9 - Jogo de interesses

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Nas semanas seguintes, foquei todos os meus esforços em tentar lidar de forma branda com os últimos acontecimentos, tentando não cair no mesmo espiral de autodestruição e distração que eu havia me lançado por tanto tempo após a morte da minha mãe.

Por isso, decidi aproveitar que não estava conversando com minha melhor amiga e que não tinha mais um celular para focar um pouco nos estudos. O final do ano estava chegando cada vez mais rápido, e eu ainda não tinha a menor ideia do que faria depois da escola, ou se ia passar de ano, e não costumava me preocupar muito com isso – o que eu sabia que era um erro.

Meus avós também não pareciam muito preocupados com meu futuro, o que eu considerava como um bom sinal – com o ano conturbado que tive, levando em conta o assassinato da minha mãe e o reaparecimento do meu pai, acredito que eles estavam me dando uma certa folga, assim como deram à Jonah.

Agora que meu primo estava focado em entrar em uma faculdade no próximo semestre, acho que era minha vez de passar um tempo sem precisar me preocupar com os estudos, o que era ótimo, porque eu sequer tinha alguma ideia da faculdade que gostaria de cursar – só tinha certeza que não seria nada relacionado com cálculos.

Nesse meio tempo, encontrei com Dylan na escola e, uma vez, no Taipan, mas fora isso, também estávamos meio afastados. No entanto, quando outro sábado a noite chegou, uma noite linda de lua cheia e céu sem nuvens com brisa fresca, eu estava animada demais para conseguir ficar em casa encarando meus livros de física, então, decidi usar o telefone antigo da sala de estar para ligar para o meu namorado, que atendeu no quarto toque:

– Alô?

– Oi. – Respondi, simplesmente, enquanto me sentava no sofá branco da minha avó.

– Quem é?

– Adivinha. – Brinquei. – Não reconhece minha voz?

– Já falei para não ligar para esse celular, minha namorada pode ver.

Franzi a testa, confusa:

– ...Dylan?

Dylan soltou uma gargalhada sonora, e eu revirei os olhos quando ele disse:

– Estou brincando, Teo. Tenho o número da sua casa salvo.

– Como você tem o número da minha casa salvo?

– Sou um namorado atencioso. – Ele respondeu, debochado. – E quero evitar te confundir com a minha amante.

Dei uma risadinha, contente por ouvir sua voz, e nós ficamos em silêncio por um segundo, antes que ele dissesse:

– Você está bem?

Ele me dava carona da escola para casa e nós costumávamos passar o intervalo juntos, principalmente agora que eu estava brigada com Naomi, e a nossa relação, para todos os efeitos, continuava a mesma.

No entanto, eu estava evitando tocar em assuntos sérios, e sequer havia contado para ele sobre a conversa com meu pai, porque precisava de um tempo sozinha para digerir tudo. Mas o tempo era meu amigo, e como já haviam algumas semanas desde toda a situação com Thomas, eu estava começando a me sentir normal outra vez.

Os sonhos em relação ao que acontecera já estavam desaparecendo, e eu conseguia sentir que estava começando a me curar e, principalmente, esquecer sobre o assunto. Fiquei orgulhosa de mim mesma por conseguir lidar com isso da forma menos apocalíptica possível, mesmo que isso significasse afastar aqueles que eu amava por um tempo determinado.

Não queria mais saber da existência de Thomas nem se ele virasse o próximo presidente do país, e estava decidida a evitar qualquer lugar que ele tivesse a mínima possibilidade de estar, mesmo que isso significasse perder qualquer festa, porque ainda não saberia como reagir caso o visse novamente.

AmarguraOnde histórias criam vida. Descubra agora