Capítulo XXIX

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 S/N  P.O.V — Ponto de Vista 

 Os dias passavam de forma lenta, não conseguia sair do mesmo estado mental em que fiquei desde o evento, que por agora, completava quase um mês. Eu não tinha mais estado físico apenas era pura consciência e alma, minha aura era palpável mas apenas por mim e os que possuíam a mesma forma, ainda poderia voltar se quisesse, não havia morrido de fato mas estava em o que pessoas em vida chamam de 'coma'. Porém eles não sabiam disso e estavam quase certos que o experimento havia dado errado de alguma forma, eu me recusava a abrir os olhos, pois eu não tinha certeza do que poderia acontecer caso o fizesse. Meu corpo poderia rejeitar minhas boas intenções e se virar contra mim, a raiva acumulada poderia ser interpretada de forma errada pela minha cabeça e coração. Então por isso, decidi que ficaria por algum tempo com Ejirou até sentir-me neutra, deixar meus sentimentos ausentes para que quando acordasse, tivesse tempo para me ajustar.

 Todos meus amigos ainda corriam perigo e eu os via de longe, observava a forma que eram tratados como animais e como ratos de laboratório da mesma forma que eu estava sendo tratada enquanto estava nas mãos daqueles médicos. Tentei apegar-me a memórias felizes mas pareciam ser mais dolorosas que as tristes, desejei por dias enquanto via Katsuki que nós nunca tivéssimos nos conhecido, que eu nunca tivesse os colocado naquela situação e que tudo isso fosse um sonho ruim aonde eu acordaria com mais um dia na realeza reclamando mas na ignorância de não saber, quem meu pai verdadeiramente era. Eu vagava pelos corredores do castelo de Kiri como se fosse um fantasma bom, tecnicamente eu era um, sem nenhum pensamento além de me ausentar de sentir qualquer coisa. Mas essas coisas são complicadas e sentimentos são mais ainda, eu sabia que existiria uma hora em que explodiria e não seria mais capaz de aguentar, ninguém é forte assim e paredes feitas de aço podem derreter um dia. Minhas mãos eram ainda ágeis em batalha corpo a corpo, meus pés corriam como um dos animais mais velozes e meu fôlego ainda era presente em meus pulmões, mesmo que não estivesse em estado físico ainda podia sentir as coisas como se fosse humana por completo. Ejirou era gentil demais, sempre me ajudando em tudo que podia até mesmo fazia batalhas de meditação comigo, mas nunca mais conseguiu arrancar sorriso algum de meu rosto. Mesmo que eu me forçasse nunca conseguia. 

 Existiram dias aonde eu via Kirishima cansado e quase se esvaindo, ele esteve aqui por muito tempo e com a presença de sua receptora diante de si, ele ia enfraquecendo e eu me fortalecendo de seu poder. Era apenas como a lei natural das coisas funcionavam, ele ia embora deixando seu legado em suas mãos, sumindo como fumaça aos poucos, e eu presenciaria mais uma perda. Tudo que ele me ensinou mesmo indiretamente eu guardava comigo, cada passo pequeno e tudo que fosse possível, todas as palavras mesmo que fossem como facas contra minha garganta me lembravam que estava fazendo isso por mim e por mais ninguém. Ele me pediu para que decidisse ir embora logo, para que eu voltasse ao meu estado anterior e acordasse, fingisse que estava concordando com o plano de meu pai e depois me virasse contra ele. E eu concordei. Mas não fui embora. 

 Ejirou se foi da mesma forma que ele apareceu para mim pela primeira vez, eu era uma criança e tinha meus cabelos soltos e bagunçados, vestia uma camisola branca que lembro-me bem que havia sido minha avó que tecera para mim. Ele segurava minha mão e me mostrava um reino vermelho, um castelo erguido em ouro e pedras de rubi  uma ostentação digna de sua majestade, ele sorriu para mim com aqueles dentes pontudos e eu o olhei com curiosidade e olhos grandes arregalados. Sem medo algum, apenas curiosidade. Lembro-me da risada acolhedora que havia dado e como ele sentiu-se feliz. Dessa vez eu não era criança, era uma adulta e havia um reino para salvar, mas ele me tratou do mesmo jeito, segurou minha mão mas dessa vez me puxou para um abraço caloroso, afagou meus cabelos e quando se afastou sorriu com os mesmos dentes pontudos de antes. Quando o olhei senti-me mais poderosa a cada vez que ele ia ficando mais parecido com uma fumaça na minha frente, uma chama vermelha que ia sendo mais forte a cada vez que ele sumia aos poucos. Eu não gargalhei como da primeira vez, em vez disso eu senti uma lágrima descer pelo meu rosto completamente petrificado, sem movimentação alguma que não fosse pela repressão da tremedeira nos lábios. Ejirou acariciou meu rosto, e eu segurei sua mão tendo vontade de gritar para que ficasse, pedindo internamente que ele não fosse e me deixasse fraca do jeito que havia sido encontrada, ele apenas sorriu quando eu coloquei a mão em cima da sua, e aos poucos foi sumindo, eu senti que estava sendo jogada de volta a realidade a força e a última coisa que vi foram aqueles olhos vermelhos brilhando, e ele sumiu como areia entre meus dedos. 

𝐆𝐇𝐎𝐒𝐓 𝐎𝐅 𝐘𝐎𝐔 - 𝐁𝐀𝐊𝐔𝐆𝐎𝐔 𝐗 𝐋𝐄𝐈𝐓𝐎𝐑𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora