DYLAN CHASE.
Ela tinha três pintinhas nas costas, e eram sempre a primeira coisa que eu reparava quando acordava ao seu lado, virada de costas para mim. As pintas me faziam alusões as estrelas, e havia uma foto recente delas no mural de fotos, com o cabelo loiro de Teodora em contraste.
Ela usava um sutiã de renda na foto, mas, naquela manhã, estava sem nada, o cabelo embaraçado e o vestido preto da noite anterior jogado perto do espelho, o que havia sido feito meu.
Eu nunca imaginei que poderia ser um cara romântico, e não deixava transparecer, mas descobri que eu era. Ainda estava tentando mostrar isso a ela, compartilhar um pouco mais de mim, mas sempre era pateticamente difícil.
Na verdade, com Teodora, isso era especialmente pateticamente difícil, porque ela tinha o mesmo problema. E ambos sabíamos, tanto pela luta interna, pela estranheza de estarmos juntos e pela certeza de que éramos bons nisso, tanto quanto pela certeza do destino, da realidade e da estatística, que aquilo não podia acabar bem, nunca pode – todos os finais, na nossa concepção, eram desastrosos.
Eu podia ver a data de expiração em vários lugares, vários detalhes, várias conversas não ditas. Não porque eu ou ela queríamos, mas porque o mundo acontece – namoros raramente perseveravam, principalmente na adolescência. E mesmo que perseverasse, o próximo passo seria casamento, que também raramente perseverava e que eu e ela tínhamos certeza de que não queríamos, o que só nos dava mais certeza ainda do fim.
Mesmo assim, olhando as pintinhas, eu me casaria com ela.
Sabia que, em algum momento entre aqui e a eternidade, algo aconteceria, algo que abalaria nossa relação de um jeito que não pudéssemos mais voltar atrás, do mesmo jeito que muitas coisas já haviam abalado. E talvez insistiríamos de novo, talvez não, mas aconteceria.
Porque nós não sabíamos como lidar com crises, e isso era um fato. Todos nossos problemas poderiam ter sido administrados com conversas honestas e sensíveis demais para nós dois, então as evitamos – eu ter evitado vê-la depois da morte da mãe, a forma como ela mudou, Theo, meu pai e o dela. Tudo pairava sobre nós como uma nuvem, e algo em mim sabia que as coisas estavam fadadas ao fracasso.
Eu tinha medo que o erro fosse meu de novo, mas por Deus, também não queria que ela errasse.
Nossa história não é sobre um amor que perseverou apesar de todas as adversidades. É uma história sobre duas pessoas que desistem com facilidade e não foram feitas uma para outra, mas ainda assim, cometeram o erro de se apaixonar. Ironicamente, todo ser humano gosta de insistir em seus erros.
Sabíamos que não fomos feitos para ficarmos juntos e, no entanto, lá estávamos nós, insistindo.
Apesar de tudo isso, eu adorava acordar na manhã e encarar aquelas pintinhas.
Levantei sem acorda-la e coloquei uma bermuda, pensando na noite anterior agora que estava mais sóbrio, provavelmente com um sorriso de lado idiota no rosto. Depois, sai do quarto e atravessei o corredor até o quarto de Thalia, do lado oposto da casa. Ela estava jogada no puff, acordada, mudando os canais da TV na parede pelo controle, ainda com a roupa da noite anterior.
Antes de subir para o quarto com Teodora, tive que cuidar da minha irmã, que havia bebido champanhe demais para uma adolescente de 15 anos abaixo do peso, e vomitado tudo no jardim. Thalia vomitou mais no banheiro decorado de rosa do quarto dela depois que a encontrei, e depois apagou no puff.
O copo de água e sanduíche que eu havia deixado na penteadeira ao seu lado continuavam intocados, mas ela estava com uma xícara de café na mão, prestes a derrubar tudo no puff cor de rosa peludo. A decoração do quarto da minha irmã quase parecia uma homenagem indireta à Hello Kitty, o que eu nunca entendi se era uma piada.
– Como você está? – Perguntei, encostando no batente da porta.
– Com dor de cabeça. – Ela disse, sem tirar os olhos da TV. – Coloca uma blusa, garoto, está frio.
Eu quase me perguntava se era de propósito o quanto Thalia as vezes fazia lembrar minha mãe, mas ela nunca parecia se dar conta. Isso as vezes me preocupava.
– Sabe que não vou bancar o chato. – Falei. – Então não vou dizer nada, porque você já sabe. Nosso pai não é idiota.
– Eu sei. – Ela me olhou finalmente, sem entusiasmo. – E você tem razão, mas foi sem querer, ok? Só estava animada por voltar. – Thalia se virou para TV outra vez. – Conheci a Teodora, aliás. Ela é bem legal.
Teodora não havia me contado, mas, para ser justo, não tivemos tempo de conversar sobre a festa. Ela continuava dormindo pacificamente no meu quarto, e eu sorri outra vez, agora para minha irmã.
– Sim. – Respondi, simplesmente.
– Nosso pai provavelmente á odeia.
– Sim.
Minha irmã olhou para mim outra vez e deu um sorriso de lado, contente, o que me fez dar uma risada antes de me virar para ir embora – nossas conversas não precisavam de muita verbalidade, o que era minha parte favorita.
– Posso arrumar um namorado também? – Minha irmã perguntou, enquanto eu desencostava da porta.
– De jeito nenhum. – Falei, dessa vez sentindo que um simples "não" era insuficiente.
***
Antes de voltar para o quarto, peguei duas canecas de café na cozinha, esperando que a bebida deixasse minha namorada menos mal-humorada, porque ela sempre acordava assim, embora se recusasse a admitir.
Quando entrei no quarto novamente, no entanto, ela já estava acordada. Deitada na cama entre os travesseiros e lençóis, olhando para porta, uma bunda que parecia ter sido perfeitamente esculpida para mim.
Ela sorriu quando viu as canecas na minha mão, e nada mais importou. Não importava se ela não me contasse que havia conversado com minha irmã, ou se acabaríamos desastrosamente por tudo que deixamos de dizer, ou se eu me casaria com ela um dia – tudo que importava era a serotonina automática que aquele sorriso me trazia.
– Café? – Ela me perguntou, ansiosa.
– Você está muito gostosa. – Falei, ignorando a pergunta conforme fechava a porta.
– Meu Deus, você parece um coelho. – Ela respondeu, se sentando na cama e estendendo a mão, preocupada com o café.
Atravessei o quarto e entreguei uma caneca a ela, depois, abri as cortinas e a porta da sacada, me apoiando no batente enquanto bebida meu café, encarando hora a rua tranquila abaixo, hora ela, o sol da manhã batendo em meu rosto. Provavelmente ficaríamos o dia todo assim, ignorando o mundo, dando voltas de carro e assistindo TV, o que parecia pior do que realmente era.
Teodora se deitou na cama e apoiou os cotovelos no lençol para poder mexer no celular, a bunda enrolada entre os lençóis brancos. Sorri para o dia iluminado a minha frente, embora ela não pudesse ver a satisfação em meu rosto, e perguntei:
– Quer namorar comigo, Mason?
Teodora finalmente me encarou, torcendo a boca para não sorrir – outra coisa que eu adorava quando ela fazia, e que ela fazia há muito tempo. Tudo sobre aquela garota me devorava – o jeito que seu nome surgia ocasionalmente em meu cérebro, a forma que cada detalhe dela me devorava lentamente, cada pensamento redirecionado em sua direção.
Eu era um sapo sentado em uma panela com água fervendo, encarando as estrelas nas costas dela.
– Não. – Teodora finalmente respondeu, um sorriso convencido no rosto, o que me fez rir. – Acende um cigarro.
Não importava, eu quase não sentia a água fervendo ao meu redor. Enquanto fazia o que ela pediu e acendia o cigarro, olhando na direção da sua bunda outra vez, o inevitável fim parecia infinitamente distante – uma certeza vaga, como a de que todos morreríamos um dia.
Se eu soubesse o que estava por vir, nunca mais teria deixado aquele quarto.
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consegui entrar pelo pc e configurar o capítulo!! espero q gostem <3
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Amargura
RomanceSEQUÊNCIA DE ACRIMÔNIA. Amargura (s.f): sabor amargo; padecimento moral; aflição, angústia, tristeza; propriedade ou característica de severo, áspero. A definição perfeita do sentimento que fica com o fim de um relacionamento amoroso intenso. Teod...