ANA
Não espero outro gesto de cavalheirismo. Assim que Severo estaciona no térreo do prédio, abro a porta e desço. Preciso chegar logo ao meu quarto e desabar. Meu coração o burro bateu tão forte cada minuto da noite que ele chegava perto de mim. A dança, as conversas, os sorrisos. Quero me bater por me sentir assim. Não é justo, eu só quero fazer meu trabalho mais ele não facilita. Não está fácil. O cheiro... Está por toda a parte. O olhar... O terno lindo perfeito e o jeito mala..
Corro para o elevador e ele vem logo atrás. Não posso vacilar. E parece uma eternidade até esse elevador chegar a cobertura. Me apresso e assim que a porta se abre corro para a escada.
- Boa noite Ana.
A voz meio rouca interrompe meu passos. Essa voz... Gela minha espinha. Eu me viro para trás e respondo com um boa noite quase inaudível... E corro para o quarto. Fecho a porta e me escoro nela, não aguentando escorrego pelo chão. Choro. Choro porque não quero me sentir assim eu só quero fazer meu trabalho e não foi fácil o primeiro de muitos dias.
Choro porque estou muito afetada por ele. E eu não queria....
Deito na cama, depois de me desmontar, tirar toda a maquiagem e aquele vestido. Encaro o teto escuro. Não vou dormir tão cedo. Poderia dizer que é o fuso horário mais não. Eu sei bem que o motivo da minha insônia está no quarto ao lado.
Passam algumas horas, eu não sei, em que fico revirando na cama sem sucesso no sono. Resolvo que pode ser fome... Quase não comi na boate. Vou descer. Pego meu robe e calço os chinelos e sigo em direção a porta.
Estou passando em frente ao quarto dele quando eu ouço um gemido. Paro. Respiro fundo e penso que ele provavelmente está sonhando novamente... Não é da minha conta. Definitivamente não. Tento apressar os passo e sair do corredor em direção as escadas mais o choro me impede... Não dá, não posso ignorar. É um choro tão dolorido... Caramba. Tento andar mais meus pés não obedecem... Volto a porta dele. Ele está gritando a palavra não e mais algumas coisas que não estendo estão todas misturadas... Talvez eu possa acorda-lo e ajudar... Não! "Ana saia daí" tento dizer para eu mesma... Não me movo. Ok, tudo bem, não aguento ouvir mais isso vou entrar.
Seguro a maçaneta da porta e abro. Não está trancada. O quarto está parcialmente escuro, um abajur ilumina o canto e paro meus olhos na cena que me quebra. Ele está se debatendo na cama chorando e resmungando coisas com dor... Acendo a luz... Ele não acorda. Não movo meus pés. Tento chamar daqui mesmo.
- Se-senhor? Neymar...?
Não me ouve. Continua chorando... Resolvo me aproximar. Está ensopado de suor e lágrimas saem dos seus olhos fechados. Chora e geme, parecendo estar com muita dor. Meu coração quebra, eu tenho que acorda-lo isso parece doer demais. Chamo mais perto sem sucesso. Vou precisar troca-lo para que acorde.... Toco seu rosto banhado em lágrimas... Sinto algo escorrer na minha bochecha e constato que estou chorando também. Pego seu ombro e dou leves sacudidas.
- xiiiu, acorde Ney... Eu estou aqui, sou eu Ana, eu estou aqui... Não chore.. - de onde veio essa vontade de cuidar dele?
Continuo falando até que ele abre os olhos, vermelhos pelo choro... Me olha... E me quebra ao meio. Vejo tanta dor. Meu coração bate acelerado e eu faço algo impensado e impulsivo numa maneira de tentar cuidar dele... Eu o abraço. Escuto o soluço. Está chorando mais. Não não não, não faça isso comigo Neymar, não chore e não quebre meu coração assim... Preciso cuidar dele. O que quer que seja que o torne assim preciso ajudar a tirar. Minha mente, a única sã nesse momento por enquanto me diz que não é da minha conta. Mais estou com o coração quebrado, não posso simplesmente virar as costas e sair.
- Ana... Você está aqui - diz soluçando e me apertando forte, enfiando o rosto entre meus cabelos.
- Sim, acalme-se, eu estou aqui.... Estou aqui pra você, não chore... - nem sei mais o que estou falando, as palavras só saem....
O aperto mais. Acaricio suas costas nuas e ele parece relaxar.. o choro cessa... respiro o cheiro de homem que me invade inteira. O bumbo do meu coração é audível a nós dois eu acho. Não quero sair desse abraço... Mais tenho. Respiro e tento me soltar ele continua imóvel. O rosto enfiado nos meus fios meio bagunçado porque eu estava deitada... Pouco a pouco vamos nos soltando... Encaro ele. Está quebrado. Alguma coisa o quebrou e o faz ter esses sonhos que são tão ruins... Estamos nos olhando e eu só queria tirar essa dor dos seus olhos... Desço os olhos pelo seu corpo suado e constato que ele está apenas de cueca box... A constatação faz efeito em meu corpo... Nunca vi um homem assim antes a não ser meu irmão.... Um calor esquisito no meu ventre me alerta que preciso sair do quarto. Me apresso em levantar e ele percebendo que vou sair segura meu pulso. A já conhecida sensação do seu toque me atinge... As pernas amolecem mais eu preciso sair dali...
- Ana... Não vai... Por favor fique.... - fala embargado e ja com os olhos marejados.
Caramba. Não dá pra deixá-lo assim aqui. Mais não posso ficar. Minha mente me lembra quem sou. Serviçal. Empregada. Ele é o patrão. Já o acordei já saiu do sonho ruim... Então hora de ir.
Não falo nada. Apenas balanço a cabeça e viro em direção a porta, abro e saio correndo para meu quarto. Não posso sentir essas coisas não posso. Não é certo não é certo.
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Always
FanfictionE quando você só foi humilhada a vida toda e surge na sua frente uma oportunidade de ter uma vida melhor. O típico os humilhados serão exaltados. Será mesmo? Ana não acreditava muito nisso. E mesmo depois de um empresário entrar na sua vida e te co...