Capítulo 7 - Flor e amor

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Voltei ao quarto e escovei os dentes. Ainda faltava algum tempo para a próxima fase da seleção, então decidi dar um passeio pela parte de trás do palácio, a área que eu ainda não conhecia e parecia ser tão misteriosa quanto o resto do lugar.

Quando passei por ali na companhia de Arielrok... Não sei dizer ao certo, mas algo era diferente. Tanto porque o coração das operações da equipe da Guarda de Apolo estava lá, tanto porque eu ainda não havia explorado e parecia ser até maior do que eu imaginava. Para dizer bem a verdade o palácio não parecia ter muito o que ver lá atrás, pelo menos visto de longe, seus jardins frontais chamavam muita atenção e julgando pelo que eu havia visto no dia anterior quando estava voltando depois do pequeno incidente com a multidão a intenção era essa. Tudo o que acontecia nos fundos do castelo era sigiloso talvez? Era pura precaução?

Isso tudo muito me intrigava e já que eu havia ganhado um primeiro voto de confiança da seleção e estava cansada daquele labirinto de corredores que ecoavam meus passos, fui aos jardins. Não saí pela porta principal do palácio porque toda aquela área estava muito movimentada com a chegada dos últimos participantes. Saí numa porta lateral que encontrei.

O dia estava mais quente do que o anterior. A neve que havia caído ontem estava acumulada em alguns pontos do jardim, mas grande parte já havia derretido. O que colaborava muito era que não ventava, então a temperatura baixa era quase confortável. Não parei para admirar as plantas como normalmente faria, andei em direção a minha nova aventura. A sensação me lembrava da vez em que fui com Brooke até a vinícola. Mas dessa vez eu andava sozinha, vestida como uma apolínea e agindo como uma há quilômetros de distância da propriedade dos Klein. Por um momento pensei que fosse chorar, mas não sentia tristeza. Só parecia que eu havia sido arrancada da cama e acordara de supetão num lugar desconhecido.

Continuei andando pelo jardim, contornando o palácio até reconhecer os muros de pedra que cercavam a entrada escondida para os fundos do palácio. Um jardineiro regava algumas plantas perto do muro e cantarolava. Estava tão concentrado que nem notou que eu passava por ali. Continuei a andar na direção do norte, para onde, além dos muros, cresceriam as montanhas. Depois de acompanhar todo o lado do palácio e chegar onde já não havia mais área construída, somente jardim, explorei o lugar sem me preocupar.

O jardim tinha um labirinto de cerca viva. Era da altura da cintura, então dava para ver os caminhos. O labirinto era o que separava o palácio e sua linda varanda cheia de mesas para papear de um pequeno bosque particular. As árvores não eram muito velhas, tinham sido plantadas há alguns anos julgando pelo tamanho de seu tronco, já que eram carvalhos. Atravessei o labirinto em poucos minutos e cheguei a fronteira do bosque. As folhas, apesar do inverno rigoroso da região, estavam nos galhos. E ainda assim o chão estava devidamente iluminado, pois as árvores eram bem espaçadas.

Finalmente, depois de analisar um pouco o bosque, ainda na fronteira, passei por entre a primeira linha de carvalhos. Se bem me lembro, das últimas vezes que estive entre as árvores aconteceram coisas... inesperadas. Mila e todo o caso com o apolíneo Jesse. E, pelos meus ancestrais, quem poderia imaginar que no fim das contas eu estaria em Ilka e Jesse não? Além disso, também descobri que meu tio e Teresca tinham um relacionamento enquanto me escondia atrás de um tronco. Por um momento imaginei que as árvores deviam guardar tantos segredos e tantas histórias quanto gente. E se fossem tão fofoqueiras quanto as moças que trabalhavam na casa dos Klein talvez soubessem de muitas coisas mais. Afinal quem aguentaria viver literalmente plantada num lugar pelo resto da vida? Talvez as histórias pudessem tirar as árvores do tédio e da monotonia.

Conforme atravessava as linhas milimetricamente espaçadas de carvalhos, percebi que ao longe o bosque não era de carvalhos. Eram árvores que eu nunca havia visto antes, e eram belíssimas! Seus troncos eram sinuosos e os galhos mais ainda. Mas o que mais chamava a atenção eram suas copas vermelhas. As árvores estavam floridas em pleno inverno!

A Disforme - Filhos do Sol e das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora