13.5 - Telepatia

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DYLAN CHASE

Quando acordei na sexta-feira, não sabia que ia dar uma festa.

Foi minha irmã que me convenceu, aparecendo de surpresa no meu apartamento depois da aula. Ela sempre aparecia de surpresa, o que não era exatamente uma característica que eu admirava, mas aprendi a me acostumar.

Assim que eu abri a porta, ela marchou para dentro do apartamento, falando:

— Advinha? Brian Chase acabou de viajar e só volta na terça-feira.

— Que bom?

Thalia jogou sua mochila em cima da bancada e sentou em um dos banquinhos, fazendo tudo muito mais dramaticamente que o necessário. Fechei a porta que ela havia deixado escancarada ao entrar e evitei dar um suspiro. Amava minha irmã, mas estava com sono.

— Hoje é sexta-feira, Dylan. — Thalia continuou. — Por que você não dá uma festa?

— Por que não moro mais com vocês...?

— Aham, como se algum dos "profissionais" da mansão fosse dedurar você pro pai. — Ela fez aspas no ar, se referindo ao modo como meu pai chamava quem trabalhava na mansão.

— Ele pode muito bem ter pedido para fazerem isso.

— É claro que não pediu. — Ela olhou pro teto: — Ele mal fala com a gente, que dirá com quem trabalha na casa.

Coloquei as mãos no balcão, de frente para minha irmã, e tentei pensar em algum outro argumento, mas não tinha nenhum. Por causa da ordem de restrição, Teodora e eu estávamos evitando festas há semanas, mas isso não seria um problema na minha própria casa... Bem, minha por direito.

Além do mais, eu não tinha nenhum outro plano para sexta-feira. Pretendia passar meu final de semana trancado no apartamento, bebendo cerveja e jogando vídeo game chapado, ou fazer isso na casa de algum amigo que morasse perto.

Minha irmã percebeu a deixa no silêncio que seguiu o que disse, e aproveitou para argumentar ainda mais ao seu próprio favor:

— Você sempre me falou das suas festas e eu nunca pude ir porque estava do outro lado do planeta.  — Ela deu a volta no balcão, me abraçou contra minha própria vontade, sorrindo: — Por favor! Você não vai querer que eu dê uma festa sozinha.

— Ninguém em sã consciência venderia bebida para você.

— Isso é um sim?

Quando suspirei em resposta, Thalia me abraçou mais forte e saiu comemorando pela sala, como se isso fosse tudo que ela precisasse para minha confirmação.

O pior de tudo é que ela tinha razão — foi aquele o momento que marcou a mudança de planos da minha sexta.

***

Organizar festas era cansativo e frustrante, visto que essa tarefa visava um esforço que ninguém nunca reconhecia — as pessoas simplesmente apareciam na sua casa, ficavam bêbadas, vomitavam no banheiro, danificavam a decoração e iam embora esperando um agradecimento da sua parte.

Eu sempre preferi ser convidado para festas do que ter que organizá-las, para poder ficar bêbado em paz e ouvir "obrigado por vir" quando fosse embora, mas esse era um luxo do passado. Além disso, Thalia estava ansiosa demais para viver uma experiência da juventude que não existia para me deixar passar a tarde dormindo.

Chamei dois dos meus amigos do colégio para ajudar na organização da festa, Matthew e K. Nós ficamos com o trabalho adulto (comprar bebidas) e Thalia ficou responsável pela administração (garantir que os empregados fizessem o que ela mandasse).

AmarguraOnde histórias criam vida. Descubra agora