A Disforme - Filhos do Sol e das Estrelas

Capítulo 14 - No ninho de víboras

Minha primeira manhã no palácio como uma competidora oficial do Decorem Electi per Rex foi tranquila, mas não posso dizer o mesmo dos primeiros cinco dias.

Estava formado meu círculo de amizade no concurso. As outras moças eram aceitáveis? Bem, quase todas eram. Penélope me dava nos nervos. Ninguém em todo o reino da Nova Eurásia havia conseguido me irritar tanto quanto ela, nem mesmo Heikki quando implicava comigo ou aprontava alguma. Nos primeiros dois dias eu realmente tentei, dou minha palavra! Mas no terceiro dia simplesmente não pude.

O que aconteceu foi que estava perfeitamente bem tomando um ótimo chá de pêssego e comendo biscoitinhos doces com Calina e Níquel. Lisceha havia recusado o convite de Calina para assistir um jogo de golfe dos rapazes, a verdade era que Calina não queria ficar apreciando as outras moças lançarem olhares para Jordan. Ela não assumia - até porque poderia ser eliminada por isso, já que era contra as regras a formação de um casal durante o concurso -, mas gostava de Jordan desde o baile de inauguração do concurso. Estávamos numa das várias varandas do palácio do primeiro andar. Penélope andava pelo jardim com Thaliana e Vicit. Era fácil distinguir Vicit por seu cabelo curtinho e platinado, e Thaliana tinha o cabelo mais longo de todas nós. Penélope se destacava por sua voz terrivelmente irritante e seu vestido tão rosa quanto os outros.

Quando ouvi a voz de Penélope instintivamente revirei os olhos. Já se tornava um costume. Níquel riu de minha reação.

— Também não gosto dela. — comentou Calina dando mais uma mordida em seu biscoito. — É arrogante demais, aquele dia na banheira aquecida Penélope foi simplesmente mal educada ao fazer aqueles tipos de insinuações.

— Com certeza, mas não ligue para ela, Madeline. Não creio que esse tipo de comportamento permita que ela dure muito tempo na competição. Não é digno de uma boa rainha. — finalizou Níquel.

Apenas concordei com um movimento de cabeça. Penélope e suas companheiras se sentaram logo abaixo de nossa varanda em algumas poltronas de jardim, sem notar que estávamos ali. Isso é importante. Estavam fofocando. Não era de se esperar muito mais, apesar de ter me desapontado um pouco com Vicit porque imaginei que ela fosse um pouco mais séria.

— Vamos embora, não precisamos ficar ouvindo todo esse maldizer. — reclamou Níquel depois de alguns minutos. — Sabe-se lá que tipo de barbaridades elas podem falar sobre nós.

— Ah, espere um pouco Nick. Esse é um momento único. — protestou Calina. — Nunca mais poderemos testemunhar uma conversa dessas najas destiladoras de veneno diretamente do ninho. Madeline, podemos ouvir mais um pouquinho? Pense, saberemos quem, de fato, elas são.

Fiquei em silêncio pensando na ideia. Era errado escutar a conversa dos outros, mamãe dizia sempre. Mas ela claramente dizia que era errado ouvir por trás da porta e eu não estava atrás de nenhuma porta. Além disso, seria bom ouvir sobre o que elas conversavam. Nesses pouco minutos já haviam soltado algumas pérolas sobre Genevieve, que era "doce e meiga demais" e chegava a "beirar a ignorância" segundo Thaliana.

— Ficamos mais um pouco. Acho que uma pessoa que eu conheço teria feito o mesmo. — respondi pensando em Teresca. Por algum motivo eu soube naquele momento que Teresca ficaria para escutar, não apenas por diversão, mas como estratégia. Era bom saber o que os outros viam em você numa competição.

Níquel bufou baixinho, mas se acomodou novamente em sua cadeira. Depois que a pobre Genevieve saiu da pauta, falaram sobre o jeito de andar de Astrade, comparando seus passos aos de uma gazela manca; também falaram sobre a risada estranha de Hierra, que "mais parecia com uma hiena". As três riram até suas barrigas doerem depois dessa piadinha. E então foi a minha vez de ser o alvo das línguas afiadas dessas moças.