A Disforme - Filhos do Sol e das Estrelas

Capítulo 29 - Para o alto e avante!

Noite passada arrumei minhas malas. Estava decidida a aproveitar a viagem porque era a primeira vez que faria uma viagem grandiosa como aquela. Aproveitaria por mim e por Calina, como minha amiga havia pedido. Além disso, poderia ficar bem mais tranquila porque Vince não estaria por lá.

Passei boa parte da noite arrumando minhas malas e me preparando para a manhã seguinte. Hayden fazia o mesmo em sua torre. De vez em quando espiava pela janela do meu quarto e olhava para sua torre. Muitas coisas estavam me inquietando há algum tempo e eu tentava não pensar muito nelas, mas cada dia que passava, elas me incomodavam.

As tensões entre o rei e a rainha, a pessoa misteriosa que invadia meu quarto e que possivelmente deixou para mim a carta de Teresca, os segredos que Teresca estava guardando, o embuste do Vince e agora o que também me afligia era Hayden. Não tínhamos um contato diário , mas isso não mudava a relação que havíamos criado. Ele vinha até mim quando sentia vontade e eu me sentia livre para fazer o mesmo. Pelo menos até ouvir sua conversa com Thaliana na sala de música.

Numa de minhas espiadas, passei um tempo um pouco mais longo observando os movimentos de Hayden. Ele levantou o olhar e me pegou observando. Hayden gentilmente acenou e eu retribui o aceno depois voltei minhas atenções para as roupas que deveria colocar na mala.

— Edeline. — falei para mim mesma. — Por que Hayden citou você? Como poderia ele se apaixonar por uma disforme? Talvez eu tenha ouvido errado. Sim. Posso ter ouvido errado. Mas ele claramente disse "Edeline". Ah! E Teresca mesma disse que conversou com ele naquele baile e contou que eu era Madeline, uma prima distante. E ele também me viu como Madeline em Cramber, onde fomos devidamente apresentados. Talvez haja outra Edeline na vida dele... Mas se esse fosse o caso ele teria se surpreendido ao ouvir meu nome lá na floresta em Vila D'aurora. Tsc! Realmente não sei o que pensar.

Logo Hayden apagou as luzes de seu aposento. Fiquei um pouco mais de tempo acordada para finalizar minha mala e então também fui dormir. Emese e Verena me acordaram bem cedo para ver se eu precisava de alguma ajuda com as malas. As duas estavam bastante ansiosas por mim. Estavam três vezes mais falantes do que de costume. Até Verena, que costumava ouvir mais do que falar, estava falando pelos cotovelos. As duas pareciam muito felizes, o que me deixou feliz também. Não fazia muito tempo que eu havia chegado ao palácio e me deparado com uma Verena um tanto quanto rebelde e arisca. Ela ainda era a mesma Verena, mas com um brilho mais vívido e um sorriso brotando no rosto. Eu não costumava perguntar muito sobre assuntos pessoais a ela, pois ela era uma moça bastante tímida e reservada quanto a isso, mas não consegui me conter e Emese muito menos.

— Verena, vejo que está tão animada quanto Emese. A que se deve essa animação?

— Oh, senhorita. Várias coisas, várias coisas. — começou Emese, sem pestanejar. A menina deu uma rápida olhada para Verena, que não demonstrou nenhuma objeção, então continuou. — Parece que o pai de Verena conseguiu um trabalho que paga melhor numa cidadela há poucos quilômetros de Ilka. Chama-se Setareh o lugar. Nunca tinha ouvido falar.

— Nem deve ficar falando muito. — alertou Emese, rispidamente. — O lugar é bem pequeno e ao que parece com poucos habitantes. Assim que for dispensada de meus serviços aqui, partirei para lá. Meu pai está trabalhando lá há duas quinas e mandou notícias ontem. Disse que acomodará mamãe e minhas duas irmãs num casebre simples que conseguiu alugar por um bom preço e que posso ir também quando quiser.

— Isso é ótimo, Verena. — falei com felicidade.

— Sim. E há também um outro assunto, sabe, senhorita? — falou Emese, enquanto terminava de pentear meus cabelos. — Mas estou proibida de falar sobre isso.

— Que bom que sabe. — disse Verena.

— Gostam de me deixar curiosa, não é? Pode manter os segredinhos de Verena, mas ao menos me conte os burburinhos que correm entre os criados. — pedi a Emese. — Faz algum tempo que não me contam.