NEYMAR
Parece que um caminhão me atropelou. Eu nem sei o que aconteceu aí certo. Eu só me lembro de estar com muito frio. Confesso que acho que tenho grande parte de culpa no estado em que estou... Mas eu não tenho vontade de nada mais. Já tem dias que Rita prepara os melhores pratos para mim e tudo que eu quero é tomar os meus remédios e me deitar na cama. Me sinto sozinho, um vazio dentro de mim... Meu rendimento no time caiu. Eu fico cansado o tempo todo.
Os momentos que consigo respirar são quando estou com ela, no nosso teatro. Quer dizer, da minha parte não s trata de teatro. Eu aproveito ao máximo cada momento ao lado dela... Cada segundo é mágico.
Não tive coragem de beija-la. Após saber aquele dia que ela nunca havia beijado, achei que isso deveria ser com alguém que ela gostasse de verdade, com alguém especial. Eu não sou especial para ela. Sou o seu trabalho, alguém com quem ela quer manter apenas um compromisso de trabalho. Constatar isso me corta ao meio. Mas, também pudera, eu dei muita mancada com ela.
Agora, escutando Marcos falar do dia dos namorados, vejo ela enrijecer ao meu lado. Eu sei o que isso significa. Ela pode ficar tranquila que não irei avançar as regras. Mesmo que Marcos insista eu não vou avançar assim com ela. Ela merece que seja um momento especial.
- eu gostaria de conversar com você. – ela me olha e senta-se a beirada da cama.
Eu me ajeito para me encostar as costas a cabeceira da cama. Aceno com a cabeça mostrando a ela que também quero conversar.
- Porque não estava se alimentando direito, sendo que... Bem sendo que você toma esses remédios fortes? Estava querendo se matar? – ela fala seria, colocando uma mão na cintura. O jeito me deixa bobo, tenho vontade de puxa-la para um abraço e beijar sua testa.
- eu não tenho fome. – contenho um sorriso, ela se preocupa comigo. Isso aquece meu coração. – desculpe por ter te dado esse trabalho... Bem ... Eee.. obrigado por cumprir sua promessa.
Falo e é de coração. Ela me olha e depois desvia o olhar para a janela. Os últimos raios solares estão indo embora. Isso significa que a noite está chegando. Ela precisará ir embora. Queria falar que gostaria muito que ela ficasse. Mas não é sua obrigação. Não temos nada. Não nada além do teatro que fingimos que somos um casal apaixonado...
- você... Bem, você já vai? – decido perguntar.
Ela no mesmo instante me olha e sua expressão já muda... Um vinco em sua testa se forma e ela estreita os olhos para mim de maneira que parece que está.... Está ofendida? Mas o que eu disse de errado?
- oh... Eu não iria... Mas acho melhor deixar você descansar. Entendi... – ela já se levanta da cama, e por pouco não consigo segurar o braço dela, impedindo-a.
- espere – pedi – eu... Eu posso ter me expressado errado. Não quero que vá embora, não é isso, eu quero que fique... Muito. – enfatizei o muito. – achei que você não queria ficar.
- eu quero – ela disse e desviou o olhar do meu – muito... – sussurrando essa última parte.
Meu coração traiçoeiro acelerou. Ela quer muito. Será que ela está sentindo o mesmo que eu? Começo a ter um sentimento esquisito crescendo dentro de mim.... Talvez .... Me parece com esperança?
- então fique. – digo por vez.
Ela se senta novamente. Decido que iniciar uma conversa de alguma bobagem é a melhor opção. Ela engrena na conversa comigo. Acho que se passam umas duas horas. Durante a conversa o jantar foi servido e me alimentei como nunca antes. Vê-la assim, nessa conversa, sem nenhum paparazzi por perto, sem sentir que está no modo atriz, parece que me devolve a vontade de viver. Me ensina a como respirar novamente.
Ligamos a tv. Nada de muito interessante passando, e percebo ela bocejar ao meu lado. Está visivelmente cansada.
- acho que vou me deitar. – olha para a poltrona – ou melhor, me sentar – e esboça um sorriso.
- você.. pode dormir do meu lado se quiser. – decido jogar as palavras ao vento. – essa poltrona deve ser desconfortável e tem espaço para nós dois aqui – me afasto um pouco para o canto da cama. Percebendo que ela vai negar decido tentar ser mais convincente – sério importante para nossa imagem, se as enfermeiras entrassem e nos vessem assim... Você não acha?
Ela para, olha para a cama e vejo seu cenho enrugar. Fica uns segundos pensativa, e quando acho que vai negar de todo o custo, paro de olha-la e encaro a tv. De repente sinto a cama afundar do meu lado. Meu coração bumba descompassado. O cheiro de framboesa fresca invade o meu nariz e eu sinto que vou abraça-la a qualquer momento. Ela está encolhida... Com medo de me tocar. Foda-se. Num movimento rápido mais cuidadoso por conta do acesso venal que tenho no braço esquerdo, viro-me para ela e a puxo para perto. Sinto seu corpo resetar. Antes que ela proteste, faço minhas explicações.
- assim fica mais natural... Ana... – digo com o rosto enfiado entre seus cabelos –minha doença não é contagiosa- dou uma meia risada – eu só gostaria de hoje, apenas hoje, dormir assim...com você.
- tudo bem...- ela diz depois de um longo suspiro, e sinto seu corpo amolecer. –boa noite Ney.
Ney. Soa muito bonito na sua voz. Melosa e gostosa de ouvir. Afago mais seus cabelos com meu rosto. O cheiro é o melhor que já tive no mundo todo.
- boa noite Ana.
Fecho meus olhos. Estou no paraíso. Sinto aos poucos o sono vindo. Essa sensação de leveza antes de pegar no sono que eu já não sentia a muitos e muitos meses. Não quero dormir, quero aproveitar isso bem aqui... Mais está tão bom....
. . .
Um cheiro de framboesa invade meu nariz, quando começo a recobrar os sentidos e despertar ... Que cheiro bom. Movo as pálpebras devagar me acostumando com os primeiros raios de sol entrando dentro do quarto. Me deparo com cabelos negros e um corpinho encolhido encaixado ao meu. Ela. Minha mão está na sua cintura e sinto que a mão dela está por cima da minha. Escuto baixinho sua respiração ainda está dormindo. Decido por não me mexer. Não quero que esse momento acabe.
Tento recordar os momentos noturnos. Eu não acordei nenhum momento da noite. Eu não acordei. Dormi feito uma pedra. Acho que nós dois dormimos. Daria a vida para que todas as noites fossem assim.
Sinto que ela se remexer. Acho que acordou. Um pouco decepcionado porque sei que ela vai levantar daqui, aperto ela mais.
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Always
FanfictionE quando você só foi humilhada a vida toda e surge na sua frente uma oportunidade de ter uma vida melhor. O típico os humilhados serão exaltados. Será mesmo? Ana não acreditava muito nisso. E mesmo depois de um empresário entrar na sua vida e te co...