1 - Início do fim

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Apesar da luz ruim e instável, daquela distância, eu conseguia enxergar todos os pequenos detalhes de seu rosto. O cabelo castanho bem cortado, o nariz fino e quadrado, a sobrancelha levemente arqueada, a barba por fazer escondendo a covinha na bochecha e o dente da frente esquerdo milimetricamente cerrado conforme ele sorria na minha direção. Ele tinha um copo de bebida na mão e um cigarro atrás da orelha, os olhos azuis parados em mim, me encarando a metros de distância, me chamando em silêncio.

Todas as outras pessoas do lugar se tornavam pateticamente irrelevantes quando ele me lançava aquele sorriso.

Até que as luzes se apagaram outra vez, e tudo que eu vi no lugar dele, durante um longo segundo, foi escuridão. Tudo desapareceu, e eu podia sentir todas as pessoas ao meu redor naquele breu completo antes que as luzes se acendessem novamente, acompanhando a batida descompensada do meu coração, que parecia mais alta que a música.

– Você e Dylan podem por favor parar de se encarar desse jeito? – Amy perguntou, me forçando a voltar a realidade. – Estou em sentindo de vela e o garoto está a quinze metros de distância de nós.

Sorri para ela e virei meu copo de vodca com refrigerante na boca como resposta.

Nós estávamos em uma boate no centro da cidade, que tínhamos conseguido entrar mesmo sendo menores de idade graças ao meu namorado influente e rico. Dylan estava com os amigos do outro lado da pista, conversando e me lançando olhares ocasionais como se compartilhasse uma piada única comigo, porque era mesmo uma espécie de piada que estivéssemos namorando; mas no momento, tirando o copo vazio, eu não tinha muito do que reclamar.

Enquanto isso, Naomi e Finn dividiam a pista de dança com outros jovens bêbados, dançando ao som de músicas eletrônicas com batidas viciantes enquanto as luzes piscavam no ritmo e Amy reclamava de sua solidão ao meu lado, bebericando uma cerveja que provavelmente já tinha ficado quente.

Nós duas estávamos de pé em uma mesinha alta sem cadeiras, feitas para apoiar copos e garrafas de bebida. O que me lembrava: eu precisava de outra bebida.

– Estou tão solteira. – Amy choramingou. – Nunca estive tão solteira.

– Por que você diz isso como se fosse algo ruim? – Perguntei, franzindo a testa. Depois repeti, animada: – Você está solteira! Você nunca esteve tão solteira! – Então, coloquei as duas mãos na boca e gritei: – AMY DEMORI NUNCA ESTEVE TÃO SOLTEIRA!

Amy riu pelo que parecia ser a primeira vez na noite e me deu um empurrão de leve, o que, considerando meu nível de álcool no sangue, quase me fez cair para trás, e ela logo me segurou.

– Meu Deus, Teodora.

– Aproveita, Amy, você nunca esteve tão solteira. – Falei, sem me deixar abalar pelo desequilíbrio. – Vai dançar, beije um desconhecido, encontre alguém engraçado, faça amizades, tenha um caso de uma noite só. Entre pelada no mar! Beije uma garota! Use drogas! – Então, me apoiei na mesa e apontei um dedo em sua direção: – Mas nada que eu não usaria.

– E você? – Ela perguntou, tentada pelo meu discurso.

– Vou pegar outra bebida. Encontro você na pista de dança. – Assegurei, embora ambas soubéssemos que eu não iria voltar tão cedo.

Empurrei as pessoas, abrindo meu caminho a força em direção ao bar no canto direito da boate enquanto Amy seguia na direção oposta para dançar, e fiz meu pedido a um dos atendentes assim que cheguei. Como se fossemos ligados por energia, eu pude sentir a presença de Dylan antes que ele sequer dissesse algo, sussurrando no meu ouvido:

– Ei, princesa, você tem namorado?

– Sim. – Respondi, me virando para ele com um sorriso no rosto: – Mas ele é meio babaca.

AmarguraOnde histórias criam vida. Descubra agora