Duelo no rio

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Dia 10

Lena Wilson

Distrito 6

              Lena pareceu percebê-los antes mesmo do que Samuel, o que a fez parar de imediato. Como suspeitava, os gamemakers, de fato, estavam forjando uma situação e ali estava ela: Dean e Azelia, distrito 2 e 4. Uma bela jogada, empurrá-los direto para um duplo combate, que sem sombra de dúvidas deixaria a audiência excitadíssima.

              Os profissionais, num primeiro momento, pareciam bem distraídos enquanto discutiam algo, mas não demorou até Azelia, que estava sentada numa grande pedra, notar os adversários e de imediato levantar-se alertando Dean, que de cabeça baixa, lavava as mãos nas águas do rio.

              Lena os analisou bem. Dean que, de olho muito inchado, carregava nas costas uma besta, também tinha consigo um facão e parecia está esperando por um primeiro movimento deles. Azelia, por outro lado, fuzilava Lena com o olhar, mostrando que já havia escolhido com quem lutaria.

              – Prepare-se Wilson. – Samuel disse em seu tom zombeteiro, porém apreensivo – Está para descobrir a real função dessa sua arma grotesca. E não esqueça... – ele a olhou brevemente – Temos um trato a cumprir, então tente não morrer agora.

              Samuel respirou fundo, tirou a mochila dos ombros e correu em direção à Dean, e foi aí que Lena sentiu uma pontada gelada em seu coração acelerado. A luta havia começado e não demorou até Azelia caminhar fervorosamente em sua direção.

              Azelia, a garota do 4, a tão detestável garota do 4. De fato, ela era uma unanimidade entre os tributos. Ninguém havia gostado dela e de sua gritante prepotência, nem mesmo os profissionais pareciam engoli-la, nem mesmo o seu parceiro de distrito, com quem havia discutido durante todo o período de treinamento, parecia aturá-la. Mas mesmo acumulando tantos inimigos, ela ainda estava ali, com sangue nos olhos e eufórica por mais uma morte.

              Imitando os movimentos de Samuel, Lena tirou a mochila dos ombros e deu uma boa olhada na arma que Azelia carregava. Era um tipo de martelo, um grande martelo com pontas de ferro em uma de suas bases, e foi investindo-o em direção a cabeça de Lena que ela começou o seu ataque. Lena rapidamente abaixou-se conseguindo se esquivar do golpe e usando a lâmina de sua alabarda tentou atingir o abdômen de Azelia que, por sua vez, pulou para trás, também se livrando. Sem esperar por nada, Azelia continuou a investir e, por um descuido, Lena teve o seu quadril atingido pelas pontas de ferro do martelo, mas não se entregou à dor, com habilidade, girou sua arma e conseguiu abrir um corte no braço esquerdo de Azelia, o seu braço de luta.

              A garota do 4 pareceu sentir e, por um momento, vacilou deixando o seu pesado martelo cair. Lena aproveitou-se do momento e foi com tudo para cima dela, que começou a recuar. Sem perceber, ambas já estavam dentro do rio, cujas águas cobriam até os seus tornozelos. Ao se ver em desvantagem, Azelia partiu para cima de Lena, agarrando o cabo de sua alabarda, e aí começou uma luta pela posse da arma. Lena deu uma cabeçada na outra garota, e essa devolveu-lhe um chute na canela. Ambas soltaram a arma e caíram na água, mas não demoraram até se levantarem e se envolverem num combate físico que contava com puxões de cabelo, socos e arranhões.

              Mesmo envolta numa luta com Azelia, Lena ainda conseguia ouvir e enxergar vislumbres de Samuel e Dean, que atacavam um ao outro com o mesmo nível de brutalidade. Ela temia por seu colega de distrito, temia que ele perdesse, pois se perdesse, ela também perderia, uma vez que Dean correria para ajudar a sua aliada que, com o nariz jorrando sangue, não desistia.

              Depois de muito rolarem esbofeteando-se, Azelia conseguiu prender Lena contra o chão e aí, empurrando o rosto dela, tentou afogá-la no baixo nível do rio. Lena segurou Azelia pelos cabelos tentando afastá-la e depois de muito puxar, conseguiu tirá-la de cima. Se recompondo e erguendo-se com rapidez, Lena atirou-se para cima de Azelia, que ainda tentava se levantar. Com o impacto, a garota do 4 foi mais uma vez ao chão, dessa vez dominada por Lena, que sentiu o coração parar ao ouvir um tiro de canhão.

              Apesar da vontade, Lena não olhou para Samuel e Dean, ela apenas aumentou o seu aperto contra Azelia e, com toda a força que tinha, agarrou a cabeça da garota e, despejando a raiva que sentia dela e de seu egocentrismo, a lançou contra o chão de pedras várias e várias vezes até ela rachar e Azelia congelar morta.

              O canhão soou para Azelia e ao se levantar desorientada, Lena notou que Samuel e Dean ainda brigavam. De fato, o primeiro tiro havia sido para outro tributo em algum outro lugar da arena.

              Certificando-se de que seu parceiro ainda estava vivo, Lena caminhou cambaleante pelo rio à procura de sua alabarda e ao encontrá-la, tentou correr em socorro a Samuel, mas foi derrubada pela correnteza que subitamente aumentou. A água subiu rapidamente e Lena foi arrastada assim como o corpo de Azelia. Tentando resistir à correnteza, ela lançou sua alabarda contra um conjunto de pedras, o que a segurou.

              Com olhos frenéticos, ela olhou para Samuel, que há quinze metros aplicava cotoveladas no rosto de Tarso. De fato, ela não sabia quem estava ganhando, mas mesmo assim, naquele momento não deixou de clamar por ajuda.

              – Samuel! – ela gritou enquanto a água subia e invadia sua boca – Samue... Samuel!

              Samuel procurou por Lena e ao vê-la domada pelas águas, investiu mais pesado contra Dean que, ensanguentado e cambaleante, foi rendido em uma chave de braço. Samuel aplicou toda a sua força e quebrou o pescoço do último tributo do 2, matando-o.

              Houve o som do canhão e Samuel correu ao socorro de Lena. Ele deitou-se na margem e esticou-se tentando puxá-la, o que não foi tarefa fácil. Após muito tentar, ele conseguiu segurá-la pela jaqueta e aos poucos a puxou para a margem junto com sua alabarda.

              Ela arrastou-se sem fôlego, largou a arma e levantou-se com a ajuda de Samuel.

              – E aí? – ele falou encarando-a de perto enquanto a segurava pelo braço.

              – É... – ela sussurrou analisando o rosto machucado dele.

              Movido por um estranho ímpeto, Samuel curvou-se e a beijou. Ela, por sua vez, não recuou, porém retribuiu o beijo, envolvendo a nuca dele com as suas duas mãos. Ignorando o gosto do sangue, eles entregaram-se ao momento. Samuel segurando-a pela cintura e ela afagando os seus cabelos. O beijo durou, durou até Lena, subitamente, franzir as sobrancelhas, abrir os olhos e empurrá-lo para longe.

              – Para! Se afasta! – ela protestou o olhando com raiva – Cadê sua arma? Pega a sua arma!

              – O que...? – ele começou.

              – Você, você não pode fazer isso! Você...

              – Eu?! – ele falou com incredulidade – Me desculpa, mas eu não estava só ali!

              Ela o encarou nos olhos e por um longo momento eles ficaram em silêncio.

              – Não se atrev... – ela interrompeu-se olhando para o chão – Não tente isso. Eu não sou estúpida!

              – Então você acha que eu sou um desses cretinos que jogam sujo? – ele a olhou sem acreditar – Eu apenas te beijei porque tive vontade, só isso. Nós temos um acordo, Lena! A droga de um acordo, não lembra? – ele saiu em direção à sua foice, mas voltou – Você acha que eu não escutei o outro canhão durante a briga? Somos apenas três agora, três! E se eu realmente jogasse sujo, eu teria te deixado descer rio abaixo!

              Parecendo perturbado, ele coçou a cabeça e andou de um lado para o outro aparentando não saber o que fazer, enquanto ela o encarava desconfiada, sentindo-se agredida pelo inédito tom agressivo dele.

              – Desculpa. – ele falou baixo sem encará-la.

              – Não peça desculpas. – ela disse de sobrancelhas franzidas indo de encontro à sua alabarda.

Civilians - Uma fanfic Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora