Os acontecimentos posteriores à ligação com a mãe de Naomi passaram como um borrão na minha própria cabeça.
Principalmente porque estava um pouco bêbada, pouco me lembro da viagem silenciosa e veloz no carro de Dylan até o hospital com Amy e Matthew sentados no banco de trás, a tela do celular iluminando parcialmente o rosto da minha amiga conforme ela tentava ligar para Finn.
Quando finalmente chegamos, Josie, a mãe de Naomi, segurando um cigarro com a mão tremendo levemente na área de fumantes, finalmente explicou o que havia acontecido, ou o que ela achou que era mais importante que eu soubesse primeiro:
— Tentei ligar para você várias vezes. — Ela olhou para Amy como quem pede desculpas. — Não tinha seu contato salvo, querida, e não sei a senha do celular da Naomi.
Algo me dizia que ela sequer se lembrava o nome de Amy, ou a existência de Finn.
— O que aconteceu com ela? — Perguntei, sem me preocupar em explicar que meu celular estava quebrado.
Josie comprimiu os lábios e diminuiu o tom de voz em um quarto. Imediatamente percebi que ela não queria falar o que havia acontecido em voz alta, e esse fato sozinho fez com que meu coração se apertasse.
— Hum... uma pequena overdose. — Ela respirou fundo. — Mas está bem agora, fora de risco. Não sei o que aconteceu, não sei porque ela não estava com vocês. — Ela olhou para nós duas, como se de certa forma aquilo fosse nossa culpa.
Eu sabia de quem era a culpa de verdade, é claro. A única pessoa que qualquer um de nós conhecia poderia fornecer esse tipo de droga para Naomi, o diabo de cabelos loiros que uma vez também havia sido minha válvula de escape da realidade.
— Ela está descansando agora, vai demorar um pouco para acordar. — Josie apagou o cigarro no cinzeiro em cima da precária mesinha de centro do local, e se virou para mim outra vez: — Preciso ir para casa tomar um banho e trocar de roupa. Pode ficar aqui até eu voltar?
Assim que respondi que sim, a mãe de Naomi ajeitou a blusa vinho prensada que usava, pegou sua bolsa branca de marca e me deu um abraço rápido, impessoal, conforme falava com uma certeza inabalada:
— Ela vai ficar bem.
Ela foi embora rapidamente depois disso, ignorando completamente Amy ou qualquer um dos meninos. Após sua saída, tudo que pudemos fazer foi caminhar em silêncio até a sala de espera do local e nos sentar apaticamente nos banquinhos azuis nada aconchegantes distribuídos pelo local, nos sentindo completamente derrotados.
***
Finn chegou no hospital quando faltava pouco para o amanhecer e muito para que Naomi acordasse. A janela exibia uma madrugada nublada e o que poderia ser indício de um raro dia frio quando meu amigo passou desfilando pelo saguão com uma blusa rosa claro e uma calça jeans branca skinny.
Ele abraçou a mim e a Amy antes de se juntar a nós em silêncio nos banquinhos azuis quase amorfos do local. Finn já sabia o que havia acontecido por causa das prováveis trezentas mensagens enviadas por Amy, então também não falou muito enquanto esperava que Naomi acordasse.
No entanto, no minuto que Dylan se levantou para ir pegar um refrigerante ou ir no banheiro, ou o quer que seja, e virou a esquina do saguão, Finn se sentou no local vago que meu namorado ocupava.
— Eu estava com Theo. — Ele admitiu, quase como se estivesse confessando um pecado. — Isso tudo acontecendo com Naomi, e eu com o celular no modo avião porque estava com Theo.
Por mais que fosse uma confissão calorosa, o fato de Finn estar com Theo não me chocava nem um pouco. Apesar de odiar Theo por causa de tudo que tinha acontecido entre nós, eu não podia julgar meu amigo por não conseguir superar a paixão que sentia pelo garoto.
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Amargura
RomanceSEQUÊNCIA DE ACRIMÔNIA. Amargura (s.f): sabor amargo; padecimento moral; aflição, angústia, tristeza; propriedade ou característica de severo, áspero. A definição perfeita do sentimento que fica com o fim de um relacionamento amoroso intenso. Teod...