Cap 9

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Nós estamos normalmente mais assustados do que machucados, e sofremos mais na imaginação do que na realidade.

Sêneca

Sêneca foi um filósofo, poeta e humanista que se ocupou de refletir e escrever sobre a alma, a existência humana, ética, lógica e a natureza. Seu pensamento filosófico propunha a igualdade entre os homens sendo avesso à escravidão e à distinção social. Ele destacava a importância da fraternidade e do amor entre os homens como forma de amenizar as dores da existência, dada importância de ser resiliente em determinadas situações da vida.

Ser resiliente é a capacidade de se adaptar as mudanças e lidar com problemas. Quando você rala o mesmo joelho várias vezes, sua pele passa a se fortificar, isso não significa que irá parar de ralar ou sangrar, mas significa que a dor já não vai te incomodar tanto e a ferida terá uma cicatrização mais acelerada. Ou seja, Sêneca acreditava que quando existia uma harmonia entre os seres humanos, agindo de forma ética e lógica, as dores e as feridas existenciais assim como físicas e sociais, seriam enfrentadas com resiliência e assim já não seriam tão sofridas.

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Eduarda enfrentava dúvidas crescentes e polêmicas que resultavam de suas escolhas naquele dia, se afastar, se preocupar, deixar acontecer, tudo ainda pairava em sua mente a impedindo de ter uma boa noite de sono. Estava deitada a horas e não conseguia pregar os olhos, a primeira vez que se apaixonou por uma garota foi praticamente condenada dentro de sua própria casa, ainda assim o tanto que apanhou não foi o suficiente para mudar seu pensamento e a
as coisas que nunca foram boas por lá, só passaram a piorar. Eduarda nunca teve um lar de amor e carinho com pessoas que se preocupassem com ela, essa era a verdade, quando seu irmãozinho nasceu ela jurou para si mesma que o protegeria e que seus progenitores nunca fariam com ele o que faziam com ela, por mais que ela tenha cumprido a promessa por um bom tempo, seu irmão ainda assim foi vítima de um ódio e crueldade sem tamanho, um serzinho tão pequeno tinha sido tratado pior do que lixo por seus próprios pais.

A realidade era que a única pessoa que Duda realmente se importou e se preocupou antes de ir parar naquele orfanato foi com seu irmão, e agora se pegava pensando em uma ruiva que estava machucada e com dores do outro lado da cidade, uma ruiva que vinha ganhando seu coração aos poucos, um coração onde só havia espaço para o pequeno Joaquin por muito tempo, a morena não conhecia a Oledon com tanta propriedade e se questionava se deveria ou não deixar a garota entrar em sua vida tão rapidamente. Se lembrou das semanas que passou estudando ao lado de Bianca, se lembrou principalmente que a mais alta nunca forçou nada, nem uma mísera interação, ela passou aqueles dias inteiros apenas estudando e lendo as perguntas de Eduarda em um caderno, foi a partir dessa memória que a morena reparou no quanto a ruiva era paciente, parando para pensar Duda não encontrou nenhuma memória das duas onde tinha sido forçada a sequer falar, em seus olhos era claro a admiração e curiosidade pela órfão, porém mesmo assim nem uma interação foi forçada, percebeu também que mesmo confusa com seus sentimentos a Oledon não se afastava, ela queria estar perto, queria conhecê-la e isso a deixou um pouco mais tranquila, porque talvez não fosse só uma curiosidade passageira e sim um interesse e cuidado genuíno, talvez a confusão e o medo do novo não assustasse tanto a ruiva, isso já era um grande ponto. As afirmações feitas naquela madrugada fizeram com que Eduarda conseguisse dormir o resto da noite com serenidade e querendo ou não ela passou a noite inteira pensando na outra, já que Bianca dominava até seus sonhos.

Na manhã seguinte a morena acordou animada, talvez naquele dia conseguisse ver a ruiva que dominava seus pensamentos, caso a melhor amiga da Oledon aparecesse no orfanato sozinha mais uma vez ela pediria uma carona, estava decidida, se a mais alta não podia ir ao orfanato por conta dos machucados ela iria até a ruiva, sentia a necessidade de encontrar com a menina que vinha ganhando espaço em seu peito. Assim se seguiu sua manhã ansiosa pela hora em que Bianca sairia do colégio.

Quase Invisível (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora