Capítulo 1 - Vista para a cidade

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Nem mesmo o mais louco dos disformes ou o mais calculista dos apolíneos imaginaria isso. Lá estava eu, uma menina de alma disforme, caminhando pelo palácio, guiada e seguida por criados até seu aposento provisório. Disseram que eu poderia escolher qualquer quarto exceto os aposentos reais. Podia ficar o mais perto possível da movimentação ou o mais longe possível se quisesse. Optei por ficar longe. Talvez me isolar não fosse tão inteligente, mas o pedi mesmo assim.

Um ponto positivo de minha escolha foi que pude andar e conhecer melhor o lugar em que ficaria pelo menos o resto do dia. Percorri junto aos criados os enormes e longos corredores e halls do palácio. Ao longo do caminho foram feitas as devidas apresentações. A moça mais jovem se chamava Emese e a mais velha Verena. Elas eram bastante diferentes. Emese tinha um tom pálido na pele e os cabelos eram castanhos levemente avermelhados. Verena era alta e tinha os cabelos louros bem cinzentos. O mordomo que nos guiava tinha um nome bonito, Menescal. Não me disseram os nomes dos homens que carregavam minhas coisas. Imaginei que talvez não tivessem nomes, ou não acharam suficientemente importante me dar essa informação.

Os corredores, assim como o resto do palácio estavam decorados com arranjos de flores, panos e sedas finas. Não era tão necessário enfeitar um lugar que por si só já era adornado desde as fundações, mas como este era um dos lugares mais importantes do reino no momento era de se esperar que os decoradores tivessem bastante trabalho.

Tudo era branco com detalhes em dourado. No teto, os lustres imitavam sóis, com pedaços de metal cuidadosamente contorcido e pedras preciosas amarelas e alaranjadas para dar um efeito de luz. O chão era de mármore branco com reflexos dourados e podia ver meu reflexo nele. Devia ser muito difícil para as criadas manter aquilo tão impecável. O que definitivamente mais me impressionou foi o tamanho e a beleza das janelas. Eram enormes e adornadas com vidro colorido nos cantos. Mosaicos, assim como o que havia na porta da casa de Aurea.

Seguíamos num ritmo agradável. Menescal dava algumas instruções e explicava como seria o dia. Eu e os outros competidores chegados hoje passaríamos pela primeira etapa da seleção hoje. Ele me disse para não me preocupar muito, mas pediu que Emese e Verena, minhas criadas no palácio, me arrumassem bem. Para ser mais precisava ele pediu que me deixassem estonteante.

Depois de seguir pelo braço esquerdo do longo corredor depois do hall, chegamos ao fim e viramos à esquerda. Através das janelas vi o lindo jardim do pátio. Tudo estava coberto por pequenos e tímidos flocos de neve. Parecia não ter nevado muito essa madrugada.

— Podemos ir pelo pátio? — perguntei.

— Fique tranquila, Milady. Terá tempo para passear antes da seleção. Chegou cedo. — assegurou Menescal. Assenti.

Menescal desacelerou até parar. Se virou para mim e levantou um dedo.

— Antes que eu me esqueça: em qual das torres deseja ficar? Temos duas com vista para a cidade e duas com vista para as montanhas.

— Qual sugere? — perguntei, deixando-o surpreso.

Menescal ajeitou o uniforme, pensando um pouco no que responder e por fim disse:

— De dia as montanhas são lindas, à noite a cidade é magnífica.

— Então ficarei numa torre com vista para a cidade. — decidi. A noite seria o pior momento. Provavelmente não conseguiria dormir, então uma boa vista poderia ajudar a me distrair de tudo o que estava acontecendo.

— Como quiser. — disse ele fazendo uma breve reverência antes de se virar e continuar o trajeto.

Continuamos caminhando até chegarmos a metade do corredor e subirmos as escadas para o primeiro piso. Viramos a esquerda e pouco antes de chegar no encontro de dois corredores, Menescal abriu uma porta e seguimos por uma escada caracol, exatamente como eu imaginava que fosse levar até o topo da torre. Havia pequenas janelinhas ao longo a da escada, que impediam que aquele ambiente ficasse abafado.

A Disforme - Filhos do Sol e das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora