𝐆𝐇𝐎𝐒𝐓 𝐎𝐅 𝐘𝐎𝐔 - 𝐁𝐀𝐊𝐔𝐆𝐎𝐔 𝐗 𝐋𝐄𝐈𝐓𝐎𝐑𝐀

Capítulo III

  Havia um dragão no topo da montanha, uma besta furiosa que afastava qualquer criatura que chegasse perto de seu território ou até mesmo achasse que tinha chances contra ele.

Fogo.

  Havia fogo por todo lugar, queimando as florestas ao redor e matando inocentes aos poucos. Mas mesmo que houvessem chamas, era possível que ainda sentisse compaixão pelo monstro? Ela ainda não entendia, o porquê de estar se aproximando cada vez mais...

                                ∘ ◦ ❁ ◦ ∘

   A princesa acordou em um pulo, o suor escorrendo pelo pescoço e um calor tão insuportável que parecia a mesma sensação do fogo em seu sonho. Respirou fundo tentando recompor a respiração e ajustando a visão e consciência, reconheceu o quarto e agarrou os lençóis com força levanto ao peito e colocando o pensamento no lugar.

"Mas que porra?"

  Levantou-se da cama, olhando em direção janela coberta pela cortina de seda. Afastou o tecido e fez uma careta quando os olhos foram machucados pela luz do sol nascente, mexeu a cabeça saindo de seus pensamentos e decidindo ficar acordada.

  Pesadelos eram algo que lhe assombravam por uma parte da infância, quando completou quinze anos eles pararam por algum motivo. Mas o cenário era exatamente igual ao de anos atrás, lembrou como se fosse ontem: o local em chamas, parecia uma vila, um dragão vermelho e gigante que cuspia fogo como se obrigasse todos a saírem de seu caminho a força. Mas mesmo assim, havia algo de errado com aquele dragão, e com ela, porquê sentia uma súbita necessidade de ir até ele? Ele parecia machucado.

Mas dragões não existem...

   Ela sabia disso - ou pelo menos se forçava a saber -, nunca que iria contra fatos. Bom eles pelo menos nunca haviam sido vistos por ninguém, e lendas eram lendas, afinal...

Afastou os pensamentos que não iriam lhe servir de nada, foi até o lavatório e tomou um banho frio. Não passou muito tempo na banheira, apressou-se para se arrumar. Colocou uma blusa preta de gola alta, com as mangas estreitas e botões até o pescoço, uma calça que subia até a sua cintura abotoada na linha lateral do abdômen, calçou botas pretas de couro que iam até a metade de sua canela, jogou um sobretudo em estilo penguin pelo corpo e abotoou a parte da frente. Arrumou os cabelos em um rabo de cavalo alto e saiu do quarto, deu um bom dia sonolento para os guardas e pediu para que avisassem a Yuri - caso ele fosse a acordar - que ela havia saído para cavalgar.

  Foi apressada até o estábulo, observou os cavalos e sorriu quando viu o seu fiel companheiro no final do corredor. Os pelos negros e a crina macia, ele era alto - bem alto - demorou um tempo até que ela conseguisse subir no cavalo com perfeição, lembrava toda vez que ia cavalgar da primeira vez que tentou e passou direto caindo no chão e tendo  roupa toda melada de terra e lama. Dava risada disso, sozinha a maior parte do tempo.

  Colocou a cela no cavalo e ajustou como sempre fazia, as rédeas e tudo mais. Deu um impulso com seu corpo quando encaixou o pé na sela e subiu, suspirou e logo bateu levemente as rédeas para que o cavalo saísse do estábulo. O vento era frio, as mãos dela logo se encolheram nas rédeas de couro enquanto se distanciava do castelo, o galopar do cavalo e os cachos se bagunçando cada vez mais.

Isso sim é liberdade, pensava consigo mesma.

Foi até o campo ao redor do castelo, sem som algum apenas os pássaros acordando e a respiração pesada. Quando chegou perto de uma das colinas rochosas que costumava passar, em frente avistou uma silhueta meio familiar. Fez com que o cavalo fosse mais rápido e logo parou, de frente a um dos lagos onde costumava brincar quando era criança.