Capítulo dezasseis

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          15 de Abril de 1912

                                    01 hora

      Os botes continuaram a ser lançados na água em intervalos para evitar que caíssem um por cima do outro. Muitos deles carregavam mais do que a sua capacidade, sendo a maioria da primeira e segunda classes. Havia muita confusão e como a descida era perigosa, alguns passageiros acabaram por ficar feridos.
      Já nos botes, Lucy chorava porque não tinha a certeza se Matthew ou Brian tinham entrado num. Se era realmente o fim, arrependia-se por não ter dito que os amava. Estava frio demais e o desespero pairava no ar, muitas pessoas perceberam o quanto a situação era alarmante. E o navio começava a ficar cada vez mais inclinado.
     Alguns tripulantes estavam encarregues dos botes, outros mantinham a luz do navio acesa, outros lançavam fogos de artifício sinalizadores para chamar a atenção de navios que estivessem por perto, outros mandavam pedidos de socorro CQD e depois SOS, todos assustados com a situação e preocupados em salvar vidas.
     Entretanto, Linda tentava encontrar o seu pai e estava arrependida por tê-lo abandonado. Mas como ela iria saber que poderia acontecer aquele desastre?
     Ela simplesmente não podia prever aquilo, só queria passar a noite com o homem por quem estava apaixonada, porém também sentia culpa pelo naufrágio. Talvez aquilo só tenha acontecido por causa das suas ações para com seu pai ou talvez Carl a tenha amaldiçoado. Linda acreditava em maldições e outras coisas mais.
     Matthew seguia sua amada, mas a cada passo, a água começava a aparecer. Quando olhou para baixo, havia muita água, o que era um péssimo sinal. Linda parecia não se importar com aquilo, apenas queria seu pai, mas Matthew teve que parar com aquilo antes que não pudessem mais sair.
     — Estamos quase! — Disse ela.
     — Linda, a água já começou a entrar no navio. É melhor voltarmos, talvez o seu pai já esteja num barco.
     Linda parecia não ter ouvido, então Matthew segurou seus ombros, virando-a para ele. Sabia-se lá quanto tempo eles tinham.
     — Por favor, não podemos continuar... — A água só aumentava, deixando-o assustado. — Não podemos ficar aqui. Vamos.
     — Mas... — Olhou para trás com dor em seu coração.
     Matthew agarrou sua mão e a levou para a direção contrária. Linda decidiu fazer o que Matthew queria, principalmente porque a água só aumentava, deixando-os ainda mais assustados.
    Os portões da terceira classe estavam fechados, o que era impossível eles conseguirem sair. Alguns tripulantes impediam que os passageiros da terceira classe alcançassem os botes porque priorizavam as primeira e segunda classes.
     — Corre, Linda! — Disse Matthew.
     A água crescia a um ritmo assustador, o que significava que tinham que fazer de tudo para que pudessem chegar ao convés.
    Linda tropeçou em alguma coisa e caiu, molhando-se completamente. Matthew a ajudou a colcar-se em pé e continuaram, tentavam chegar ao convés, antes que a água os impedisse.
    — Matthew, não vamos conseguir!
    Ele recusava-se a ouvir aquilo, recusava-se a desistir. A água já subia até sua cintura, aumentava cada vez mais porque as bombas não podiam expelir, mas o inglês ainda acreditava que poderia sair dali. Segurava firmemente a mão de sua amada e só olhava para frente.
    — Matthew!
    — Eu não vou largar a sua mão, Linda!
    — É muita água.
    — Continue. Desista quando não tiver mais fôlego.
    Ela apertou sua mão e tentou ser forte. Não queria ser um peso morto para Matthew, que estava focado em sobreviver. Ela também estava, mas desistia com facilidade à meio as dificuldades.
    Ela pedia a sua mãe e todos os anjos que a dessem forças para continuar. A esperança era a última a morrer, tinham que conseguir sair dali, até porque apenas estavam naquela situação por sua causa.
     A água estava fria e era difícil caminhar, mas Matthew encontrou os degraus e poderiam ir mais rápido, antes que a água os alcançasse novamente. Linda perdeu seus sapatos e sentiu um pequeno alívio ao pisar no chão seco, mas não era por muito tempo. Eles não poderiam parar, tinham que chegar ao convés, salvar suas vidas e encontrar seus pais.

    Alguns navios responderam aos sinais do Titanic, e o mais perto deles era o RMS Carpathia, que estava a caminho para ajudá-los.
     Naquele momento, a maioria dos passageiros que conseguiram embarcar nos botes eram da primeira e segunda classes. Muitos passageiros da terceira classe perderam-se, outros ficaram presos devido aos portões fechados, porque os tripulantes priorizavam as outras classes.
      Entretanto a inclinação do navio aumentava e ainda haviam botes a serem preenchidos. Muitos botes carregavam mais do que a sua lotação total e outros muito menos. Famílias entravam em pânico e choravam, acreditavam que não poderiam sobreviver.
     A água já havia alcançado o convés dos botes, quando capitão Smith liberou a tripulação. Naquele momento, apenas Deus os poderia ajudar. Cada um tinha que tentar se salvar. Os gritos dos passageiros eram ouvidos piorando a situação, tornando-a assustadora e tirando a esperança de muitos.
     Quando Matthew e Linda conseguiram chegar ao convés, o último bote já estava a ser lançado. O bote tinha poucas pessoas, mas já descia. Linda encarou Matthew com os olhos marejados, pronta para desistir, porém não era o plano de Matthew.
     — Confia em mim?
     — Sim. Mas não há nada que possamos fazer.
     — Fecha os olhos e apenas confia em mim. Em momento algum solte a minha mão.
     — Matthew...
     — Fecha os olhos!
     Linda fechou os olhos e deixou que seu corpo seguisse o jovem inglês. Matthew não pensou duas vezes antes de pular para o bote que descia. Ele estava determinado em salvar sua vida e de sua amada mais do que tudo. Ainda tinha esperança, coisa que muitos dos passageiros já tinham perdido naquele momento.
    A jovem irlandesa sentiu seu corpo voar por alguns segundos, e sem coragem de abrir os olhos gritou até que seu bateu contra o corpo de alguém. Sua mão ainda presa na de Matthew, seu corpo ainda tremia e seus olhos ainda fechados.
    Estava cada vez mais frio e cada grito de agonia arrancava mais lágrimas. Quando o bote chegou na água, Matthew finalmente poderia respirar, mas para Linda ainda era difícil.
    Sentiu os braços de Matthew em torno de si e só assim abriu seus olhos. Gostaria que seu pai também estivesse num barco, que tivesse sobrevivido, mas suas lágrimas não caiam sem motivos. Uma parte de si, sentia que ele não tinha conseguido.

Um dia, a lua disse para mim que
não podia deixar de iluminar.
Expulsaria a escuridão para longe
Um dia, o sol disse para mim que
não podia deixar de brilhar.
Traria seu calor e alegria.
Um dia, o mar disse para mim, que
era mais do sua exuberância.
E que sempre me faria sorrir
Sempre me faria sorrir

    Linda cantava baixinho para ignorar os gritos e qualquer pensamento triste, mas não ajudava. Ela sempre quis conhecer o mar, mas não queria que fosse daquele jeito. Ela aprendeu que tinha que ter cuidado com aquilo que desejava.
     Matthew também aprendeu isso, quando lembrou nas palavras que disse para Dora. Seus desejos foram realizados, mas não do jeito que queriam.
     — Feliz aniversário, Matthew. — Sussurrou, sua amada, tremendo com frio.
     O pior aniversário, pensou ele.
     — Obrigado, querida.
     E esperava que aguentassem até serem resgatados.

Titanic - Uma outra históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora