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O despertador tocou às seis da manhã naquele sábado de inverno, as cobertas pareciam mais quente e aconchegantes, a cama estava mais convidativa e o quarto acolhia para ficar ali o dia todo, de preguiça, depois de uma longa semana de trabalho. Entretanto, isso não estava nos planos de Yoongi que, após ter amaldiçoado seu despertador, retirou lentamente as cobertas de seu corpo, sentindo o ar gelado repousar em seu corpo.

Ainda estava com os olhos fechados, tateou a cama em busca de seu celular para desligar aquele som estridente, que havia lhe acordado de seu sono profundo e relaxante. A claridade do aparelho era torturante, mas ele não tinha muitas escolhas, havia muito o que fazer e não tinha tempo para ficar enrolando em sua confortável, e muito tentadora, cama.

Cerrou os olhos e espreguiçou o corpo, sentindo todo o seu corpo se esticar e depois aliviar, trazendo aquela sensação amolecida e pesada de seus músculos. A pouca claridade que vinha da janela não o incomodava mais. Bocejou e coçou os olhos. Estava postergando seus afazeres com os detalhes do despertar.

Com um impulso simples, levantou o troco, a cama parecia sentir falta se corpo nela, ele olhou para o espaço vazio, mas logo dirigiu-se a seus pés, que tocam o cálido chão, fazendo sua atenção se focar ali. Havia perdido as meias durante a noite, não era de se mexer dormindo, mas seu sono estava agitado nos últimos dias, fazendo a cama parecer menor e muitas coisas se perderem no edredom.

Yoongi caminhou a passos lentos até o banheiro, que parecia estar mais claro que comum, depois que as coisas foram empacotadas. Tudo ali dentro fazia eco, o som da escovação batiam nas paredes e voltava, o lembrando quanto ali estava vazio. Ele se olhava no espelho, os fios bagunçados de seu cabelo loiro dourado, a cara ainda inchada de sono e as olheiras, comunicavam o que a correria daquela mudança estava lhe causando.

Sua mente antecipava o prazer de sentir o aroma do café antes dele ficar pronto em sua xícara, a água ainda molhava o pó e ele já podia sentir a saliva se juntar em sua boca, aquele momento era um dos únicos pelo qual valia a pena acordar tão cedo.

Não havia muita louça para ser usada, apenas uma peça de cada coisa. Um copo, um prato, uma panela, um jogo de hashi, a maior parte das coisas já estavam nas caixas e o que ficou para ser empacotado por último, foram os objetos indispensáveis no dia-a-dia, até que a mudança acontecesse.

Min Yoongi podia ver seus vinte e oito anos de história, ali em Daegu na Coreia do Sul, serem colocados em caixas de papelão e empilhadas para serem transportadas até seu novo destino. O rapaz loiro, com a pele alva e seus olhos tão escuros quanto a noite, não conseguia dissolver o que estava acontecendo em sua vida naquela ocasião.

Tudo aconteceu muito depressa e sem aviso prévio. Yoongi era funcionário de uma empresa de segurança de informação, era formado em ciência da computação e especializado em banco de dados, era muito bom em encontrar brechas onde elas não deveriam existir. Um talento que logo foi notado por seu supervisor e, em um dos acordos com uma de suas filiais no Japão, ele foi mencionado e uma proposta de transferência foi feita.

Talvez a ideia de ficar sem emprego era mais assustadora do que mudar de país e imergir em uma cultura, e língua, um pouco diferentes da sua. Foi uma oferta irrecusável, com nenhum benefício extra e ainda o desafio de lidar com uma economia distinta.

Yoongi tomava seu café enquanto repassava as tarefas daquele dia, tinha até segunda-feira de manhã para por suas coisas no container que seria levado para seu novo apartamento em Tóquio. Seu voo estava programado para pouco antes do meio-dia e teria pouquíssimo tempo até que sua nova rotina de trabalho se inciasse.

Fazia um mês desde sua vida virou do avesso, ele era motivo de muito orgulho para sua família e amigos mais próximos de seus pais, Yoongi era filho único, então os olhares sempre estavam voltados para ele quando se tratava de desempenhar o papel de filho.

Por mais que, para seus pais, tudo fosse visto como uma ótima oportunidade, para Yoongi, era apenas uma mudança que ele não desejava para sua vida naquele momento. Alguns de seus amigos até o incentivaram a não prosseguir com a proposta, mas ele precisava do emprego e do dinheiro, morava sozinho, tinha contas para pagar e nenhum intuito de voltar a morar com seus pais.

Tentou encarar aquilo como um novo obstaculo a ser vencido em sua vida, como uma fase difícil de um jogo, mas isso só servia para mascarar a crescente ansiedade que era gerada por saber que, tudo que ele conhecia e estava acostumado, se transformaria no novo e desconhecido. Era assustador.

Poucas coisas o consolavam e uma delas era saber que, poderia ter todas as suas "frescuras" metódicas e pragmáticas, sem que fosse pauta de um debate interminável sobre autocobrança. Yoongi conhecia pouquíssimo sobre o Japão e sua cultura, o mínimo que tinha de conhecimento, foi que lhe foi passado na escola, todas as coisas de colonização e guerras, mas nada muito voltado para o estilo de vida atual. Isso, ele teve que pesquisar por conta própria.

Yoongi terminou seu simples café da manhã e ajeitou a cozinha, seu apartamento estava ficando cada vez mais vazio, o que fazia ele se sentir mais sufocado com todo aquele espaço. Colocou uma música relaxante para esquecer o silêncio que tomava conta, precisava terminar de colocar suas roupas nas caixas e seus aparelhos eletrônicos do escritório.

Cantarolava seguindo o ritmo da música enquanto passava a fita, fechando a caixa, era um dos poucos momentos que conseguia ouvir sua própria voz. Levava as caixas para a sala, que havia virado um comodo de armazenamento, até que a mudança acontecesse.

O dia foi monotonamente assim, colocar tudo ajeitado e organizado em caixas, as fechar, levar até a sala, empilhar com cuidado e repetir o processo. Yoongi fez uma única pausa para algo que ele chamou de almoço. Um lanche de frios e salada, que não precisava ser esquentado, comprado em uma loja de conveniência na noite passada na volta do serviço, acompanhado de um refresco gaseificado de uva verde. Muito nutritivo.

Depois que a última caixa foi posta na sala, tudo que faltava era arrumar sua mala com o restante das coisas, na segunda-feira de manhã. Yoongi evitava olhar para as caixas, fitava o chão e ignorava o som do vazio que coava a cada movimento que ele fazia pelo apartamento.

Entro no banheiro e ligou o registro do chuveiro, a água caia e esquentava enquanto ele tirava a roupa para se limpar, seu corpo estava um pouco dolorido do esforço da arrumação e os movimentos repetitivos, um banho quente o ajudaria a relaxar e desfocar da mudança.

Yoongi sentia a água escorrer por seu corpo, com os olhos fechados, podia perceber os músculos de seu corpo relaxando e sua respiração ficando mais longa e calma, apoiou uma das mãos na parede, a água pingava em sua nuca, queria abrir os olhos e ver que tudo não passou de um pesadelo. Mas era a realidade.

Ficaram poucas trocas de roupa para ele usar, nada muito luxoso ou extravagante, somente o bem e velho básico, que serve para todas as ocasiões. Yoongi estava pronto para por seu pijama e pedir alguma comida em um aplicativo de entrega rápida, não estava em seus planos sair naquele sábado. Por sorte, ele pegou o celular antes de se vestir, se não, não teria visto o convite de Hoseok para eles jantarem dali poucas horas.

Yoongi já havia feito um jantar de despedida de seus amigos e parentes, com muita comoção, despedidas, presentes e palavras de motivação, mas com Hoseok era diferente. Diferente a ponto dele não negar o convite.

As flores não falam -- TaeGiOnde histórias criam vida. Descubra agora