Titanic - Uma outra história

Capítulo sete

               12 de Abril de 1912

    Matthew nem tentou dar o seu melhor no vestuário para o jantar com a família Smith. Vestiu-se com uma camisa branca, calças escuras e seus piores sapatos. Ele tinha a certeza que sua mãe ia fazer de tudo para que Dora fosse sua esposa, mas ele tentaria sempre escapar daquela situação. Afinal, o homem tinha uma grande dádiva, que era o livre arbítrio. Não o podiam tirar aquilo, nem mesmo seus pais. Ninguém deveria fazer algo que não quisesse.
   Saiu do quarto inexpressivo, procurando por seus pais no salão de jantar da primeira classe, o que não foi difícil. Na primeira classe, os mais notáveis e famosos eram o casal Astor,  que eram os passageiros mais ricos do navio, os Smith e os Whitmore. Havia pessoas muita importantes à bordo na primeira classe. Inclusive, Archibald Butt, um dos assessores do presidente William Howard Taft, que pretendia regressar aos Estados Unidos para as eleições presidenciais.
    Matthew sentou-se com seus pais, recebendo um sorriso caloroso de Lucy, que obviamente tinha muitos planos para aquela noite. Brian parecia impassível, o que era o costume. Ele nunca se emocionava com jantares ou festas, não importava o quão importante eram. Matthew sabia muito bem.
   — Porquê está assim vestido, Matthew? Você sabe que é um jantar importante com os Smith. — Lucy olhou para suas roupas.
   — Eu sei. Mas não pensei que teria que vestir meus melhores fatos. — Ele estava sendo sarcástico, porém Lucy não tinha percebido.
   — Você ainda tem tempo de trocar de roupa e impressionar Franco Smith.  Você sabe que ele é um homem muito importante.
   — Brian Whitmore também é! — Matthew disse, olhando para seu pai que, claramente, gostou do comentário.
   — Não estou para brincadeiras, Matt! Vá trocar de roupa imediatamente! — Lucy parecia ter perdido a paciência.
   — Não há necessidade, Lucy! — Brian interviu secamente. Parecia aborrecido.
   — E eles acabaram de chegar! — Matthew olhou para Franco e Dora, que se aproximavam lentamente. Dora, obviamente, fez de tudo para estar linda naquela noite. Usou um vestido amarelo um pouco justo até aos joelhos, saltos brancos que conjugavam com suas luvas brilhantes, jóias em seu pescoço e um penteado muito elegante.
   Os Whitmore levantaram-se para cumprimentá-los. Lucy abraçou Dora completamente feliz, depois obrigou que Matthew fizesse o mesmo, porém Matthew simplesmente beijou sua mão com relutância. Tudo o que queria era estar longe daquela mulher.
   — Está divino, Franco! — Matthew disse para o homem, simplesmente para se afastar de sua filha.
   — Obrigado! — Franco olhou para Matthew também, pouco impressionado.
   — Dora também está muito bonita, um completo encanto, não é, Matthew? — Lucy encarou o filho com um sorriso que só os Whitmore saberiam que era falso.
   — Certamente, mãe. — Respondeu o jovem inglês. — Muito bonita!
   Sentaram-se todos e Matthew viu-se obrigado a puxar uma cadeira para Dora, o que agradou completamente Lucy e Franco. Brian só queria falar de negócios. Obviamente, era do conhecimento de todos que Franco Smith era um grande amigo de Jacob Astor, que era um grande empresário. Diferente de Lucy, Brian tinha intenções de poder trabalhar com o homem mais rico do navio.
   — Muito obrigado pelo convite. — Franco pronunciou sem muito entusiasmo.
   — É sempre uma honra, Franco. — Brian sorriu.
   — Além disso, é uma ótima oportunidade para falarmos sobre os nossos filhos. — Lucy sorriu. — Que, como é óbvio, têm idade para casar.
   Matthew olhou para sua mãe como se fosse uma estranha. Não podia acreditar que estava fazendo aquilo. Não podia acreditar que nem perguntou o que ele queria.
   Dora sorriu para Matthew. — E Matthew é um homem maravilhoso. Ele respeita, é sincero, inteligente e temos muito em comum.
   — Meu filho é um homem trabalhador acima de tudo. Sempre pronto para ajudar, é responsável e sabe lidar com quaisquer problemas. —   Brian acrescentou também.
   — Então, é para isso que serve esse jantar? — Franco analisou a expressão de Matthew, que não era nada agradável.
   — Sim, pai! — Dora respondeu imediatamente.
   Franco estava muito sério enquanto olhava para Matthew. — Quais suas intenções com a minha filha?
   — Ele com certeza... — Lucy começou, mas foi interrompida por Franco.
   — Com todo o respeito, Lucy, gostaria de ouvir Matthew.
   Todos naquela mesa olhavam para ele naquele momento. Lucy com um olhar ameaçador, Brian inexpressivo e Dora que implorava através do seu olhar. Ele não queria deixar seus pais furiosos, mas também não queria passar a sua vida com uma mulher que não gostava. Aquele era o momento certo para impedir que um desastre acontecesse.
  E ele o fez. Mas de forma cautelosa.
  — Bem, senhor Smith, sua filha é realmente uma mulher muito bonita e encantadora. Tenho a certeza que seria uma ótima esposa, mas eu não pretendo casar tão cedo. Sinto muito!
   — Matthew! — Lucy exclamou completamente desiludida com o filho. Brian tentava acalmá-la.
   — Mas eu... — Dora sabia o que dizer. Ela era esperta. — Certamente. Pai, Matthew tem toda a razão. Não podemos nos precipitar. Acabamos de nos conhecer. Talvez daqui a alguns meses.
   Lucy seguiu sua deixa, agora mais calma. — Tem razão. Eles precisam de tempo para se conhecerem. Matthew é muito cauteloso e tenho a certeza que quer fazer bem as coisas. Você sabe! Um passo de cada vez.
   — Sim. Nós nos precipitamos por encontrar uma mulher tão perfeita para o nosso filho. — Disse Brian dessa vez.
   — Acho justo. — Franco respondeu. — Não entregaria a minha filha desse jeito. Precisamos de mais tempo. Talvez no final da viagem Matthew tenha uma decisão.
   — Ele terá! — Lucy olhou para Matthew.
   — Com certeza! — Matthew respondeu.
   O jovem inglês sorriu porque sabia que não iria mudar de ideias. Ninguém poderia obrigá-lo a casar com Dora. Nem seus pais, nem Franco, nem ninguém.
   Dora parecia confusa sobre o sorriso de Matthew. — E será uma boa decisão. — Disse ela.
   Matthew sabia o que seus pais queriam realmente, e aquilo o entristecia completamente. Ele sabia que seria incapaz de fazer o mesmo aos seus filhos.