Entre todas as formas que imaginava como meu futuro seria desde que eu havia me mudado para a cidade dos meus avós, namorar o babaquinha mais popular da escola e provavelmente de toda a cidade não estava entre nenhuma delas.
Também deve ter sido a última coisa que passou pela cabeça de Dylan – namorar, com quem quer que seja. Não é segredo para ninguém que meu namorado esperava que aquele banco do carona continuasse permanentemente vazio, e me ter ali era uma surpresa para ele tanto quanto era para mim. Pelo menos, era disso que eu tinha que ficar me lembrando quando encontrava um sutiã de uma desconhecida no banco de trás do carro, que ele simplesmente havia se esquecido de jogar fora.
Acredito que essa também era a última coisa que passava pela cabeça de todos que estudavam conosco, que sempre olhavam espantados toda vez que Dylan Chase parava seu carro no estacionamento da escola nas manhãs e continuava havendo uma única garota no banco do carona, justamente eu.
Naquela manhã em particular, no entanto, conforme Dylan dava a volta no carro para abrir a porta para mim – ele só fazia isso quando estávamos na escola, porque gostava mais da diversão de deixar as pessoas chocadas do que do cavalheirismo em si – usando óculos escuro bastante similar ao que eu havia roubado no dia anterior, eu só conseguia pensar se outra fofoca interessante sobre mim já não rondava os corredores: a de que Debbie Cooper era minha irmã.
Não queria que essa noticia tivesse se espalhado ainda pelo simples fato de que eu ainda não havia contado nada daquilo para os meus amigos ou para Dylan – meus amigos sequer sabiam que meu pai havia retornado, e ouvir isso pelos corredores do colégio deixaria Naomi furiosa comigo. Eu ainda não estava pronta para encarar a realidade daquele fato, mas sabia que não podia esconde-lo por muito tempo, porque a iminência da fofoca era inevitável.
Enquanto eu pensava sobre isso, Dylan abriu a porta do carro para mim e eu pus os pés para fora do carro, absorta, antes de perceber que ele havia parado com as mãos em cima do teto do carro, me encurralando com seu sorriso sedutor que eu sabia que só podiam significar que ele iria sugerir transar em algum lugar potencialmente perigoso ou me dar uma notícia ruim:
– Não vou poder te levar para casa. – Ele anunciou, olhando para mim de cima conforme se inclinava na minha direção: – Tenho treino de futebol.
– Eu ainda não entendi essa sua volta ao futebol, achava que você odiasse. – Falei, pegando minha mochila no banco de trás. – Posso pedir uma carona a Amy.
– Eu não odeio. Acho entediante.
– Isso significa que eu vou ter que virar líder de torcida?
– Sua irmã é a capitã.
Olhei para ele, abismada:
– Você sabe disso?!
– Sei. Você me contou. – Ele franziu a testa para mim, sem entender meu espanto: – Depois que transamos, Teodora.
– Da primeira vez ou da segunda?
– Da segunda. – Ele respondeu de imediato, desencostando do carro. – Não acredito que a única coisa que você decide desabafar comigo, você não se lembra.
– Para ser sincera, não lembro muito do sexo também.
– Agora você só está tentando me magoar de propósito. – Ele rebateu, fechado a porta do carro assim que eu me levantei.
– Você não me disse nada sobre sua irmã. Até onde eu sei, o avião dela pode ter caído e você não me contaria. – Falei, andando com rapidez em direção a escola.
– Ela está viva, bem e você pode conhece-la quando quiser.
– Ok. Me desculpe. – Falei, me virando para encara-lo e fazendo a melhor cara de cachorro abandonado que eu poderia: – Eu odeio toda essa situação, odeio que meu pai tenha voltado, odeio que Debbie seja minha irmã e odeio falar sobre isso, e é por isso que tenho dificuldade de contar tudo o que está acontecendo comigo. Não tem a ver com você, mas sei que pode parecer evasivo, então sinto muito.
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Amargura
RomanceSEQUÊNCIA DE ACRIMÔNIA. Amargura (s.f): sabor amargo; padecimento moral; aflição, angústia, tristeza; propriedade ou característica de severo, áspero. A definição perfeita do sentimento que fica com o fim de um relacionamento amoroso intenso. Teod...