Armadilha para animais pequenos

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Dia 7

Romulo Walker

Distrito 8

              – Alguém definitivamente passou por aqui. – disse Dean abaixando-se para olhar melhor o terreno.

              Romulo estava com aqueles dois há quase dois dias, porém ainda não havia se acostumado com a situação. Estava, mais do que tudo, tenso e isso só parecia piorar. Eles haviam enfrentado uma estranha e quase infinita revoada de pássaros hostis e tinham ficado presos em uma espécie de labirinto formado por uma densa vegetação repleta de espinhos, nenhuma das experiências tinha sido fácil ou agradável, mas tanto Dean como Azelia não pareciam ter perdido o ânimo ou o desejo por sangue.

              – Ei! – Dean chamou impaciente.

              Romulo notou que ambos o encaravam.

              – O que? – ele quis saber.

              – O que você acha? – repetiu Azelia o encarando com olhos marotos. – Quem poderia ser?

              Romulo olhou clinicamente para os rastros no chão onde existiam algumas pegadas e galhos quebrados.

              – Hum... Existe apenas um padrão de pegadas, o que significa que ele está só. – Romulo começou franzindo o cenho – Elas são pequenas e não tão profundas... É um dos menores.

              Dean ergueu as sobrancelhas como se desdenhando dele, enquanto Azelia apenas esboçou o seu típico e provocador meio sorriso.

              – Um dos menores? – ela repetiu. – Quem poderia?

              – A garota do 12 ou até mesmo Briana do 7, ela é pequena. – disse Dean.

              – Meena? – disparou Azelia para Romulo. – Sua companheira de distrito?

              Romulo não esboçou nenhuma emoção, sabia que jogo estava a surgir.

              – Ela é pequena, magra e ainda tá por aí.

              – Pode ser. – disse Romulo dando de ombros.

              Eles ficaram em silêncio por um breve momento e voltaram a andar.

              – Estamos perto. – soltou Dean.

              Romulo não conseguiu evitar imaginar a cena, Meena sendo cruelmente morta em sua frente. Ele lembrou-se de um dos dias de treinamento na Capital, quando se aproximou de sua prima, que tentava aprender uma espécie de armadilha para capturar pequenos animais.

              – Você não deveria está aqui. – ela disse sem erguer os olhos dos nós que dava no pedaço de cipó. – Eles vão achar que você é fraco.

              – Eu não ligo para o que eles pensam. – disse Romulo a observando.

             – Você deveria. – ela disse apertando com força um grande nó – Você vai sobreviver à arena Romo. Eu escutei sua conversa com a Madison mais cedo.

              Romulo desviou o olhar até a seção de armas observando Mallory, a garota do 2, atirar lanças com precisão.

              – O que você acha? – ele a perguntou sem encará-la.

              – Eu acho que ela está certa. – continuou Meena em seu tom equilibrado e casual enquanto finalizava o seu trabalho – Você tem tudo pra ganhar, só tem que me deixar partir.

              – Eu não vou te matar Mina. – ele disse como se aquilo fosse ridículo.

               Ela o encarou com os seus olhos azul turquesa.

              – Então se afaste e deixe que os outros o façam.

Meena.

              Ele respirou fundo tentando empurrar para longe as lembranças de sua mente.

              – Qual o problema grandão? – perguntou Azelia o olhando de lado.

              Romulo tentou parecer descontraído.

              – Nada, só achei que você era daqueles que não se dão o trabalho de decorar o nome das pessoas.

               Azelia riu.

              – Na verdade eu sou. – ela disse afastando um galho baixo de uma árvore pequena. – Mas eu tenho um coração, e a história de vocês do 8 me comoveu. Então não se preocupe, se encontrarmos sua prima, você não precisa fazer, eu mesmo cuido dela.

              Que garota desagradável. Romulo sabia, quando se juntou a eles, que ela era uma das piores. O garoto Dean parecia apenas interessado na matança, enquanto ela gostava de jogar, jogar sujo, provocar. Ele tratou de mudar o rumo da conversa.

              – E quanto a vocês? – ele começou – Como perderam seus parceiros de distrito?

              Eles continuaram andando permanecendo em silêncio por um momento, talvez não querendo debater sobre a atuação dos distritos favoritos na competição daquele ano.

              – Eu perdi a Mallory na cornucópia. – disse Dean sem tirar os olhos do caminho – Num instante ela estava correndo em direção as armas e no outro estava numa luta com o garoto do 6. O cara praticamente decapitou ela com uma foice.

              Romulo torceu o nariz com a ideia. Lembrava bem dos tributos do 6, eles tinham feito bastante sucesso no desfile de abertura e na última entrevista. O menino, Samuel, era alto e desconfiado, não parecia ser do tipo violento ao ponto de decapitar alguém, Romulo esperava isso da menina, Lena, ela sim parecia ter a frieza para matar, com todo aquele jeito contido e esnobe, ele a viu cortar o pescoço do garoto do 10 na cornucópia, usando, com classe, uma alabarda.

              – E o garoto do seu distrito? – Romulo quis saber de Azelia.

               Ela respirou fundo como se sem vontade de entrar no assunto.

              – Há três dias, nós três tivemos uma discussão e o idiota do Thomas resolveu caçar comida por conta própria. Vinte minutos depois ouvimos o canhão. No início não achei que fosse ele, mas o tempo passou e ele não voltou, então nós esperamos até a noite e lá estava a cara dele no céu.

              – Alguma ideia de quem tenha feito?

              – Talvez Martha do distrito 1, ou algum do 6. – disse Azelia com tédio.

              – Distrito 6. – refletiu Dean – Esses caras estão se saindo verdadeiros pés no saco.

               – É. Eu só espero que o canhão de mais cedo não tenha sido para algum deles. – disse Azelia contemplativa – Eu realmente quero colocar minhas mãos no pescoço fino daquela menina ou acertar o crânio do garoto com meu martelo.

              Romulo a encarou em segredo. Não conseguia encontrar uma lógica por trás do comentário da garota ao seu lado. Ela era formosa, pele dourada, olhos verdes e cabelo cor de canela e ao mesmo tempo uma criatura terrível.

               – Olha só... – começou Dean animando-se – O que temos aqui?

              Romulo seguiu o olhar do garoto do 2 e viu a armadilha. Era pequena, uma armadilha feita com galhos e cipós de árvore, uma armadilha para animais pequenos.

              – Existe alguém por perto, ah existe. – disse Dean olhando ao redor.

              Romulo sentiu o olhar soslaio de Azelia e apenas uma coisa lhe veio à cabeça: Meena. 

Civilians - Uma fanfic Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora