Tão simples quanto lavar roupa

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O sol parecia mais claro, mas não mais quente, o meio-dia já se aproximava e ele estava com mais frio do que pensou que ficaria, tinha ido ao mercado logo cedo, o desafio não foi chegar lá e sim voltar, Yoongi se perdeu nas ruas e demorou o dobro do tempo para voltar para seu apartamento.

As ruas pareciam todas iguais, ele não entendia as placas, ficou dando voltas no quarteirão até conseguir se orientar e chegar, finalmente, em seu prédio, era uma simples tarefa que se tornou complicada por causa de detalhes. Depois que guardou as compras, foi fazer um almoço decente.

Yoongi colocou o som alto e foi ajeitar as coisas, deixou as roupas separadas para levar a lavanderia assim que terminasse sua refeição. Havia comprado coisas para o banheiro, para o escritório - que no caso era uma pequena escrivaninha em seu quarto -, coisas para sala e comida, mais comida do que era acostumado a comprar, só para não ter que ir ao mercado de novo.

Entre suas compras, nada convencionais, estava um bonsai de cerejeira, velas aromatizadas e uma fita de luzes led colorida, nenhum desses itens estava na lista, mas Yoongi se deixou levar pelo novo e inusitado. A verdade era que, no Japão, parecia mais fácil ser impulsivo. Haviam muitas pessoas andando nas ruas com roupas coloridas, as lojas eram chamativas, mas ao mesmo tempo, tinham muitos cidadãos sérios e engravatados, com suas roupas formais, uma verdadeira ambiguidade simultânea.

Yoongi ficou maravilhado com aquilo, era como ver o mundo como ele realmente era, alguns com suas eternas máscaras e outros que só estavam usavam mascaras, mas ali, dava para distinguir, sem a dificuldade que tinha quando estava na Coreia, parecia que lá os disfarces eram melhores.

Fez seu almoço enquanto cantarolava e dançava timidamente, havia até se esquecido da confusão de mais cedo, sabia que pelo menos, na lavanderia, não se perderia no caminho de volta. Terminou sua refeição e regou sua nova planta, que parecia mais tímida do que ele.

Yoongi pegou as roupas que separou para lavar e desceu até a lavanderia do prédio, levou algumas moedas, não que ele entendesse muito o processo, estava torcendo para ter orientações em inglês, pelo menos. Na lavandeira tinham muitas maquinas e secadoras, era só depositar as moedas, colocar a roupa e ligar, não era uma missão impossível, se você soubesse quantas moedas colocar e qual botar apertar.

O loiro pegou o celular, tentou traduzir, mas não parecia confiável o que o aplicativo indicava, só queria lavar suas roupas, uma tarefa comum e cotidiana, não era para ser aquele tormento todo.

Ele estava olhando para os botoes quando ouviu alguém se aproximar, um moço alto de olhos escuros, bem agasalhado, parecia que tinha acabado de chegar da rua, os cabelos escuros bagunçados, provavelmente por conta do vento, parou a poucos passos de distância dele.

O rapaz o cumprimentou em japonês e disse mais alguma coisa que Yoongi não conseguiu entender, Min o olhou rapidamente, era um moço de aparência muito agradável e a bagunça de seus fios morenos lhe dava um charme único, respondeu algo como "desculpa, sou novo aqui", do jeito que sabia, um coreano misturado com japonês, era quase um idioma próprio.

- Me desculpe. Assim está melhor? - ele limpou a garganta e deu um sorriso fechado.

- Você também fala coreano? - Yoongi nem percebeu quando soltou um suspiro de alívio ao ouvir seu idioma.

- Sim, eu nasci lá na Coreia, a propósito, o meu nome é Kim Taehyung. - ele fez uma breve reverência - Seja bem-vindo aqui e no Japão.

- Ah, sim. Muito prazer - Yoongi abaixou a cabeça minimamente - eu me chamo Min Yoongi e, obrigado.

- Quantos anos você tem, Yoongi? - Taehyung estava com as mãos atrás do corpo, o olhava com um tímido sorriso nos lábios.

- Eu tenho vinte e oito. E você Taehyung?

- Vinte e cinco. - Taehyung abriu o sorriso - Devo te chamar de Yoongi-san ou prefere Yoongi hyung?

- Sendo bem sincero, - Yoongi sorriu e deu de ombros - por tanto que eu consiga entender o que você fala, não muda muito. Pode me chamar como achar melhor.

Yoongi estava verdadeiramente aliviado por conseguir falar e entender todas as palavras que eram ditas, desde que havia chego era a primeira vez que conversava sem ter dificuldades, mas depois de ficar alguns instantes parado, em um silêncio agradável, só olhando Taehyung e seu cordial sorriso, ele se lembrou das roupas que tinha que lavar e voltou seu olhar para a máquina, mas não sabia o que deveria fazer, exatamente.

- Acredito que somos vizinhos do mesmo andar, hyung - Taehyung viu quando ele desviou o olhar, falava calmamente - Eu ouvi um movimento mais agitado ontem pela manhã. E vozes.

- Me perdoe pelo ocorrido. Eu não queria atrapalhar ninguém. - Yoongi disse um pouco envergonhado.

- Não atrapalhou, hyung. Só disse que ouvi sua mudança. - Taehyung olhou brevemente para o chão, mas logo voltou a olhar Yoongi - Eu pensei em ir dar boas-vindas, mas não quis incomodar. Mudanças podem ser cansativas.

- Bom... Não seria nenhum incomodo, de verdade. - Yoongi sorriu imaginando a situação, mas logo balançou a cabeça e cerrou os olhos, nem sabia direito o que estava falando - Eu ando um pouco perdido, me desculpe qualquer coisa... Sobre a mudança e o barulho.

- Não há pelo que se desculpar. - Taehyung deu um passo em sua direção - Precisa de ajuda, hyung? - ele apontou para a máquina.

- Acho que sim... - Yoongi deu de ombros, um pouco envergonhado por admitir aquilo.

- Olha, é mais fácil do que parece. - Taehyung chegou perto - Você pega o jeito, hyung. É só colocar essas duas moedas - ele apontou para o punhado que tinha na mão de Yoongi - E apertar esse botão para lavar. Tem esse que seca também, mas sempre enrosca as meias.

- Eu não coloquei meias, dessa vez. - Yoongi prestava atenção nas instruções.

- Então esse botão facilita sua vida e faz você economizar na secadora. - Taehyung o olhou, ajeitando a postura.

- Muito obrigado Taehyung. De verdade.

- Não foi nada. Eu também tive dificuldades quando cheguei e mais uma vez, seja bem-vindo hyung. - Taehyung deu um passo para trás.

- Obrigado. Mais uma vez.

- Eu preciso ir agora, mas se precisar de algo, tipo açúcar... - Taehyung se afastava enquanto falava - pode me chamar, eu moro de frente para você. Até breve hyung.

- Obrigado Taehyung, até breve.

Yoongi ergueu uma de suas mãos para sinalizar sua despedida ao rapaz, nem percebeu que estava sorrindo, precisou de alguns segundos sozinho para absorver seu estado meio abobado. Pressionou os lábios e coçou sua têmpora, decidiu focar sua concentração nas roupas e não no que tinha acontecido, se é que havia acontecido algo de verdade.

Apertou os botões como foi orientado e colocou as moedas, a máquina começou a encher de água e sabão, Yoongi cruzou os braços e ficou observando as bolhas preencherem o espaço e engolirem as peças de roupa, mas ele não conseguia prestar atenção, sua mente viajava para alguns minutos atrás, tinha alguma coisa naquele simpático sorriso que o deixava desconfortável, mas não sentia ser algo ruim, só diferente, assim como tudo ali naquele país.

Min encostou na máquina e cruzou os braços, lutava contra o sorriso que insistia em tomar seus lábios, seus pensamentos um pouco confusos e desconexos, muita coisa borbulhava em seu consciente, ele nunca foi de acreditar em deuses, ordens divinas ou entidades místicas, mas talvez, em sua mente, acreditou que o universo estivesse lhe dando uma pequena semente, que Yoongi ainda não sabia o que faria com ela.

As flores não falam -- TaeGiOnde histórias criam vida. Descubra agora