🍂96. "As batidas do seu coração fazem o mundo continuar girando"🍂

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San POV

15:07.

Já fazia um tempo desde que parei de ler O Silêncio Das Águas, eu estava ocupado demais em minha tristeza e hoje resolvi reler. Os pais de Maggie estavam se separando, como os meus só que diferente dos pais dela, os meus nunca mais se veriam ou ouviriam uma notícia sobre o outro.

Brooks está tão deprimido quanto eu e o fato de ele afogar sua dor em bebidas me faz querer sair e beber, eu devo ter alguma bebida barata guardada mas eu sei que Wooyoung não me deixaria beber a não ser que ele bebesse comigo. Eu queria que houvesse alguma coisa que me fizesse esquecer aquela cena, aquela fodida e perturbadora cena.

As palavras de meu pai estão impregnadas em minha mente ao mesmo tempo em que eu me lembro do trecho de alguma música da qual esqueci o nome.

"Eu não quero mais ser você", essas palavras tem o mesmo peso que as palavras de meu pai.

"Eu não quero que você venha, você não veio antes então agora não irá adiantar. Se vier, não me avise.", não é nenhuma novidade para mim saber que minha presença é indesejada mas doeu, doeu porque eu perdi de uma vez só meu pai e minha mãe.

"Percebi que era mais fácil encher a cara e permanecer bêbado", Brooks não estava tão errado assim.

Minha garganta dói de tanto tentar segurar o choro, meus olhos ardem e eu preciso de alguma coisa que me faça esquecer isso. Desde ontem eu não consegui sair do quarto para absolutamente nada, eu não tomo banho a quase um dia e não como nada, eu não tenho fome.

Com as pernas tremendo pela falta de alimento eu me arrasto até o criado mudo e pego um maço de cigarro, voltando a me sentar no chão com as costas encostadas na cama. Risco o isqueiro e acendo o primeiro cigarro, tragando a fumaça para dentro de meus pulmões.

"Eu não quero olhar para você, seus olhos me lembram ela. Por favor, não venha me ver", sinto vontade de gritar mas apenas trago outra vez o cigarro, sentindo o cheiro invadir minhas narinas.

"Se você me amava, porque me deixou?", eu disse que a amava apenas uma vez mas ela estava dormindo. Ela se lembrava disso?

Somente o cigarro não vai ser suficiente então me levanto do chão e caminho em direção a cozinha com o isqueiro e cigarros em mãos, Wooyoung não está aqui e eu não faço a mínima de onde ele possa estar. Abro o armário e encontro uisk e vinho, perfeito.

Abro a garrafa com certa dificuldade e viro o líquido quente pela minha garganta, queima mas eu não me importo, eu não sei se me importo com qualquer coisa a não ser parar de sentir essa dor insuportável. Mais um gole, outro, outro e outro, a garrafa está quase seca e minha cabeça dói.

O barulho da porta se abrindo e fechando em seguida não me impede de secar a garrafa e tragar outro cigarro, eu estou uma completa bagunça. O choro involuntário faz minha garganta doer ainda mais e as lágrimas caem freneticamente, eu preciso de mais bebida.

Vinho, vermelho como o sangue que faltava no corpo de minha mãe ontem. Wooyoung se senta em minha frente mas eu não olho para ele, seria doloroso ver seu olhar de decepção mas afinal, quem nunca se decepcionou comigo?

O vinho quente desce queimando, fazendo meu cérebro funcionar mais lento e o choro se tornar menos doloroso, acendo outro cigarro e dou um trago longo. Wooyoung continua em silêncio enquanto me olha, eu sinto seu olhar em mim mas não sei o que ele está pensando disso.

Olho para ele com toda a coragem que tenho, seus olhos estão brilhando pelas lágrimas acumuladas e ele me olha preocupado e triste, certamente não era isso que eu esperava. Seguro a garrafa pelo gargalo e ofereço para ele que nega e então deixo a bebida rasgar minha garganta, desejando que rasgue meu coração e me leve a morte.

-O que você está tentando esquecer?- sua voz soa baixa e eu o olho outra vez, seus olhos encontram os meus e o choro chega a minha garganta.

-Não sei, talvez esquecer o peso da minha existência ou até mesmo esquecer quem eu sou.

-Porque?

-É uma boa pergunta -minha voz está estranha e eu trago mais uma vez o cigarro- Porque? Eu não sei, eu já nem sei mais se eu quero continuar respirando pelas próximas horas. -a ironia presente no começo da frase se perdeu em minha voz embriagada, os olhos de Wooyoung estão preocupados e cheios de lágrimas das quais ele se recusa a derramar.

-E você vai me deixar aqui? Sozinho? -suas palavras doem e eu respiro fundo.

-Você consegue viver sem mim- olho para ele e uma lágrima escorre por sua bochecha- Não consegue?- ele balança a cabeça e limpa o nariz, as lágrimas acumuladas escorrendo pelas bochechas rosadas.

Apago o cigarro e fico encarando seus olhos enquanto ele tenta não chorar, porque ele não consegue viver sem mim? Ele já fez isso antes, vai ser como voltar ao passado, ele não vai precisar se lembrar de mim.

-Você está mesmo disposto a desistir? E todo aquele papo de "obrigada por me ajudar a continuar"? Você se esqueceu?-ele pergunta com a voz calma e eu dou um sorriso cínico.

-Eu nunca quis dizer aquilo. -minto, eu preciso que ele desista de mim.

-Não foi o que pareceu e não venha me dizer que você é um bom ator ou coisa do tipo, eu não vou desistir de você só porque na sua cabeça nada mais importa. -ele não está agressivo nem nada, está calmo como se conversasse com uma criança de cinco anos.

Talvez seja isso que eu estou sendo agora, uma criança de cinco anos.

-Porque? O que eu tenho de tão bom assim para fazer você ficar?-pergunto sentindo as lágrimas voltarem e ele joga a cabeça para trás.

-Eu estou fodidamente apaixonado por você desde a primeira vez em que eu te vi, eu não preciso ter algo em troca para amar você. Se você não sabe lidar com isso eu sinto muito, eu não posso fingir que ver você assim me machuca tanto quanto está machucando você. Eu amo você, isso é suficiente.

-Sinto muito. -é só o que eu falo e sua mão alcança a minha em cima da mesa.

-Por favor, não faça isso. -ele pede, seus olhos preocupados e cheios de lágrimas enquanto ele implora para que eu não desista.

Apenas balanço a cabeça e volto a chorar, dessa vez sem beber ou fumar, só o choro fazendo minha garganta doer e o toque delicado de Wooyoung em minha mão.

-San -ele me chama num sussuro e eu olho para ele, tentando controlar o choro- As batidas do seu coração fazem o mundo continuar girando.

Are We Still Us? [woosan] • EM REVISÃO •Onde histórias criam vida. Descubra agora