Dia 10
Romulo Walker
Distrito 8
Com Briana, Romulo somava quatro mortes, e lembrava-se de todas elas nitidamente. O primeiro havia sido o garoto do Distrito 3, o menino de dezessete anos lutou com Romulo pela posse da grande mochila de suprimentos e acabou perdendo. O segundo havia sido o musculoso tributo masculino do 7, que tentou acertá-lo com um machado, também durante a cornucópia, mas acabou tendo o pescoço cortado pelo facão de Romulo. Jaina do 10, foi a terceira morte, e essa foi rápida ao contrário de Briana, a baixinha que havia lutado como um profissional.
Estava mais perto de voltar para casa e não hesitaria em derrubar qualquer um que cruzasse o seu caminho. Ele pressentia que tudo acabaria logo. Dava no máximo três dias para a competição terminar e Panem saudar o seu novo campeão.
Depois de encher o seu cantil logo cedo pela manhã, Romulo caminhou uns cinco quilômetros até que rapidamente cansou e resolveu sentar aos pés de uma árvore e comer todas as tiras de carne seca que lhe restavam. E enquanto comia e observava ao redor, percebeu o como estava farto daquele lugar, farto de todas aquelas árvores e pedras e insetos. Percebeu também o como sentia falta de casa, e, em especial, o como sentia falta de Irina e sua pele macia, de Irina e sua encantadora cara de ciúme.
– Oi.
Romulo não a viu se aproximar, ela simplesmente apareceu do nada e postou-se em sua frente.
Aquilo de fato era uma surpresa. Enquanto muitos dos favoritos já estavam mortos, a garota do 9, a frágil, chorona e azarada garota do 9, ainda estava viva. Após o choque, Romulo levantou-se num pulo fazendo-a recuar um passo.
– Por favor, espere. – ela implorou com um gemido.
Ele a olhou melhor. Estava muito magra, mais magra do que lembrava. Suas mãos tremiam de uma forma estranha e doente, e manchas de sangue seco apareciam aqui e ali em seu rosto e em seus braços.
– Vai me matar. Eu sei, e-eu quero. – ela gaguejou com lágrimas acumulando em seus olhos. – Eu só preciso falar... Por favor, só me deixa falar!
Confuso, Romulo encarava a garota que chorava, ao mesmo tempo dava olhadas ao redor, considerando uma possível armadilha, mas a coitada parecia verdadeiramente devastada e muito perturbada.
– E-eu não sou assim! Não! – ela gritou para alguém invisível ao seu lado – São os jogos! Eu... Eu... Não mato! Eu...
Ela interrompeu-se parecendo sem fôlego.
– Você matou alguém? – Romulo perguntou curioso.
A garota assentiu tomando fôlego e olhando para o lado.
– Quem? – Romulo perguntou.
– Torry. – ela segurou o choro o encarando com olhos vermelhos. – E... Meena.
Romulo parou com o maxilar enrijecido. Como assim? Como aquela garota havia...?
– Fui eu que a empurrei no rio. Fui... Eu vi você chegando... Eu que matei.
Ela aproximou-se de Romulo e com olhos enlouquecidos tirou um punhal do cinto.
– Faça! Eu não aguento! Lembro de todos os nomes, lembro de todos vocês... E eu não aguento!
Romulo, ainda estarrecido com a revelação, aproximou-se dela com cautela e puxou o punhal de sua mão.
– Seja rápido.
Ele a virou contra si e tampou os olhos dela com sua mão esquerda. Ela estava fria, muito fria, até as lágrimas que caíam de seus olhos pareciam frias. Tentando controlar os tremores que percorriam seu corpo, a garota conteve o choro e foi aí que Romulo levou o punhal até a garganta dela.
Ele esperou até ela perder as forças e então depositou-a no chão. O canhão soou e, encarando o cadáver, Romulo tentou com todas as forças recordar o nome da menina, mas não conseguiu.
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Civilians - Uma fanfic Jogos Vorazes
FanficSeja bem-vindo à 46ª edição dos Jogos Vorazes. Você já conhece a regra: no fim, apenas um sobrevive. Quem será o vitorioso da vez?