que foi? – Samuel ergue-se assustado.

              – Eu vou fazer xixi. – ela disse com tédio. – E não quero você por perto.

                Ele revirou os olhos.

              – Só não vá muito longe.

              Lena fez uma cara de "tanto faz" e saiu. Depois de pouco mais de cinco metros, ela abaixou-se próximo a um arbusto e fez o que tinha de fazer. Ao se levantar, sentiu uma presença e, agarrando a sua alabarda com as duas mãos, virou-se se deparando com Briana.

              Agradecida pelos bons reflexos, Lena conseguiu, com a ajuda do cabo de sua arma, evitar o golpe da cimitarra da garota do 7. Porém Briana não desistiu e continuou a investir contra Lena que, desnorteada, apenas recuava e recuava, até tropeçar em uma raiz e cair. Foi então que Samuel, mais uma vez, chegou. Ao notá-lo, Briana pareceu tomar um susto e, por um descuido, deixou a arma cair. Por três segundos, a garota continuou parada, sem saber que movimento tomar, até que decidiu deixar a arma para trás e correr.

              Ainda confusa, Lena continuou no chão, encarando Briana até ela desaparecer. 

Civilians - Uma fanfic Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora