Capítulo oito

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               12 de Abril de 1912

    Matthew estava sentado do outro lado do portão, sem largar a mão de Linda. Sua noite já estava a melhorar depois do beijo. Parecia que seus problemas não existiam e era um pouco assustador ter aqueles sentimentos em pouco tempo. Aquilo tornava-o sensível. Para ele, o amor chegava a ser um sentimento ambivalente. Porque o amor doía e também curava.
    A bela irlandesa olhou para sua pequena mão entrelaçada com a do inglês e sorriu ainda mais. Depois seus olhos se cruzaram e trocaram sorrisos tímidos. Não havia qualquer dúvida sobre o que acontecia ali.
    Ambos sentados no chão fresco e sem se importarem com o frio da noite, pois suas mãos aqueciam uma a outra e nem se importavam com quem iria aparecer ali. Já era tarde, mas aquilo parecia não importar. Na verdade, nada importava naquele momento.
    Não tinham dito nada depois do beijo, mas não tinham perdido a conexão. Havia uma química ali que era capaz de explodir todo o navio, algo inexplicável. Era assustador, mas também bastante bom e tentador. Talvez intensamente proibido e simultaneamente delicioso.
    Matthew beijou a mão de Linda e olhou para ela com seus olhos azuis-turquesa brilhando. Ela só podia sorrir ao olhar para os olhos mais lindos que já tinha visto.
    — Eu vou resolver esse problema! — Disse ele e sorriu. Tudo que queria naquele momento era tocar seu corpo, abraçá-la, beijá-la novamente, sentir seu cheiro, seu calor, algo mais que um aperto de mãos.
   — Você já não está triste?
   — Não. Porquê ficaria triste com você aqui comigo?
   Ela sorriu mais ainda. — Sabe o que seria perfeito?
   — Posso pensar em mil coisas, querida.
    — Se esses portões não estivessem aqui e tivéssemos vista para o mar. Uma grande vista.
   — Sublime! —Ele fechou os olhos.
   — Uh?
   — Completamente perfeito. É isso que eu quis dizer.
   O sorriso da irlandesa desapareceu tão rápido, quando pensamentos vinham em cascatas por cima dela. A realidade. A realidade era uma coisa difícil de aceitar.
     — E se nunca abrirem as portões? — Perguntou com uma pitada de tristeza na sua voz.
    — Eles irão. Vou conversar com o capitão, com qualquer pessoa. Não iremos ficar assim. Eu prometo! — Matthew olhou para ela, para que percebesse que era sério o que dizia.
    — Eu espero que consiga, porque sinto-me como uma prisioneira. — Olhou para ele. — Você não precisa ir?
    — Tudo que eu mais quero é ficar aqui. Quero ficar com você!
    Linda sorriu por ouvir aquilo. — Eu também quero ficar com você, mas está tarde, Matthew!
    Ele suspirou e levantou-se, juntamente com Linda. — Eu volto amanhã. Eu venho buscá-la.
    — Eu irei esperá-lo.
    Matthew afasta-se relutantemente de Linda. Mas ele realmente precisava ir embora e talvez pensar em uma boa desculpa para os seus pais, contudo nada poderia estragar a sua noite depois do doce beijo de Linda.
    Voltou para o salão de jantar da primeira classe que praticamente estava vazio. Apenas Brian Whitmore e poucas outras pessoas encontravam-se no lugar. Matthew sentou-se ao seu lado com uma desculpa pronta. Pelo menos, ele conseguiu evitar que seus pais marcassem um casamento com Dora Franco, o que para Matthew era o suficiente para conseguir dormir. Aconteceu muita coisa num dia só.
     — Pai, eu estava...
     — Lucy ficou furiosa por você ter deixado Dora sozinha. — Olhou para seu filho.
    — Dora não é a mulher perfeita para mim. Na verdade, é uma questão de compatibilidade, pai, química, que é uma coisa que nós não temos.
    — Pode explicar isso para a sua mãe, ela nunca vai entender, Matt. Ela quer saber dos negócios. Na verdade, ambos queremos.
    — E os sentimentos do vosso filho não importam?
    — É o que estamos a tentar dizer há imenso tempo. O amor surge com o tempo, filho.
    Matthew não aceitava aquilo. Se pelo menos não tivesse conhecido Linda e Dora fosse uma pessoa melhor, mas não era o que acontecia naquele caso. Ele queria uma outra mulher. Dora estava completamente fora de questão, não importava o quanto aquilo poderia custar. Não importavam mais as consequências.
    — Foi isso que aconteceu com o senhor? — Perguntou olhando para seu pai, desconfiado. Eles diziam como se fosse fácil fazer aquelas coisas, como se já tivessem feito antes.
    — Não. Eu sempre amei a sua mãe.
    — Isso é muito bom. Então, porquê não posso fazer o mesmo? Porquê não posso casar com alguém que eu ame?
    Brian suspirou, já sem paciência para explicar para seu filho como as coisas realmente funcionavam. Percebeu que Matt não estava disposto a ceder. O que ele precisava era de outra estratégia para convencer seu filho teimoso.
    — Quando for pai e homem de negócios, com certeza irá entender. — Levantou-se.
   — Na verdade, acho que nunca vou entender.
    Matthew também se retirou e foi diretamente para a sua cabine. Não podia concordar com o que seus pais diziam. Ainda tinha que levar Linda no seu jantar de aniversário, se ela aceitasse, claro. Também tinha que pensar num plano para abrir os portões da terceira classe sem que ninguém soubesse.
    Aquilo seria a parte mais complicada, mas Matthew não era homem de desistir, não quando se tratava de algo que almejava terrivelmente.

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