15 de Abril de 1912
A água já circulava em todo o navio, subindo o seu ângulo, e consequentemente, expulsando as pessoas para a água fria. A popa do transatlântico ergueu-se para o ar, depois da proa estar completamente submersa e o navio partiu-se ao meio, a partir da terceira chaminé. As suas luzes piscaram e apagaram-se, deixando todos na escuridão. Depois das luzes terem se apagado, a proa continuou ligada com a popa pela quilha em curto período, trazendo a segunda parte até um ângulo altíssimo antes de se soltar, deixando a popa a flutuar, então afundou de uma vez.
As pessoas deixadas na água congelante, usavam alguns dos destroços do navio como boias, esperando por um resgate ou que um dos botes regressasse, outros não aguentaram e acabaram por morrer, assim como algumas pessoas que estavam nos botes também. Era uma noite assustadora e os gritos de desespero ficavam gravados na mente de todos. Lágrimas e dor descreviam aquele momento, principalmente para todos que não tinham seus ente queridos por perto.
Linda cobria os ouvidos com as suas mãos, tremendo apesar da tentativa falha de Matthew de lhe proporcionar calor, pois ele também estava congelado e com medo que não podessem sobreviver. A jovem irlandesa já se sentia fraca e com o coração quebrado porque não acreditava que seu pai estaria num dos botes, mas depois de tanto chorar, queria poupar suas forças porque sabia que era aquilo que seus pais iriam querer.
Eles iam querer que vivesse.
Sua voz não saía, apenas esperava aquele pesadelo acabar. Para sua consolação, Matthew estava por perto, mas seu abraço estava cada vez mais fraco, e ele também não pronunciara nenhuma palavra desde que se afastaram dos destroços. O momento foi dominado pela escuridão, até que Linda viu um feixe de luz, achando que era alucinação, mas percebeu que era real quando um navio começou a aproximar-se.
Eram quatro da manhã quando SS Carpathia apareceu para resgatar os botes no mar. Aparentemente, tinham recebido os avisos, mas foi tarde porque perderam-se muitas vidas. Matthew suspirou aliviado ao ver o navio, apesar de algumas pessoas ao seu lado já terem morrido.
O resgate começou e demorou horas para recolher todas as pessoas que tinham sobrevivido até ao momento. Matthew conseguiu subir pelas escadas de cordas, mas Linda estava fraca demais para fazê-lo, então foi içada por cordas e sacos, o que preocupava o inglês. Não queria perdê-la.
Ambos receberam os cuidados urgentes, pois tinham alguns ferimentos depois de se lançarem no bote. Linda ainda continuava tremendo e com aqueles gritos na sua cabeça, ainda chorava ao pensar no seu pai e não conseguia dizer uma palavra.
Matthew sentou-se ao seu lado e chorou com ela, abraçando-a e desejando que seus pais estivessem bem, porque não sabia se eles tinham sobrevivido também. Muitas pessoas não aguentaram até o resgate e morreram de hipotermia e infarto agudo do miocárdio.
Ele enxugou suas lágrimas lentamente, mesmo que soubesse que naquele momento eles precisavam chorar. Claro que precisavam chorar, deixar transparecer a dor e ser consumidos por uma tristeza avassaladora. Provavelmente tinham perdido pessoas que amavam, nunca mais as veriam. Aquilo era o suficiente para ter seus corações dilacerados.
E eles não eram os únicos, a maioria das pessoas choravam. Era uma noite que nunca esqueceriam, uma noite que levou uma parte de cada uma daquelas pessoas que estava no navio. Uma noite terrível.
Matthew agarrou as mãos de Linda e beijou sua testa. Esperava que aquilo fosse ajudar, mas suas lágrimas continuavam, ela chorava silenciosamente.****
Pela manhã, tudo estava mais calmo. Matthew levou Linda consigo para procurar seus pais. A jovem percebeu o quanto ele estava desesperado e não queria que tivesse o mesmo fim que o seu. Linda perdeu todas as esperanças de que seu pai poderia estar vivo. Segurava fortemente a mão de Matthew para dar conforto para ele e para si.
Matthew procurava pelos sobreviventes atrapalhado, aterrorizado, até que viu seus pais ao lado de Dora. Ele não pensou duas vezes antes de se jogar nos seus braços e chorar de felicidade. Nunca perdeu a esperança de que eles estivessem vivos.
— Meu filho! — Lucy chorava copiosamente, pensando em tudo o que seu filho teve que passar.
— Eu estou aqui, mãe. Eu estou bem.
— Tivemos tanto medo. — Brian limpava as lágrimas. — Quando você voltou para dentro do navio, tive medo que não chegasse a tempo.
— O senhor sempre dizia para ser um lutador. Então, não desisti um segundo sequer.
— Ainda bem que deu tudo certo. Eu não sei o que faria sem você. — Lucy tocou o rosto do filho com carinho.
Linda também chorava por ver que todos as pessoas se reencontravam e avisou Carl, que estava num canto, do navio, triste e provavelmente deprimido. Ela foi até ele com um pouquinho de esperança, até que ele notou a sua presença e acabou com aquele sentimento rapidamente.
— Eu sinto muito pela sua perda, Linda.
Ela acenou em negação e caiu no chão, sem forças e chorava, mas naquele momento a dor era maior porque tinha a certeza absoluta que seu pai se foi. Não se importava se ia chamar a atenção de todos, apenas queria deitar toda sua dor para fora. Nada mais importava naquele momento.
Se ao menos tivesse estado com ele naquele momento, se tivesse segurado a sua mão e ficar no fundo do mar com ele, mas ela não estava lá. Ela não estava com ele, não conseguiu ajudá-lo, tentou, mas desistiu. Não devia ter desistido, não devia ter voltado para trás. Ele não estava mais ali. Ela nunca mais o veria, nunca mais sentiria seu abraço, seu cheiro, nunca mais olharia para seus olhos, ouviria seus risos, sua voz, nunca mais estaria com ele. Ele a tinha deixado.
Para sempre.
Suas forças se foram completamente, enquanto não conseguia sentir nada além de uma dor sufocante, uma dor que despedaçava seu coração a cada segundo. Ela não tinha mais ninguém. O homem que mais amava não estaria mais naquele mundo. Ela não conseguiu salvá-lo.
Brian olhou para a pobre mulher e tocou o ombro do seu filho. — Ela precisa de você agora.
Matthew virou-se para encarar sua amada e seu coração partiu-se ao meio. Não pensou duas vezes ao ir atrás dela e consolá-la no chão daquele navio. Nos braços do inglês, Linda permitiu-se desmoronar por completo. Naquele momento, ela não era nada além de dor.
Lucy encarou seu marido, incrédula. — Ele...
— Está apaixonado, Lucy! — completou Brian. — Deixa eles em paz. Foi uma noite difícil.
Dora levantou e ficou ao lado de Lucy, preocupada. — Isso significa que Matthew não vai casar comigo?
— Eu vou...
— Não vai fazer nada, Lucy. Matthew já tomou uma decisão. — Brian encarou Dora. — Devia estar preocupada com a saúde do seu pai e não com um casamento que nunca vai acontecer.
Dora limpou as lágrimas e ficou ao lado do seu pai, que não parecia bem. Já Lucy, olhou atentamente para seu filho e para a mulher em seus braços. Matthew parecia apaixonado e pelo jeito que olhava para ela, não parecia que iria desistir. Ela sabia que seu filho era um lutador e talvez devesse confiar nele. Foi essa a sua promessa, quando pediu para seu filho estar vivo e voltar com eles para casa.
Carl também percebeu que não poderia ter Linda e apesar de não saber como, deveria seguir com a sua vida. Era inútil lutar pelo amor de alguém que nunca iria amá-lo.
Linda chorou nos braços de Matthew, até que já não era possível expressar toda a sua dor com lágrimas. Olhou para o céu e ficou estagnada, existindo apenas, sem forças para mais nada. Estava apenas ali, só respirando.
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Titanic - Uma outra história
FanfictionMatthew Whitmore era um típico inglês com bons costumes e comportamento congruente. Um homem eloquente e trabalhador de uma classe social alta. Sua família decidiu fazer uma viagem para Nova Iorque pelo RMS Titanic que iria ser inaugurado. Nesse nav...