Always

capítulo 2

NEYMAR

Brumar está por todo lado que eu olho nessa porra de internet. O que há com as pessoas? Só querem me ver lembrar dessa parte que eu só quero enterrar. 
Já faz um ano. Um inteiro ano que minha vida é esse inferno. E toda vez que fecho os olhos pra dormir é a maldita cena que vejo. 

"- cara, pra que tanto presente? Você virou papai Noel dela agora? - Philippe fala me socando o ombro, dentro do shopping que eu carregava pelo menos cinco sacolas de presente para ela.

- nunca é suficiente cara, ela merece ainda mais! - eu não tinha mais o que comprar a Bruna. Ela sempre teve tudo, e aquilo eram só agrados de todas as vezes que eu saía sozinho e queria mostrar a ela que eu pensava nela, todos os malditos minutos do meu dia. 

Entramos no carro e Philippe me deixou no apartamento dela. Eu não avisei que viria, mais eu gosto de surpreender não é mesmo?

Como namorado poderia subir pelo elevador privativo isso nunca me foi negado. Abri a porta e um silêncio esquisito pairava pelo hall de entrada. Resolvi não chamar o nome dela, quero que fique surpresa de verdade. 

Caminho para dentro pensando no quanto a amo. Eu a pedi em casamento, porém ela achou cedo demais. Ok, cedo demais, mais também pode ser que eu não tenha pedido da forma correta. Pode ser que ela nao tenha aceitado ainda porque não fiz o noivado como ele deveria ser e como ela merece: grandioso. Eu a amo, amo de verdade. 

A porta do quarto está entreaberta. Escuto alguma coisa que trava minhas pernas antes de entrar no quarto... Parecem... Gemidos... Fecho os olhos e respiro fundo, estou escutando coisas. Empurro a porta de vagar e a cena diante dos meus olhos me faz derrubar todas as sacolas e assutar Bruna e seu convidado. 

Minha namorada, a pessoa que mais amo no mundo, montada nua encima de alguém que não se deu nem ao trabalho de tirar a roupa... Paraliso, parece que uma lança invadiu meu coração e faz movimentos de rasgar a carne. Não pode ser. Isso não pode estar acontecendo, não comigo. Eu fiz de tudo por ela, tudo. Sentimos de raiva, dor, tristeza me invadem. Lágrimas ardidas tal qual pimenta queimam os olhos. Ela me traiu. Me fez de bobo em baixo do meu próprio nariz. Como pode? Como ela pode fazer isso. 

Vendo aquilo eu não fiz nada. Somente corri."

Depois disso tudo se complicou. Quero mostrar a ela que não me atingiu, então bebo, fico com as modelos, duas, três de uma vez... Isso que sou agora. 

Marcos meu empresário está de marcação cerrada pra cima de mim. Meu clube quer cancelar o contrato diante de tantos escândalos que tenho me metido. Eu sei, tenho passado dos limites. Mais como explicar que tudo isso de um ano atrás não saiu de mim ainda? 

Agora Marcos está com uma ideia estúpida em mente. Contratar uma atriz para fingir um namoro. Quando ele me disse eu gargalhei na cara dele. Ele está louco. Disse que uma namorada será minha redenção. Não, justamente ao contrário, eu tinha uma e ela foi a minha ruína. 
Porém com ele não há conversa. Ele manda e eu obedeço. Estou onde estou por conta dele. E se meus patrocínios ainda não me despacharam foi porque ele lutou pra isso. Tenho que reconhecer, ele é ótimo no que faz, e ótimo em me manter. Só por isso, que hoje estou aqui, dentro desse carro me dirigindo para seu escritório. Segundo ele tem algo a me mostrar sobre esse plano. Gostaria de ter um jeito de faze-lo desistir, mais já está com a ideia formada infelizmente. 

Estaciono o carro na minha vaga no estacionamento do prédio e subo pelo elevador. Entro na recepção do escritório e olha em direção a Bianca. A recepcionista linda e gostosa pra caralho já deu mole pra mim várias vezes e pode ser que eu a quero agora. Sorrio galanteador para ela e não me anúncio, uma vez que tenho passagem direta a sala do chefe.

Entro sem bater e vejo que ele não está sozinho. De costas para porta, avisto uma cabelo negro e comprido, com leves cachos nas pontas. Um jeans apertado, que desenha um quadril redondinho. Um tênis bastante surrado no pé. Penso que Marcos deve ter contratado uma nova doméstica. Mais tão nova... Não entendi...

Assim que me ouvem entrar os dois me olham, e posso ver o rosto da serviçal de frente para mim. Um par de olhos negros me encaram, assustados talvez? Não sei definir. As maçãs do rosto coram, e a boca vermelhinha é detonada pela mordida que ela da. Caramba, que serviçal bonita pra caralho. De onde será que o Marcos tira suas empregadas? Safadinho, aposto que faz isso para se divertir. Sorrio com minha constatação mais continuo minha análise. Uma camiseta de mangas compridas é tudo que ela veste, talvez explique esse aquecedor ligado, uma vez que lá fora tá um frio do cão.  As mãos juntas na frente do corpo se mexem sugerindo que ela está muito nervosa. Voltando a olhar para o seu rosto ela já não me encara mais, olha para baixo parecendo encarar o chão ou a própria roupa não sei bem. 

Um limpar de garganta me tira dos meus pensamentos.

- Bom dia Ney. Atrasado como sempre.
- E você curto e grosso como sempre.

Ele me olha feio e aponta para que eu me sente. Resolvo tomar alguma coisa pois a conversa pelo jeito vai ser longa.

Viro-me para a serviçal, notando que não nos deixará sozinhos para tratarmos da ideia ridícula de Marcos e resolvo lhe pedir algo para tomar.

- Essa é quem sua nova serviçal? - ela me olha com espanto eu acho... Seus ombros se tornam rígidos e ela fecha a cara mais não com raiva, vejo um traço de... Hmm... Tristeza? Qual o problema em eu querer saber quem é ela. Continuo minha fala, apontando para ela - bem se for já comece a trabalhar meu bem e me traga um café, porque pra aguentar seu chefe aqui hoje não vai ser nada fácil, até porque quem marca reuniões a essa hora da manhã não é mesmo? - faço ainda a piada para descontrair.

Ela não se move. Não me olha mais, apenas olha para os pés e não se move. O que há de errado. É surda também? Qual é! Eu também sou patrão e mando também! 
Antes de começar a protestar, escuto um Marcos que me fuzila com os olhos soltar o ar pesadamente.

- Porque você não cala a porra da sua boca logo cedo Ney? Não dormiu? Bebeu a noite toda? - ele fala e eu faço uma cara de mais desentendido ainda - essa é Ana - aponta para a serviçal - e ela não é uma doméstica, ou serviçal ou qualquer coisa desse tipo - ah não? Penso comigo mesmo, e ele continua - ela é a pessoa de quem lhe falei, a pessoa que contratei para limpar sua imagem e arrumar a sua reputação. 

Não, Marcos não pode estar falando sério! Eu sou merecedor de uma modelo. Uma peituda e bunduda, que já saiu na capa de alguma revista famosa, que seja riquíssima e desejada por todos. Não que essa menina não seja bonita, mais por favor está escrito pobre na cara dela. Não, ele não pode estar falando sério!

- O QUE? Piadinha agora Marcos, não sabia que era humorista. - digo, dando uma falsa risada, e esperando que os dois riam também me pregando uma peça. - eu sou merecedor de algo - me viro para a moça - um pouco mais sofisticado não acha?

Olho para ele e depois para ela. Ninguém sorri apenas eu. Ela tem seus ombros rígidos e pelo movimento que sua bochecha faz ela está moendo o canto interno da boca bem
..nervosa. Sua expressão parece humilhada... Qual o problema? Eu disse apenas a verdade. 

- Não estou brincando com você Ney. - Marcos quebra o silêncio - Ana é a contratada. Ela é ideial para o cargo, e já estamos com o contrato fechado. Não há volta. Então, pelo bem de sua carreira, faça a sua parte corretamente. Não vou discutir com você absolutamente nada. Apenas faça a sua parte. 

Marcos está de palhaçada com a minha cara! Não tem outra explicação! Como ele pode achar que quero ser visto com ela? 

- Ana, - viro-me para ela que ainda mantém o olhar no próprio tênis- poderia nos dar licença por favor, eu gostaria de falar com nosso chefe um minuto. 

Ela não se move, então Marcos da a ordem. 

- se quiser Ana, pode ir ao banheiro é naquela porta ali, lave o rosto e se apronte, que vamos tomar café da manhã e depois vou te levar para a casa do Ney.

Ela caminha ate o banheiro mais não tira os olhos do chão. Eu não estou entendendo a postura dela.