As flores não falam -- TaeGi

Blue & Grey

Uma vez Maquiavel disse, "uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança". O novo. Um efeito em cadeia que transforma o mais simples em algo totalmente diferente e nunca experimentado. O desconhecido e os medos que o acompanham. O novo florescer, depois do inverno.

O apartamento tinha cheiro de baunilha. Doce. Enjoativo. Novo. Os moveis haviam sido montados pela manhã e estavam no meio dos cômodos, desalinhados, as caixas estavam, novamente, empilhadas. Tudo era muito claro. Talvez fossem as janelas sem cortina. O sol parecia dar boas-vindas. Estava tudo quieto.

Yoongi passou os olhos em seu novo lar, era menor que seu antigo apartamento, a sala era junto com a cozinha, havia um corredor pequeno que levava ao único quarto e ao banheiro. Não que ele precisasse de um lugar grande, mas precisaria de tempo para se acostumar com as novas limitações de espaço.

Ele havia chego no país há mais de uma hora, errou o endereço de seu novo apartamento, precisou pegar dois táxis e teve um pequeno problema de comunicação para conversar com os rapazes que trouxeram suas coisas da mudança. Foram quase trinta minutos para orientá-los onde deveria ser montado os moveis e onde colocariam as caixas, uma coisa que antes era tão simples, mas que por causa do idioma, se tornava uma tarefa massante.

Yoongi começou sua adaptação arrastando os moveis para o lugar que ele considerava certo, ele tomava cuidado para não fazer barulho para o vizinho de baixo, ali em seu prédio eram dois apartamentos por andar, não era um prédio grande e luxuoso, tinha uma lavanderia no andar do subsolo e não tinha garagem para carro, mas Yoongi não tinha carro, apesar de possuir habilitação.

Ele começou a arrumar primeiro as coisas do banheiro, depois foi para a cozinha, em seguida o quarto e finalizou na sala. O apartamento não estava sujo quando ele chegou, mas depois de toda aquela movimentação, Yoongi decidiu limpar tudo e separar algumas roupas para lavar, antes de usa-las. Não daria para lavar todas as roupas, mas algumas peças do dia-a-dia e de trabalho.

Yoongi voltava a trabalhar na quarta-feira, o que dava a ele um dia para se ajeitar de vez e cuidar dos últimos detalhes. Assim que colocou o último prato na lava-louça, parou e olhou para sua camisa, que estava toda suja e manchada, precisava de um banho e jantar, tinha passado o dia ocupado em organizar seu novo cantinho.

Deixou os pratos lavando e foi tomar seu banho demorado, o novo layout de seu apartamento o deixava um pouco confuso, precisava se adaptar a tudo aquilo e também descansar. Queria simplesmente deitar na cama e esperar o novo dia chegar, mas sua barriga reclamava de fome e não dava mais para ignorá-la como tinha feito o dia todo.

Colocou uma roupa confortável e foi para a cozinha, em sua geladeira não havia nada, só uma jarra de água, precisava fazer compras com urgência, teve que recorrer aos snacks que tinha levado na mochila, que levou no avião. Não era uma comida que o sustentasse, nem tão pouco era nutritiva, mas é o que havia para o momento.

Despejou o alimento em um recipiente e se sentou no sofá, passava os canais da televisão buscando alguma distração, mas não conseguia entender nada que estavam dizendo e isso o deixava angustiado. Yoongi tinha feito o básico de japonês enquanto estava na escola primária, sabia conversar o mínimo do mínimo e, ainda assim, se enroscava todo.

O idioma era o ponto que mais o deixava angustiado naquela mudança, não conseguir se comunicar seria um problema sério, mesmo que a linguagem que ele usasse para trabalhar fosse o inglês e números, não ia ficar vinte e quatro horas programando.

Yoongi olhou pela janela sem cortinas, o sol já havia se posto, o frio do inverno parecia mais forte ali, passou os olhos pela casa, a pouca - ou nenhuma - decoração deixavam o ambiente ainda mais melancólico, ele sabia que precisava, de algum jeito, dar vida aquele lugar.

As paredes eram brancas, não haviam porta-retratos e nem quadros pendurados, a mobília era em tons claros, até o tapete era cinza-claro, nada ali transmitia alegria ou qualquer outro sentimento, era tudo apático, meio jururu, Yoongi colocou as mãos na cintura e olhou em volta, se questionou se as pessoas o viam assim: chato, sem cor e sem graça.

Deixou o refratário sujo na lava-louça e foi para seu novo quarto, não tinha coberto as janelas, o que significava que, assim que o sol nascesse, tudo ficaria ridiculamente claro e seria impossível dormir ate tarde. Yoongi se jogou na cama, tudo era calmo, não tinha som de carro na rua, nem dos vizinhos andando, não havia sons de cachorro ou gatos, foi quando ele decidiu colocar uma música ambiente para tocar, precisava escutar alguma coisa.

Estava deitado de barriga para cima, as mãos entrelaçadas, descansando em seu abdômen, seu corpo estava cansado, mas sua mente estava agitada, tinha muita coisa para digerir, principalmente o fato de estar em outro país, em outro apartamento com uma nova vida.

Yoongi fechou os olhos soltando um longo suspiro, tinha deixado sua vida para trás, tudo que conhecia, tudo que tinha confiança, era como se tivessem desligado seu jogo de vídeo-game e agora ele precisava reiniciar, mas não sabia por onde começar, a adaptação era a parte mais cruel, com toda certeza, ainda mais quando se está sozinho.

Seu corpo parecia relaxado na espaçosa cama, lembrou-se da última vez que havia dormido bem, parecia um passado muito distante. Seus olhos arderam e sua garganta deu nó, sentiu quando as lágrimas escorreram pela lateral de seu rosto, mas não podia se deixar levar, já estava feito, chorar não mudaria nada, só o deixaria com dor de cabeça e o nariz entupido.

Yoongi secou o rosto e, olhando para o teto, começou a fazer uma lista de coisas para o outro dia, precisava se manter ocupado ou cairia na besteira de lembrar da Coreia. Tinha tanto a ser feito ainda e ele queria mudar, principalmente aquele aspecto sem graça de seu novo lar, talvez trocar o cinza pelo azul, qualquer cor que fugisse dos mesmos tons claros e monótomos.

Talvez mudar fosse bom, Yoongi pensou tentando não ser, de um todo, pessimista, era uma boa oportunidade para mudar, para ser o que nunca pode ser, para ousar, experimentar, gostar e desgostar, era uma boa oportunidade de, acima de tudo, se descobrir.