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Magnus arremessou toda a água com sabão do balde no centro do corredor principal, lavando a enorme poça de sangue jorrada por Trevor ao ser baleado. A bagunça o incomodava e aos poucos, os detentos paravam com a algazarra e começavam a se questionar o que seria deles após o motim.

- Está chovendo, todos vieram para dentro. Não há ninguém na quadra principal e nem no jardim - Trick mordeu uma das últimas maçãs disponíveis na cozinha - Se não entrarem nessa prisão, vai todo mundo terminar se matando para comer.

- Ainda bem que peguei a minha parte e escondi - Ter acesso à cozinha não foi um problema para Raphael, exceto pelo fato de Jason ter assumido o controle de todas as facas. Ao fundo da conversa, Magnus continuava limpando a poça de sangue - A única coisa que tenho certeza que é não vou levar a culpa daquele cara ter tomado um tiro.

- A real é que todo mundo vai levar a culpa disso aqui - Trick não estava surpreso que sua ficha criminal seria atualizada por conta de mais uma rebelião - E a única coisa que eu quero saber agora, é aonde foi parar o meu cigarro - Tateou o uniforme e o próprio corpo, mas não encontrou o maço em lugar nenhum.

- Onde está o seu amigo? - Raphael perguntou. Puxou um cigarro do bolso da camisa e entregou para Trick, que por sorte tinha um isqueiro.

- O Devon? - Trick ria enquanto acendia o cigarro, aliviando previamente o estresse após a primeira tragada - Resolveu dar uma de bom samaritano e ajudar aquele surtado que fica colado com o Miguel.

- O Belic? Porra... aquele cara tá muito estressado ultimamente - Raphael concordou que Belic não era uma das pessoas mais calmas da prisão - E falando no Miguel, vi ele agora pouco indo para o corredor principal. Parecia que ele estava acompanhado de algumas pessoas.

- Algumas pessoas? - Trick arqueou a sobrancelha - O Belic estava?

- Parecia que não - Raphael deu uma tragada no mesmo cigarro e o devolveu para Trick - Devia ser mais gente da turma dele, estavam todos encapuzados. Não tinha como saber quem era.

- Estranho - Trick pensou durante um longo minuto, mas deu os ombros - Que esse Miguel se foda. Não gosto dele.

A prisão tinha acalmado os ânimos após o início do motim. Roger, o presidente da Merryweather Security, estava sofrendo uma enorme pressão do governador da Califórnia para que os reféns fossem entregues com segurança e a rebelião fosse encerrada o mais rápido possível. A grande mídia do estado focava a todo tempo em todo o complexo penitenciário, focando em especial nos nomes de Ruy Montana, que a todo momento os atualizava sobre qualquer ocorrido.

Na capela da prisão, que ficava próxima à enfermaria, Ruy estava ajoelhado em frente a um dos bancos. Niko estava sentado ao seu lado, ouvindo ele orar o mais baixo possível. Havia pelo menos dois detentos na mesma situação, o que estava fazendo o Roosevelt perder a paciência.

- Será que você pode me dar uma atenção? - Niko cutucou Ruy, que finalmente o olhou - Não temos muito tempo - O celular do Montana não parava de vibrar e ele desligou após se irritar com o aparelho e com o Roosevelt lhe importunando ao mesmo tempo.

- O que você quer agora, Niko? Não posso nem mais rezar em paz?! - Ruy já havia entendido que o Roosevelt não teria nada sério com ele. Se ergueu e sentou no banco - Já vi que você o Khalid estão juntos novamente e não temos mais nada - Olhou brevemente o crucifixo iluminado, com algumas lâmpadas de vela ao redor.

- Ruy! Para de ser ignorante! - Niko abriu os braços, incrédulo. Ruy guardava um enorme rancor pelo fato de ter sido trocado por Khalid na primeira oportunidade, mesmo depois de ter feito de tudo para que o Roosevelt não se sentisse mal - Acha que eu não reconheço tudo o que você fez por mim? 

- Parece que não - Ruy revirou os olhos.

- Cara... Ninguém fez metade do que tu fez por mim, me ajudando em todos os momentos ruins - Colocou a mão no ombro de Ruy e sorriu para ele - Nem o Khalid. Mas você merece alguém muito melhor do que eu - Dentro de si, Niko sentia que estava dispensando a única pessoa que realmente o tratou como ele imaginou se tratado algum dia. No futuro, talvez sua relação com o Hussein pudesse não funcionar, e não teria também o ex-repórter por perto.

- Você fala como se a gente nunca mais fosse se ver. Credo - Ruy olhou um pouco angustiado para Niko - Esqueceu que ainda tem um julgamento pela frente?

- Isso vai ser uma puta de uma dor de cabeça. Não me faz lembrar que depois dessa rebelião, tem um processo para encarar - Niko desanimou no mesmo instante.

- Relaxa, Niko - Ruy tentava fazer ao máximo se conformar com a realidade. Sua profissão o exigia disso, pois a todo o instante estava de frente com uma situação diferente e na maioria das vezes era algo ruim - O que estamos vivendo aqui não vai ser a mesma coisa de quando sairmos. Mas esse lugar é uma ferida que nunca vai se cicatrizar. Ninguém esquece a passagem por aqui.

Niko coçou a nuca. Ruy tinha razão, aquele lugar iria marcar a vida dele para sempre e não haveria terapia alguma que o fizesse esquecer. Para o próprio Roosevelt, ele havia aprendido o que era a viver, dentro da prisão.

- Ruy, você ainda consegue acreditar em Deus, depois de tudo o que aconteceu? - Niko desta vez também passou a olhar para o altar. A última vez que havia frequentado a igreja, era quando ele namorava Alice e se lembrava quando ia para os cultos ao domingo com sua mãe.

- Eu fui criado como católico. Minha mãe crê em todo o tipo de religião e ela sempre disse que que eu estava protegido por conta da fé da nossa família - Ruy riu sem graça alguma - E olha onde eu vim parar. Mas ainda sim Niko, eu acredito em Deus e ele tem um propósito para cada um de nós aqui no mundo.

- E eu espero que esse propósito se cumpra o mais rápido possível - Niko arqueou a sobrancelha, preocupado com o futuro.

- O que está havendo lá na frente? - Ruy ouviu uma grande barulheira vinda do lado de fora da prisão.

Niko e Ruy pararam na janela. Estavam no primeiro andar do complexo penitenciário e puderam ver amplamente além das cercas. Vários homens da Polícia Metropolitana de Los Angeles, jornalistas de todo tipo de rádio e emissora possível se encontravam no portão principal, além do próprio CERT.

Entretanto, alguém que nenhum dos dois esperava, também surgiu e bem acompanhado.

- Nem fodendo... - Niko colocou a mão sobre a boca - Eu pensei que todas as saídas tivessem sido fechadas!

- Parece que alguém descobriu a saída pela lavanderia - Ruy também não podia acreditar no que estava presenciando.

Do lado de fora da prisão, Miguel estava acompanhado de Montserrat, Beliza e Marilyn. As três o escoltavam, garantindo que ele não sofresse qualquer tipo de represália assim que todos saíssem para fora do complexo penitenciário. Disfarçadas de detentos, finalmente se revelaram ao abaixar o capuz do uniforme de frio. Para a surpresa de Niko e Ruy, Miguel havia traído a todos, numa rebelião que ele mesmo havia orquestrado.

Com as mulheres de maior poder aquisitivo fora da prisão e sem a confirmação do paradeiro de Kim e Trevor para as autoridades policiais, era o passe perfeito para que o CERT invadisse a prisão e acabasse com a rebelião de uma vez por todas. Com a autorização de Roger e o governador do estado da Califórnia, era exatamente o que seria feito dentro de alguns minutos.

- Essa não... Temos que voltar para a enfermaria agora! - Niko pegou Ruy pelo pulso esquerdo e saiu correndo da capela, assim que viu os homens do CERT passarem pelo portão da Penitenciária Umbrella e jogarem uma bomba perto da porta principal - Ruy! Fodeu!





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