Os Profissionais estão por perto

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Dia 4

Guida Parker

Distrito 9

              Guida parou apoiando-se em uma árvore. Estava exausta. Tinha a sensação de que, desde que fugiu da cachoeira no dia anterior, já havia percorrido toda a arena, o que não era verdade. Quando correu com os sapatos de Martha em mãos, Guida não sabia para onde ir, ela apenas continuou até ter certeza de que a profissional realmente não a perseguia, e foi quando resolveu parar e se esconder em meio a duas árvores frondosas que ela ouviu o tiro do canhão, o segundo naquele dia. Foi impossível não pensar em Martha e no como gostaria de que fosse a sua foto iluminando o céu à noite, porém após o selo da Capital, durante o hino, foi a foto do tributo masculino do 1 que ascendeu antes da de Allan.

              Ano estranho.

              Guida respirou fundo e olhou para o céu. Quarto dia na arena, deveria ser um pouco depois do meio dia e ela estava sedenta. Precisava de água e só sabia de um lugar onde poderia consegui-la. Ela se recompôs e voltou a caminhar. O saco de dormir atravessado em seu tronco não pesava, enrolado dentro dele estava apenas o, quase vazio, pacote de biscoitos. Comida também seria um enorme problema se Guida não tivesse frequentado os treinos de sobrevivência. Durante um dia perambulando pela mata,  já havia notado a presença de pelo menos uma das plantas de raiz comestível.

              Não estava tão longe de lá, da cachoeira. Reconhecia aquele caminho, lembrava-se das enormes árvores que se dispunham por ali, talvez demorasse apenas mais uns dez minutos até chegar. Guida achou que tudo estava tranquilo até ouvir vozes alteradas. Pareciam ser duas ou três pessoas discutindo, e um grupo de duas ou três pessoas hostis caminhando pela floresta só significava uma coisa: profissionais. Esse pensamento a fez tremer e procurar desesperadamente por um abrigo. Não havia muita vegetação por ali, nem muitas pedras gigantes nas quais pudesse se esconder, tudo ao seu redor eram árvores e árvores. Pois bem, Guida de imediato escalou com dificuldade e desespero uma das árvores até atingir os seus galhos mais finos. Não sabia que era capaz daquilo, algo simplesmente a impulsionou e, com certeza, havia sido o medo.

              Ao se arranjar em um galho, Guida avistou lá de cima o garoto do distrito 4 se aproximar devagar até onde antes ela estava. Ele, que carregava uma mochila e uma lança de ponta longa, deu uma olhada ao redor e continuou andando. Guida esperou pelos outros profissionais, mas esses não vieram. Ela ainda demorou mais uns cinco minutos buscando coragem para descer, e quando estava próximo disso, eis que, vindo de uma direção diferente da do garoto do 4, surge mais alguém: Briana, a garota do 7. Ela apareceu imponente com uma jaqueta presa na cintura, um saco de suprimento nas costas, uma cimitarra em mãos e uma bainha com duas facas presa ao seu braço esquerdo. Ela era baixinha, tinha um adorável sinal acima dos lábios e esse meigo e escorrido cabelo negro na altura do queixo, mas era rude e tinha uma força tremenda nas pernas.

              Guida agarrou-se mais firme no galho enquanto observava Briana parar aos pés da árvore analisando o terreno. Com certeza ela estava rastreando alguém há algum tempo e, mesmo que não fosse Guida, ela estava prestes a encontrá-la. Seria questão de segundos até Briana perceber o rastro que a garota do 9 havia deixado ao subir ali. Guida tinha que agir, e rápido. Pensou no garoto do 4 que havia passado por ali há pouco e no como podia atrair a atenção de Briana até ele. Foi então que ela lembrou dos sapatos de Martha, e após soltar os cadarços com cuidado, arremessou o pé esquerdo na direção tomada pelo garoto.

              Briana de imediato ergueu a cabeça procurando a origem do barulho e parecendo enxergar algo como uma trilha até um tesouro, sorriu e tomou o seu caminho. Guida permaneceu lá por mais um tempo e, após quinze minutos, quando finalmente tocou o chão novamente, ela ouviu o canhão explodir. Será que Briana o havia encontrado ou teria sido o contrário? Não sabia, só sabia que alguém se aproximava. Ela abaixou-se atrás da árvore em silêncio escutando as batidas fortes de seu coração.

              – Thomas! – chamou uma voz feminina – Cadê aquele idiota?

              – Você acha que foi ele? – perguntou uma voz masculina

              – Não pode ter sido. – disse a garota com descrença. – Vamos.

              Guida os escutou partir. Eram eles, o restante dos profissionais. Reconheceu a voz rouca da garota, ela pertencia a Azelia, o tributo feminino do 4. Guida a havia observado durante o período de treinamento, e descobriu uma garota cruel, atrevida e cínica. Quanto ao rapaz, apostava ser o tributo do 2, não lembrava o seu nome, mas lembrava que também não tinha gostado dele.

              Guida respirou fundo e levantou-se. Sua ida a cachoeira teria que ser adiada. 

Civilians - Uma fanfic Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora