5 - Nostalgia

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– Au. – Dylan reclamou, fazendo uma careta. – Isso dói.

– Bem feito. – Respondi, sem me abalar.

O sol já começava a nascer, pintando o céu de cores claras que contrastavam com o oceano agitado a nossa frente. A única coisa que eu encarava, no entanto, era uma camisa branca e velha molhada de vodca que havia achado no banco de trás do carro de Dylan e seu nariz ensanguentado, conforme eu o limpava, concentrada, sentada em uma das mesas de xadrez da orla.

– Pare de se mexer. – Reclamei, irritada.

Pouco depois de xingar Dylan com todos os nomes ruins que eu era familiar na língua portuguesa, Amy me mandou uma mensagem avisando que ela e Matthew haviam pegado um táxi sozinhos para casa, o que fez com que eu e meu namorado entrássemos em seu carro em silêncio até que ele reclamasse da dor no nariz, e eu decidisse deixar de lado nossa briga para bancar a enfermeira na orla da praia conforme o dia chegava, contra todas as expectativas.

Eu e ele havíamos planejado uma viagem pela manhã e, por causa da minha fraqueza para ir embora cedo de festas e seu temperamento explosivo, agora tudo estava arruinado.

– A culpa foi sua. – Dylan resmungou, e eu imediatamente afastei a camiseta com álcool de seu rosto.

– O que disse? – Perguntei, incrédula, encarando sua face. – Você se mete em uma briga e a culpa é minha?

Mesmo com o nariz levemente arrebentado e sujo de sangue, conforme o sol nascia, Dylan parecia bonito. Ele continuou parecendo bonito conforme arqueou uma sobrancelha em minha direção, pronto para dizer algo que eu não gostaria de ouvir, e eu me odiei um pouco por reparar em sua beleza diante ao cenário horrendo que nos encontrávamos.

– Eu só me meti em uma briga por causa de você.

– Eu te pedi para fazer isso? – Perguntei, e, antes que ele pudesse completar, respondi: – Então não foi por causa de mim.

Dylan fechou a cara:

– Acho que da próxima vez vou me certificar que você não transou com o cara antes de bater nele, se não foi por causa de você.

Joguei a camisa branca em cima da mesa de xadrez vazia, irritada.

– Eu não posso me dar a esse luxo. – Respondi, me levantando. – Já que você transou com a porra da cidade inteira.

– Quer que eu peça desculpas por isso agora? – Ele perguntou, inabalado.

– Quero que você vá para o inferno, Dylan.

Sai andando em direção ao carro, mesmo que ele não fosse meu e que eu sequer soubesse dirigir, só porque não queria mais continuar ali. Antes que eu desse mais de três passos, no entanto, Dylan e seu nariz arrebentado me interceptaram:

– Teodora. Teo. – Ele entrou na minha frente, me impedindo de andar. – Me desculpe. – Quando não respondi, ele segurou meu rosto com as mãos, fazendo com que eu encarasse seus olhos azuis ridiculamente apeladores: – Me desculpe. Fico de mau humor quando quebram meu nariz.

– Não está quebrado. – Resmunguei de volta, tentando desviar seu olhar.

– Não quis descontar em você.

– Eu queria que estivesse quebrado. Você merece a dor de um nariz quebrado.

Então, ele sorriu, sem se abalar pela minha amargura:

– Mereço muito mais que isso.

Não aguentei não sorrir de volta quando disse:

– Posso te chutar?

AmarguraOnde histórias criam vida. Descubra agora