Capítulo 10 - Visitas na torre

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Voltei ao salão e conversei um pouco com Johanne e Níquel. Discutimos nossas respostas. Ao que me pareceu a minha resposta foi a menos formal e menos relacionada ao famigerado manual. Eu não havia lido ao menos uma página e Johanne parecia conhecê-lo todo, citando parágrafos e exceções. Níquel por outro lado foi um pouco mais leve em sua resposta, dizendo ao rei que estaria disposta a amar somente se seu par também estivesse, caso contrário permaneceria numa relação estritamente política.

Não poderia dizer que alguma delas estava errada ou certa, cada uma tomou a decisão mais cabível para si e o fato era esse, sem mais. Além disso, de alguma maneira o rei, nosso representante do auge apolíneo na Terra, viu alguma coisa em cada uma de nossas respostas que permitiu que ficássemos mais algum tempo no palácio.

O que estava me incomodando era a conversa com Hayden. Pareceu-me que a rainha deu uma vantagem para os rapazes... Mas para quê isso serviria? Como isso iria ajudar a fazer uma melhor seleção dos competidores? Qual era o propósito disso? E porquê as mulheres deveriam amar e os homens saber as regras de conduta? Aquilo me incomodava de um tanto que não sabia ser possível sentir tamanho incômodo.

Assim que fomos liberados para circular pelo palácio novamente pois todos os competidores eliminados já haviam deixado o lugar fui direto para meu quarto. Encontrei Emese e Verena. As duas conversavam tão distraidamente que mal notaram minha chegada.

— São incríveis, tão únicos e, apesar de não conhecê-la tão bem, sei que se encaixam perfeitamente com o gosto dela. — dizia Emese.

—De quem estão falando? — perguntei, surpreendendo-as.

Ambas se levantaram do chão rapidamente e fizeram uma reverência.

— Oh, mi-Milad... Senhorita Madeline, falávamos sobre seus vestidos. — gaguejou Emese. Meu coração ficou um pouco apertado ao ver que ela ainda sentia tanto medo de mim.

— Que bom que gostam deles. É como um elogio. Eu mesma os fiz. — contei, mesmo sem medir se era bom saberem disso ou não.

Verena arregalou os olhos de tal maneira que pensei por um instante que poderiam cair. Ficou boquiaberta, sem reação.

— Qual o problema, Verena? Vai me dizer que não posso fazer meus próprios vestidos? Não preciso de alguém para fazê-los se eu mesma consigo perfeitamente. — disse dando de ombros.

— A senhorita me surpreende a cada respirar! — disse Emese. — Hoje acordei pensando se tudo o que aconteceu ontem não era um sonho. Ainda não acredito que a senhorita é real.

— Eu diria que é bom... Até demais. — foi tudo o que Verena comentou. Queria poder contar para elas. Mas não podia. Era um risco que eu não poderia correr.

— Bom, acho que já imaginam porque demorei tanto. — falei, mudando de assunto.

As duas se entreolharam. Emese cruzou os dedos.

— Passei.

Emese ergueu logo os braços, não contendo sua alegria.

— Eu te daria um abraço se pudesse! — disse a menina.

— Você pode. — falei.

Prontamente ela veio em minha direção e apertou os braços ao meu redor. Ela tinha o mesmo tamanho de Brooke, apesar de terem alguns anos de diferença. Mais uma vez minha realidade me atacava à punhaladas. Se deixei algum sinal de lágrima aparecer, não percebi na hora, mas Verena, que tinha os olhos fixos em mim, percebeu. E registrou aquilo em sua memória.

Durante a manhã fiquei em meu quarto com Verena e Emese, conversando. Na realidade a conversa se desenrolava mais com Emese, Verena fazia comentários aqui e ali. Estava muito quieta e parecia acuada. A maior parte do tempo seus olhos estavam distantes. Ignorei isso pois talvez pudesse ser um desses dias em que só queremos sumir da face da Terra.

A Disforme - Filhos do Sol e das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora