8 - Relações de ódio

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Na semana seguinte, decidi falar com meu pai.

Gostaria dizer que essa decisão veio só depois de muito tempo e reflexão, mas a verdade é que eu só precisava, desesperadamente, de alguma outra coisa para pensar.

Como queria tirar um pouco da cabeça tudo que havia acontecido na festa de Clarke, e estava irritada com Debbie por ter me deixado sozinha com Thomas, imaginei que aquela era a solução que me traria mais confusão, ou mais paz. De qualquer jeito, eu estava contente pela distração.

Encontrei com meu pai na varanda de trás da minha casa, com vista para o jardim bem cuidado da minha avó. Escolhi o lugar porque não queria ficar longe de casa, mas também não queria que fosse fácil demais para minha avó bisbilhotar minha conversa – ela fez cara feia quando viu meu all-star, na sala de entrada.

Meu pai continuava o mesmo, com seu rosto amigável demais para ser confiável, coisa que só se percebe depois. Minha avó nos serviu com biscoitos e café, mas nós continuamos em silêncio conforme ela nos lançava olhares inquisidores. Eu abaixei meus óculos escuros para os olhos, com o único propósito de irritá-la, e ela evitou fazer outra careta antes de nos deixar sozinhos outra vez.

Ri sozinha, pegando um biscoito, e meu pai sorriu de volta, de lado, o que me irritou.

– Você não pode rir disso. – Falei, fechando o rosto.

Meu pai, ao contrário do que eu esperava com o comentário, riu ainda mais – de forma engasgada, colocando a mão na boca, em uma lembrança muito familiar à qual eu estava acostumada.

– Desculpe. – Ele respondeu, ainda rindo.

– Qual é a graça agora? – Perguntei, ainda sem entender o motivo.

Ele tossiu, tentou ficar sério e parar de sorrir, e eu odiei tudo aquilo – todos aqueles atos e movimentos que faziam com que ele me lembrasse muito de alguém legal, que eu não via há 10 anos.

– Desculpe, Teodora. – Ele respondeu, mais sério dessa vez. – É só que... te imaginei exatamente assim. Você me lembra muito sua mãe.

– Vocês dois falam isso, ela sobre você. – Encostei na cadeira. – Falava.

– Sinto muito.

Ela era muito melhor do que ele, de qualquer forma. Não porque sempre havíamos nos dado bem ou porque ela era uma mãe exemplar, mas simplesmente porque havia ficado, mesmo que, por muito tempo, não completamente.

Ela ficou, por mim, até ser obrigada a ir embora.

Era esse o comichão em meu cérebro que eu queria que me distraísse – o fato de que meu pai havia partido por escolha. Mesmo que estivesse na minha frente agora, arrependido e parecendo amigavelmente inocente, ele ainda era o cara que havia tomado a pior decisão da minha vida – por causa dele, tudo estava do jeito que estava.

Olhei em volta, para o jardim, através dos óculos escuros, e disse:

– Eu gosto da vida que tenho aqui. Meus avós são legais, tenho amigos muito fodas e um namorado mais ou menos. Mas eu não devia estar aqui. – Tomei um gole do meu café, me recostando na cadeira. – Devia estar em uma casinha medíocre com meu pai professor de história e minha mãe levemente alcoólatra. Eu não odiava a vida que tinha lá, e não odeio a vida que tenho agora, mas odiei o intervalo. Odiei o que sobrou da minha mãe porque você foi embora, odiei todos os relacionamentos que tinha e, imagino que você saiba, odiei meu padrasto. Por que você voltou agora?

Meu pai tomou fôlego, como se estivesse se preparando para o maior discurso de sua vida, o que provavelmente era – ele se empertigou na cadeira, e começou, o rosto enrugado de sorrisos se contorcendo em uma cara de quase-choro:

AmarguraOnde histórias criam vida. Descubra agora