Capítulo doze

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               14 de Abril de 1912

     Lucius não tirava os olhos de sua filha, principalmente porque tinha percebido que estava inquieta e um pouco triste. Linda olhava para a vista do mar através da popa, contudo aquela vista não a fazia sentir melhor.
    Ela sentia-se ainda pior porque dissera a Matthew que o esperaria, mas ele não a encontraria lá. As coisas não poderiam terminar daquele jeito. Talvez seu pai percebesse se ela explicasse como se sentia ao lado dele, talvez ele poderia dar uma chance para Matthew.
    Suspirou e continuou com os olhos perdidos nas águas azuis. Ela sabia que não estava fazendo nada errado, porque alguns achariam que era errado? Amar nunca foi errado. Na verdade, amor era o sentimento mais positivo que alguém poderia ter.
    Lucius sentou-se ao seu lado, tentando compreender sua filha. Não queria privar sua felicidade, porém precisava saber o que realmente acontecia nas suas costas. Queria saber se Carl tinha razão, se um homem estaria a brincar com os seus sentimentos.
     — Quer conversar? — Tentou, porque Linda não dizia nada a manhã toda.
     Ela negou com um pequeno movimento da cabeça e nem sequer olhou para ele. Linda sabia que se ela se afastasse de Matthew aquela bela mulher ficaria com ele e tudo acabaria. Ela temia que terminasse, que os sentimentos dele terminassem, mas os delas se tornassem eternos.
    — Carl acha que há um homem da primeira classe que tem se aproveitado...
    — Carl disse isso? — Pergunta Linda, finalmente virando-se para encarar seu pai. — Ninguém se tem aproveitado de mim.
    Ela tenta lembrar em que momento pode ter sido tão descuidada e permitido que Carl a visse com Matthew. Talvez na noite em que estava com ele nos portões e beijaram-se pela primeira vez. Ou qualquer um desses dias.
    — Então, como tem aprendido a escrever?
    — Há um professor. Eu disse que queria aprender a escrever, e ele decidiu ajudar-me.
    — De graça?
    — Sim.
    — Nada nesse mundo é de graça, Linda.
    Ela voltou a olhar para o mar. — O senhor vê sempre o lado negativo de tudo. As pessoas não são todas cruéis.
    — E você vê sempre o lado positivo de tudo. Isso é pior. Pode ser facilmente enganada.
    — Porquê não confia em mim? Porquê quer me vigiar?
    — Eu só quero o seu bem, Linda.
    — Então, tente confiar em mim, por favor!
    — Se eu deixá-la livre, voltará para mim machucada. Não posso permitir que isso aconteça.
    — Eu posso ir para a minha cabine?
    — Sim. Mas depois vou verificar se você vai estar lá.
     Linda levantou-se e saiu da popa sem acreditar na injustiça que seu pai fazia. Como se não bastasse, pelo caminho encontrou-se com Carl, mas ela não se incomodava em dizer nada para ele, obrigando-o a segurar seu braço para que parasse seus passos.
    — Linda, aconteceu alguma coisa?
    — Não. — Tentava soltar seu braço. — Eu preciso ir.
    — O que vai fazer?
    — Isso não lhe diz respeito, Carl. Solta-me!
    Ele soltou quando viu lágrimas em seu rosto. Linda afastou-se dele em passos rápidos e sabia o que tinha a fazer, mas tinha que se certificar que ninguém iria segui-la ou desconfiar de nada.

   Carl seguiu Linda discretamente até sua cabine. Ele observava quando ela entrava, limpando as lágrimas e fechou porta. Esperou dez minutos, mas ela não saiu.
    Ele dirigiu-se a entrada da terceira classe para saber se encontraria o homem bem vestido à espera de Linda. Para a sua sorte, lá estava ele sentado no chão com folhas de papel em suas mãos, mas parecia distraído.
    Matthew levantou-se quando ouviu passos, mas eram passos duros e pesados. Não eram os de sua amada. Era um homem loiro de olhos negros frios que se aproximava das grades dos portões.
    — O que faz aqui? — Perguntou Carl.
    — Quem é? — Matthew não entendia nada.
    — Ninguém. Apenas queria que soubesse que devia afastar-se de Linda. Ela é minha esposa!
    — Isso é mentira!
    Carl riu-se. — Ela não irá aparecer. Devia ir embora.
    — O que fez com ela?
    — Nada. Apenas fiz com que percebesse que não vale a pena continuar essa mentira que vocês vivem. Linda nunca mais irá vê-lo.
    O coração do inglês apertou-se ao ouvir aquelas palavras. Aquilo não fazia sentido, mas doía bastante. Era como se o mundo escurecesse ao seu redor. Ele não queria que Linda fosse embora da sua vida.
    — Devia ir embora.
    Carl ficou feliz quando viu o inglês virando-se para ir embora cheio de tristeza. Ele sabia que Linda iria atrás dele, mas dessa vez não encontraria ninguém. Ela esperaria até perceber que ele não voltaria.
    Retirou-se e foi atrás de Linda. Viu que a jovem saía de sua cabine e escondeu-se. Ele queria ver Linda chorar por aquele homem, para que percebesse que era com ele que deveria estar.
     Mais uma vez, Carl seguiu a jovem irlandesa até a entrada da primeira classe e esperou que ela se sentasse no chão e esperasse. Mas ele não apareceria. Carl sabia que aquele homem não apareceria, então saiu dali silenciosamente, sentindo-se vitorioso.

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