Capítulo quatro

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        12 de abril de 1912

    Atrás da primeira chaminé do Titanic, estava a sala das comunicações sem fio, que era operada diariamente por Liam Stock e John King. Eles eram os radiotécnicos do navio e recebiam avisos de outros navios. Tinham de estar atentos a quaisquer informações que lhes fosse enviada.
   Junto desta sala, havia uma linha telefônica que permitia a comunicação direta entre a ponte com o cesto de gávea, a casa do leme, a passarela de navegação e a casa de máquinas. Havia uma outra linha do navio, era a que permitia o contato com alguns serviços de bordo do Titanic, mas apenas era para passageiros da primeira classe.
   Na madrugada, Stock e King receberam avisos de gelo vindos de outras embarcações. Foi uma mensagem do SS La Touraine, através do capitão Jack Blake. SS La Touraine também navegava pelo oceano Atlântico, por isso mantinha comunicação com outros navios para os alertar.
  Após o aviso, a mensagem foi entregue ao capitão Smith.
   — Capitão, aqui King. Recebemos um aviso do capitão Blake do SS La Touraine. Uma névoa densa, uma espessa camada de gelo na superfície da água nos reservam pelo caminho, capitão. Escuto!
   — Iremos continuar. Com certeza que não estamos perante um perigo eminente. Não se esqueçam que o navio está devidamente equipado e é bastante resistente. Escuto!
   — Capitão, foi dito que há também vários icebergs em diferentes pontos do oceano. Pode ser perigoso. Escuto!
   — Não é nada com que não possamos lidar.
   Smith sabia que poderia resolver qualquer situação durante o trajeto. Não era a primeira vez que era o capitão de um navio. Além disso, os cascos do navio eram duros o suficiente para não permitir que um icebergue o destruisse.
  Nem mesmo Deus conseguiria afundá-lo.
  Era isso que todos diziam.

                         ****

   Matthew saiu do seu quarto com um sorriso no rosto. Tinha muitos planos para o seu dia. E a maior parte deles incluía a linda irlandesa de cabelos compridos que tinha acabado de conhecer.
  Fechou a porta da cabine. As cabines eram igualmente luxuosas, com algumas tendo até casas de banho particulares e com duas delas inclusive possuindo seu próprio convés de passeio privado. A família Whitmore tinha aqueles privilégios todos.
   Foi, então, encontrar-se com os seus pais no Café Parisien e sentou-se. Foi um alívio perceber que os Smith não estavam ali. Eram apenas dois dias com eles no navio, mas já estava farto deles.
   O café Parisien não tinha muita gente, pois era apenas para passageiros da primeira classe. Ele era luxuoso assim como toda aquela classe. O Titanic fornecia aos passageiros as instalações mais luxuosas e confortáveis do que qualquer outro navio.
   As instalações da primeira classe iam desde o convés dos botes até ao convés E e incluíam um ginásio com os equipamentos mais modernos, quadra de squash, sala de fumar diferente da terceira classe, pois era decorada com uma lareira e pinturas de Norman Wilkinson. Havia também um restaurante à la carte, dois cafés decorados com palmeiras, piscina coberta, banhos turcos, sala de leitura com mobílias de mogno e vitrais e convés de passeio coberto.
   Entre todas as cabines e instalações daquela mesma classe, estavam duas grandes escadarias, uma entre a primeira e segunda chaminés e a outra entre a terceira e quarta, que eram cobertas por uma enorme cúpula de vidro. A escadaria dianteira era decorada por um relógio entalhado chamado "Honra e Glória Coroando o Tempo". E havia também três elevadores que iam do convés A ao E, onde no convés D a grande escadaria dava ao enorme salão de jantar.
   Os passageiros de segunda classe tinham acomodações parecidas com as instalações da primeira classe de outros navios. Suas instalações ficavam na parte traseira do convés B até o G, e incluíam também uma escadaria com elevador, tinha uma sala de fumar, biblioteca, sala de jantar e também seu próprio convés de passeio coberto.
  Lucy percebeu o sorriso do filho e estranhou seu comportamento. Esperava que fosse por causa de Dora.
   — Aonde esteve ontem depois do jantar? — Perguntou levando a chávena de chá até seus lábios.
   — Fui ver o mar. — Respondeu. Tecnicamente, era verdade.
   — Porquê não tem falado com Dora? Ela é uma jovem encantadora. — Seu pai perguntou dessa vez.
   — Deve ser. — Ele sorriu. Sua mente estava em outro lugar.
   — E porquê você está assim tão sorridente, meu filho? — Lucy olhou para ele desconfiada.
   — Apenas tive um sonho maravilhoso. Digamos que sonhei com anjos. — Ele olhou para a vista do mar.
   — Hoje vamos ter um jantar com os Smith. E já os convidei para o seu jantar especial de aniversário.
   — Porquê?
   — Os Smith são tão ricos como nós, são pessoas bastante respeitadas na Inglaterra. Como pode não gostar deles?
   — Está bem, mãe. — Ele disse simplesmente. Não queria começar uma discussão que provavelmente terminaria assim que chegassem à Nova Iorque. Seus pais eram difíceis de lidar e não gostavam de ser contrariados.
   — E você devia passar mais tempo com a Dora. Vocês seriam um lindo casal. — Disse Brian. — Imagina uma nora como ela, Lucy? — Olhou para sua esposa.
   — Um verdadeiro sonho! — Lucy sorriu.
   Matthew preferiu não dizer nada. Era bastante óbvio que seus pais queriam que ele casasse com Dora. Eles jamais aceitariam outra mulher. Eles estavam cegos pelo dinheiro e pelo luxo. Eram facilmente comprados.

Titanic - Uma outra históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora