A chegada de Thalia me deu contexto suficiente para terminar de analisar o apartamento. Além da cozinha acoplada à sala, havia uma suíte — local que eu e Dylan já havíamos desvirtuado — e um pequeno terraço (sim, um terraço) que dava vista da cobertura para a praia.
O quarto recebia menos luz natural do que o resto do apartamento, e estava lotado de caixas de papelão da mudança. Além delas, havia apenas uma arara de roupas vazias e a cama king size de Dylan sempre lotada de cobertores e travesseiros brancos que eu reconhecia da mansão dos Chase.
Já o terraço contava com uma churrasqueira acoplada, plantas que estavam ali desde antes de Dylan chegar e que provavelmente não durariam muito tempo depois disso, e uma mesa de plástico preta comum, com um guarda-sol acoplado. Foi na mesa que nos reunimos enquanto apreciamos a vista e devoramos o sorvete de baunilha trago por Thalia, o pôr do sol na praia deixando todo o céu em tons alaranjados.
— Seu pai está envolvido com política? — Perguntei, admirando o terraço enquanto Thalia distribuía o sorvete em potinhos.
— Toda pessoa rica está envolvida com política. — Dylan respondeu, sem sequer levantar os olhos do celular.
— Acho que meus avós não estão.
Dylan levantou os olhos pra mim e arqueou uma sobrancelha, um sorrisinho arrogante nos lábios, o que estranhamente me deixou com tesão.
— Ei. — Protestei, chutando a perna dele debaixo da mesa. — Eu também tenho dinheiro.
— Claro, amor.
— Vocês dois estão estragando todo o meu conceito de romance. — Thalia se intrometeu, sentando na cadeira com um baque. — Por favor, parem.
Conversamos sobre assuntos variados enquanto a luz do céu começava a se dissipar, e eu quase esqueci que Thalia não era uma parte recorrente do meu grupo de amigos. Ela era interessante e divertida como o irmão, embora falasse o dobro.
Dylan parecia contente em nos observar conversando mais do que participar da conversa em si, exceto por alguns dos seus comentários bem colocados entre uma pausa e outra. Enquanto isso, eu devorava minha segunda tigela de sorvete, ao contrário dos Chase, que mal tocaram no pote. Devia ser alguma regra de gente rica que não haviam me passado.
— Como está indo a escola? — Perguntei para Thalia em certo momento.
— Que pergunta de gente velha. — Thalia franziu a testa pra mim, e Dylan riu.
Thalia estava estudando na mesma escola que nós, mas ainda estava no final do seu último ano de Ensino Fundamental. Por termos intervalos em horários diferentes, eu raramente a via pelo território do colégio.
— Se chama tentar criar conversa. — Rebati.
— Você é melhor que isso, Teodora. — Thalia implicou, lambendo a colher já vazia de sorvete.
— A escola está tão ruim assim?
— É um lugar lotado de adolescentes, o que você acha? — Thalia finalmente respondeu, largando a colher no prato, o que fez um barulho mais alto do que ela calculava. — Mas eu tenho amigos. Só queria um namorado.
Dei uma risada, inclinando o corpo para trás e encostando na cadeira. Quando Thalia franziu a testa pra mim, sem entender, eu expliquei:
— Você sabe quem é seu irmão? — Quando ela continuou me encarando com expectativa, completei: — Nenhum garoto do ensino fundamental vai querer namorar a irmã de Dylan Chase.
Dylan levantou os olhos do celular e olhou pra mim como se eu tivesse acabado de revelar um segredo de Estado, mas não me importei — Thalia merecia saber a verdade. Além disso, a irmã de Dylan absorveu a nova informação com uma tranquilidade absurda:
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Amargura
RomanceSEQUÊNCIA DE ACRIMÔNIA. Amargura (s.f): sabor amargo; padecimento moral; aflição, angústia, tristeza; propriedade ou característica de severo, áspero. A definição perfeita do sentimento que fica com o fim de um relacionamento amoroso intenso. Teod...