Sail

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Receoso, Dolov se encostou na cabeceira da cama conforme Niko se aproximava, apenas para puxar uma poltrona perto da lareira e sentar a uma curta distância de seu pai. Tinha uma boa noção que Dolov poderia ter alguma arma escondida no quarto e a plena certeza que ele usaria caso fosse necessário. Ficaram se encarando durante minutos e a energia negativa que um lançava contra o outro era inegável.

- Sabe, Niko - Dolov levantou da cama, destampou o uísque que ficava próximo dele e encheu um copo - Não me surpreende ver você aqui... O que me surpreende é as circunstâncias que te permitiram chegar até aqui - Deu um bom gole no líquido alcoólico.

- Circunstâncias?! - Niko começou a mostrar seu lado neurótico novamente, botou a mão no bolso e deixou o celular ligado - Sabe quais foram as circunstâncias que me trouxeram até aqui? Uma delas é a verdade, e eu quero ouvir você falar na minha frente.

- Do que está falando? - Ergueu a sobrancelha esquerda, curioso para saber do que o filho falava - Você foge da prisão com um terrorista, vem até a MINHA casa e vem me cobrar verdades? Verdades do que, Niko?! Você está destruindo a sua vida e eu que tenho que te contar a verdade?

- E-Eu... - Niko gaguejou devido ao nervosismo. Não podia dar para trás, não agora.

- A única verdade é que você detonou com a última esperança de ser alguém na vida - Dolov sabia pegar no ponto fraco de Niko e fazer com que ele abaixasse a cabeça.

Mas não era aquilo que iria acontecer agora.

- Ser alguém na vida? Com a ajuda sua?! - Niko debochou de Dolov - Um corrupto maldito, safado e assassino, isso que você é! - Praticamente cuspiu todas as palavras que havia dito.

- Perdão... Assassino? - Dolov riu.

- É isso mesmo que você ouviu - Niko levantou, irritado. Passou a manga sobre a boca, limpando um resquício de saliva que havia cuspido - Eu descobri que foi você quem meteu fogo na porra da nossa casa! A minha mãe morreu por sua causa e eu cresci vivendo numa mentira! Você tirou a porra da minha mãe de mim e tudo por causa de um jogo político que te colocou a corda no pescoço até hoje!

Dolov não tinha uma feição de humor presente, estava ouvindo tudo o que Niko dizia, calado.

- A sua cara nem arde, seu maldito - Niko sequer chegava perto de Dolov de tanta raiva que ele sentia - Descobri tudo o que você aprontou em 2006, graças ao "terrorista" que me tirou da prisão! - Fez aspas com os dedos - E não venha negar que você não fez isso, pois eu lembro muito bem da porra da sua ausência quando todas essas coisas aconteceram! - Chutou a poltrona conforme gritava - Tem noção do quanto você desgraçou a nossa vida?! Se a minha mãe estivesse viva eu acho que nada disso estaria acontecendo... ela se importava de verdade comigo e ela não ia deixar eu afundar a minha vida. Não iria... - Niko bufou, dessa vez cansado. Passou a mão no rosto, enquanto via Dolov parado perto da cama - Você colocou fogo nela... Ela sofreu até na hora de morrer...

- Niko, era pelo bem da família, você nunca perdeu os luxos que teve na adolescência - Dolov tentava se explicar.

- Grande bosta! Eu trouxe um deles comigo hoje?! Perdi tudo graças aquela vadia da Alice! - Mais uma vez Niko começou a perder a linha - Se você tivesse nos deixado ir embora poderia ter evitado tanta coisa, mas preferiu que ela morresse, da pior forma possível.

Niko pegou a poltrona do chão e sentou nela novamente.

- E tudo isso pelo dinheiro - Sorriu cinicamente para Dolov, que observava o filho horrorizado. Não reconhecia o Niko de antes, e provavelmente ele nunca iria voltar - Você me odeia, mas eu me tornei exatamente quem você é. Eu sou um reflexo da sua pessoa, mas numa versão muito pior.

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