Uma semana depois
Segunda feira. 23:54.
Eu nunca imaginei que um dia veria San conversar tão abertamente com meus pais, nós estamos sentados observando as estrelas enquanto meu pai e San bebem vinho. Um momento simples mas de alguma forma muito significativo.
Deito minha cabeça no ombro dele e respiro fundo, o vento do início da madrugada sopra fraco contra nós. San pega minha mão e entrelaça nossos dedos, meu coração está aquecido por ter ele aqui. Eu esperei sabe lá quanto tempo para encontrar ele e hoje finalmente o tenho aqui do meu lado, o tenho só para mim.
-Então vocês vão se casar?-meu pai pergunta cruzando as pernas.
-É, é o que estamos planejando. -San diz me olhando com um sorrisinho e meu pai balança a cabeça.
-Eu era assim também, quando conheci sua mãe nós éramos como cão e gato -meu pai começa a contar quando minha mãe se senta ao seu lado- Sua mãe me odiava porque, cá entre nós, eu nunca tive uma fase ruim. Ela era caidinha por mim e eu por ela mas demoramos muito tempo pra assumir isso, foram anos de brigas e revirar de olhos até o nosso primeiro beijo. -ele diz olhando para ela de um jeito apaixonado e eu sorrio.
-E depois do primeiro beijo, o que aconteceu?-San pergunta se sentando de forma mais preguiçosa do meu lado e eu olho para as estrelas, me perdendo da conversa.
Ouvir a risada dele e saber que mesmo depois de tudo ele está feliz é extremamente gratificante, saber que eu ainda consigo ser o motivo de algumas risadas e sorrisos dele me deixa feliz.
Se existe mesmo essa coisa de destino e tudo mais, ele deve estar se divertindo agora. Ele nos fez brigar como cão e gato, nos fez chorar horrores para no fim de tudo nos unir de novo com um casamento. Mas, caso não exista, é tudo uma questão de amadurecimento.
Nós passamos por tanta coisa e em tão pouco tempo tudo mudou de uma forma um tanto drástica, vezes mudaram para pior e outras para melhor mas independente da situação nós nunca saímos do lugar. Nosso corpo poderia estar do outro lado do mundo mas inevitavelmente acabávamos pensando um no outro, era simplesmente impossível tentar focar em outra coisa.
-Você está bem?-San pergunta com a voz baixa em meu ouvido e eu vejo meus pais indo para dentro.
-Sim. -falo deixando um beijo rápido em seus lábios e ele sorri pequeno.
-Obrigada por isso. -seus olhos escuros me encaram sob a luz fraca da lua e eu engulo em seco.
-Pelo o que?
-Por ficar comigo e me suportar esse tempo todo. -ele está sério e seus olhos brilham, dou um sorrisinho e tento não beijar a boca dele.
-Não precisa agradecer, bebê. -falo acariciando a bochecha dele e ele sorri pequeno.
-Hum. -ele murmura e me puxa para perto, passando seus braços pela minha cintura.
-As estrelas são lindas. -falo com a voz baixa e ele suspira ao meu lado- Você está bem?-pergunto ele tosse um pouco.
-É, acho que sim. -olho para ele, seus olhos analisam as estrelas e brilham pelas lágrimas acumuladas.
-Mesmo?-insisto e ele me olha.
-Sim, só estou com saudades dela.
A voz dele falha quando uma lágrima escorre e ele a limpa rapidamente com um sorrisinho triste, meu coração se aperta e ele deita a cabeça em meu ombro suspirando outra vez.
-O que fez você sentir saudades dela?-pergunto acariciando o cabelo dele e ele boceja antes de responder.
-Não sei, acho que falar com seus pais e ver que você teve uma boa infância me fez lembrar dos momentos bons que tive com ela, mesmo que tenham sido poucos. -meus dedos se afundam ainda mais no cabelo dele e meus olhos ficam um pouco pesados.
-Quer me contar sobre suas lembranças lá dentro?-pergunto com um tom sugestivo e ele assente se sentando.
Ele se levanta antes de mim e me estende a mão, o caminho até meu quarto é feito em um silêncio confortável até nos deitarmos na cama devidamente prontos para dormir a qualquer momento.
San POV
Sentir o cheiro do quarto de Wooyoung é como estar em casa, estar deitado com ele no quarto dele é reconfortante. Encaro as estrelas fluorescentes no teto enquanto seus dedos fazem um carinho gostoso em meu cabelo.
-Qual a melhor lembrança que você tem da sua mãe?-ele pergunta baixo e eu mordo o lábio, buscando no fundo da minha mente as poucas lembranças que tenho dela.
-O dia do meu aniversário de sete anos, aquele dia foi um dos melhores da minha vida. -falo e as memórias surgem claras em minha mente.
~×~
-Mamãe, acorda! -gritei pulando em cima dela e de meu pai na cama, eram exatas oito da manhã e eu estava eufórico.
Era o meu aniversário.
-Oi querido, o que foi?-ela perguntou abrindo os olhos devagar, meu pai nem se mexeu.
Me deitei no meio dos dois e olhei para ela, seus olhos escuros e profundos me olhando como se eu fosse tudo o que ela tinha. Naquele momento eu senti meu coração se aquecer quando ela tocou meu rosto com os olhos miúdos por ter acabado de acordar.
-O que foi, bebê?-ela perguntou outra vez e eu sorri sem os dois dentes da frente.
-Hoje é o meu aniversário!-disse empolgado e ela levantou as sobrancelhas.
-É mesmo?!-ela questionou e eu assenti freneticamente.
-Sim, são sete anos. -disse dobrando os dedos da mão até dar a conta certa.
-San, porque você não volta a dormir?-meu pai perguntou com a voz rouca e se virou para mim.
No início achei que ele iria brigar comigo mas então seus braços passaram pela minha cintura e ele beijou minha cabeça. Minha mãe o olhou como sempre, os olhos brilhando e denunciando sua paixão.
-Ainda são oito da manhã, você não vai crescer se acordar tão cedo assim. -meu pai continuou e eu franzi as sobrancelhas com um biquinho nos lábios.
-Mas então porque o senhor acordar esse horário todos os dias?-perguntei e ele suspirou, me deitei de costas para observar o rosto dos dois e ele me olhou.
-Eu já sou um adulto e não preciso mais crescer, você é uma criança e precisa crescer e se tornar um homem forte então precisa dormir.
-Eu não estou com sono. -cruzei os braços ainda com o bico nós lábios e ele riu, a risada mais sincera em tempos.
Nós ficamos nessa discussão até às nove e meia, depois saímos para as compras e então voltamos. Almoçamos e as quatro da tarde minha mãe resolveu preparar meu bolo preferido e disse que eu poderia comer a massa que ficasse na vasilha.
O dia se passou tranquilo, meu pai brincou comigo como nunca antes e a noite meus colegas da rua vieram e nós brincamos até tarde da noite. Eu estava me sentindo bem, minha mãe estava bem, meu pai também. Tudo estava bem, eu tinha a família perfeita.
~×~
-Você ainda se lembra de tudo?-Wooyoung pergunta com a voz sonolenta e eu assinto.
-Sim, foi um dia importante. -falo sentindo minha garganta se fechar e ele afunda os dedos em meu cabelo outra vez.
-Que bom que você se lembra, ao menos você tem algo bom para se lembrar daquela época.
-É, acho que sim. -minha voz sai estranha e eu olho para ele.
-Eu te amo, ok? Nunca se esqueça disso. -ele diz com os olhos fechados e a voz lenta, me acomodo melhor nele sentindo o sono chegar e respiro fundo outra vez.
-Eu também te amo. -falo baixo e ele dá uma risadinha.
-Apenas continue assim, ok? só continue sendo o cara por quem eu me apaixonei.. tá?
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Are We Still Us? [woosan] • EM REVISÃO •
Hayran KurguSan todos os dias escreve em seu bloco de notas o quão triste se sente pela falta de Wooyoung e o quão arrependido ele está por ter o deixado partir sem dizer ao menos uma única palavra que o confortasse. Mas então um dia triste e monótono como qua...